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22 outubro 2013

Mais perigo em Fukushima: os riscos da remoção das varetas de combustível

Tanques com água radioativa em Fukushima
Foto da "Nuclear Regulation Authority" do Japão.
A Crise na Unidade 4 de Fukushima exige uma ação global
por Harvey Wasserman*

Estamos perto do que pode ser momento mais perigoso da humanidade desde a Crise dos Mísseis Cubanos.

A empresa proprietária de Fukushima, a Tokyo Electric (Tepco), diz que em novembro eles começarão a tentar remover mais de 1.300 tubos de combustível de um dos tanques que está bastante danificado a cerca de 50 metros do chão. Este tanque está em cima de um prédio muito danificado que está afundando, entortando e pode facilmente cair com algum terremoto ou até mesmo sozinho.

As quase 400 toneladas de combustível naquela piscina podem derramar 15 mil vezes mais radiação do que foi derramada em Hiroshima.

A única coisa certa sobre essa crise é que a Tepco não tem os recursos financeiros ou científicos para lidar com a situação. Nem mesmo o governo japonês. A situação demanda de um esforço mundial coordenado dos melhores cientistas e engenheiros que nossa espécie pode prover.

Foto: Fukushima Blog

Por que isso é tão sério?

Nós já sabemos que milhares de toneladas de água muito contaminada estão vazando de Fukushima desde 2011 e indo direto para o oceano Pacífico. Já foram encontrados cardumes de sardinha com traços de contaminação na costa da Califórnia… E nós devemos esperar coisas muito piores.


A Tepco continua a jogar mais e mais água na região dos três núcleos dos reatores destruídos para de alguma forma mantê-los resfriados. O vapor que sai destes indica que a fissão nuclear pode ainda estar ocorrendo no subsolo. Mas ninguém sabe exatamente onde estes núcleos estão.

Esta água jogada torna-se radioativa ao entrar em contato com o núcleo. Como não pode ser descartada, sua maioria está agora armazenada em milhares de enormes porém frágeis tanques que foram montados com pressa em volta do local. Muitos já estão vazando. Eles podem simplesmente se desmontar no próximo terremoto, liberando milhares de toneladas de veneno permanente no Pacífico.

A água que está sendo jogada no local está prejudicando as bases das estruturas que sobraram, inclusive a do prédio que suporta o tanque de combustível da unidade quatro.

Foto: Fukushima Blog
Mais de 6.000 varas de combustível estão em um tanque apenas a cinquenta metros da unidade quatro. Algumas destas contendo plutônio. O tanque não tem nenhuma contenção extra, está vulnerável à perda do isolamento estrutural, ao colapso de algum prédio próximo, outro terremoto, outra tsunami e mais.

No geral, mais de 11.000 varas de combustível estão espalhadas ao redor da Fukushima. De acordo com o especialista do departamento de energia Robert Alvarez, há cerca de 85 vezes mais césio no local do que o que foi liberado em Chernobyl. Pontos de radioatividade continuam sendo encontrados em todo o Japão. Há indicações de áreas com grande incidência de problemas na tireoide de crianças.

A missão principal é que estas varas de combustível devem sair de alguma forma com segurança deste tanque de combustível do reator quatro o mais rápido possível.

Imagem: Fukushima Blog
Qual o risco que estas varas de combustível apresentam?

O combustível gasto têm de ser mantido de alguma forma debaixo da água. É revestido em uma liga de zircônio que irá entrar em ignição espontaneamente se exposto ao ar. Usado por muito tempo em lâmpadas de flash de câmeras fotográficas, o zircônio queima com uma chama extremamente clara e quente.

Cada bastão emite radiação o suficiente para matar alguém próximo a ela em questão de minutos. A ignição de uma poderia forçar toda a equipe a abandonar o local e deixaria equipamentos elétricos inutilizados.

De acordo com Arnie Gunderson, uma engenheira nuclear com quarenta anos de experiência em uma indústria que fabrica estas varas de combustível, as que estão dentro do reator da unidade quatro estão tortas, danificadas e trincadas ao ponto de quebrarem. As câmeras mostraram quantidades preocupantes de destroços no tanque de combustível, que parece estar bem danificado.

Os desafios de esvaziar este tanque são cientificamente enormes, diz Gundersen. Mas deverá ser feito com 100% de perfeição.

Esquema da superestrutura de recuperação do combustível. - Imagem Fukushima Blog

Se a tentativa falhar, as varas podem ser expostas ao ar e pegar fogo, liberando quantidades horroríficas de radiação na atmosfera. O tanque pode cair no chão, derrubando as varas juntas em uma pilha que poderia ativar a fissão e explodir. O resultado seria uma nuvem radioativa que ameaçaria a segurança e saúde do mundo todo.

Os primeiros vestígios de radiação que Chernobyl emitiu chegaram na Califórnia em dez dias. Os vestígios de Fukushima chegaram em menos de uma semana. Um novo incêndio no tanque de combustível do reator quatro pode derrubar uma corrente contínua de radiação venenosa por séculos.

O embaixador aposentado Mitsuhei Murada diz que se esta operação der errado, “destruiria o ambiente mundial e nossa civilização. Não é ciência astronômica ou se conecta com debates sobre plantas nucleares. Esse é um assunto sobre a sobrevivência humana”.

Nem a Tokyo Electric ou o governo do Japão pode fazer isso sozinho. Não há desculpas para não organizar um esforço em conjunto mundial dos melhores engenheiros e cientistas disponíveis.

O relógio está contando e não podemos evitá-lo. O desfecho de um possível desastre nuclear mundial está quase batendo na porta. Para ajudar, a melhor coisa que você pode fazer é passar esta informação para outras pessoas afim de mobilizar e conscientizar o mundo do perigo que estamos enfrentando e assim pressionar as autoridades a se organizarem.

*Franklin Harvey Wasserman (nascido em 31 de dezembro de 1945) é um jornalista norte-americano, autor, ativista da democracia e defensor de energia renovável . Ele tem sido um estrategista e organizador do movimento anti-nuclear nos Estados Unidos há mais de 30 anos.
 
Mais informações no Fukushima Blog


Contaminação do Oceano Pacífico: Césio-137 foi detectado na água do mar a 1 km de Fukushima
Césio-137 foi detectado na água do mar ao largo de Fukushima pela primeira vez, a 1 km da planta nuclear. A data de amostragem foi de 10/08/2013. A leitura foi de 1,400 Bq/m3.
Desde que começaram as amostragens neste local em 2013/08/14, as medições de Cs-134/137 tinham sido menores do que o nível detectável. Esta é a primeira vez que se mediu nível significativo de Cs-137.


"Jeitinho" japonês  para tentar conter o problema de bombeamento de água
Foto da "Nuclear Regulation Authority" do Japão.
Água de chuva contaminada em Fukushima pode ter chegado ao oceano 
De acordo com a Tokyo Electric Power (Tepco), a água de chuva transbordou das áreas onde estão instalados os tanques de armazenamento de líquidos radioativos.

Tóquio - A operadora da central nuclear de Fukushima informou nesta segunda-feira (21/10) que água de chuva contaminada pode ter alcançado o Oceano Pacífico. A Tokyo Electric Power (Tepco) explicou que a água de chuva transbordou das áreas onde estão instalados os tanques de armazenamento de líquidos.

Até o momento, a quantidade e o grau de contaminação não foram determinados. A central de Fukushima Daiichi contém 400.000 toneladas de água com césio, estrôncio, trítio e outras substâncias radioativas no subsolo ou armazenadas em quase mil depósitos improvisados desde o acidente nuclear de 2011 provocado por um tsunami.

Fonte: Correio Braziliense (com France Presse)

Sem plano B?

Em janeiro de 2012, no Fórum Social Temático em Porto Alegre, Yuko criticou
o governo e a imprensa do Japão que pouco esclareciam a população.
Foto: Cesar Cardia/Amigos da Gonçalo de Carvalho
Este novo problema na central acontece em um mês no qual a unidade registrou diversos erros humanos que causaram fugas maciças de água contaminada e novos vazamentos para o mar. Na mensagem recebida, via Facebook, da eco ativista Yuko Tonopira, ela diz: "sim, é verdade que a remoção das varas de combustível da unidade 4 começará em novembro. Eles só construiram um guindaste para retirar o conjunto de hastes, um por um... um trabalho extremamente perigoso... Eu estou dizendo a minha família para se preparar para sair, se algo der errado na unidade 4. A vida de muitas pessoas dependem do guindaste..."

Monge Yoshihiko Tonohira fala sobre suas ações anti-nucleares
em Porto Alegre, no debate promovido pela AGAPAN em 23 de janeiro de 2012.
Foto: Cesar Cardia/Amigos da Gonçalo de Carvalho

   

11 janeiro 2012

11 de janeiro: Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos


Do Engenheiro Agrônomo Julio Cesar Rech Anhaia:

CATÁSTROFE SILENCIOSA
Somos os alvos biológicos vulneráveis aos venenos agrícolas

“a saúde é [...] a atitude de identificar e de realizar suas aspirações, satisfazer as suas necessidades, mudar e adaptar-se ao seu meio. A saúde é então um recurso da vida quotidiana e não um objetivo de vida. A saúde é um conceito positivo que evidencia os recursos sociais e pessoais, bem como sobre as capacidades físicas” (OMS, 1986).

Ao completar 22 anos do Decreto Federal Nº 98.816, de 11 de janeiro de 1990, que regulamentou primeiramente a Lei dos Agrotóxicos, o grande avanço certamente é a ampliação da consciência da sociedade em torno dos grandes problemas ambientais que ainda é o uso indiscriminado de venenos agrícolas e, precisa ser traduzida em ações pelo poder público.

Nas últimas décadas, o meio ambiente vem sofrendo profundas modificações decorrentes do processo da modernização agrícola. Esta se deu através de políticas dirigidas principalmente ao desenvolvimento das monoculturas destinadas à exportação. Tais políticas se fazem sobre a orientação e interesse do grande capital nacional e internacional. Como decorrência desta atuação do Estado, amparado ainda por legislação que pouco se preocupou e se preocupa, em proteger a saúde ambiental e das populações envolvidas, o ambiente tem sido encarado como uma fonte inesgotável de recursos, com capacidade ilimitada para suportar os despejos químicos e as modificações antrópicas derivadas do processo agrícola.

A população está exposta à grande quantidade de substâncias químicas potencialmente perigosas à saúde, entre estas, estão os venenos agrícolas, utilizados cotidianamente, inclusive nas áreas urbanas.

A poucos anos atrás, várias patologias como câncer, doenças respiratórias, neurológicas, transtornos de conduta e más formações congênitas, eram consideradas doenças de “causas” desconhecidas. Pesquisas na área de Saúde Ambiental, que estudam os impactos do ambiente na saúde humana, vêm revelando o ambiente como fator importante no processo de determinação dessas patologias.

O termo “defensivo agrícola” tem sido empregado por fabricantes, distribuidores, vendedores, técnicos incentivados pelo setor produtivo industrial, que desejam minimizar o reconhecimento de sua nocividade. Até hoje, o setor industrial investe nesta denominação, busca e influencia a política agrícola para o uso intensivo desses venenos. A denominação de “veneno”, de emprego popular, é o mais adequado. O termo agrotóxico é mais ético, honesto e esclarecedor, tanto para agricultores como para consumidores.

O saber leigo tem demonstrado a percepção que o senso comum tem a respeito dos efeitos na saúde humana e dos animais, já que são vitimas diretas da exposição. O termo “remédio“, também popularizado, é empregado, para denominar os venenos de uso doméstico. Independente da denominação que estes venenos recebam, na realidade, são “biocidas” inespecíficos, cuja ação não se restringe ao âmbito de determinadas espécies de pragas, mas atuam sobre todos os organismos vivos, incluindo aí o ser humano em suas estruturas orgânica e funcional.

Se, sobre hipótese alguma os venenos agrícolas põem em risco a saúde humana, como pode ser admitida a utilização colocando em risco de intoxicações consumidores e/ou trabalhadores expostos? 

A exposição direta ocorre quando os venenos agrícolas entram em contato direto com a pele, olhos, boca ou nariz. Os acidentes pela exposição direta ocorrem com os trabalhadores que manuseiam ou aplicam venenos agrícolas. Na NR 31, definem-se ”trabalhadores em exposição direta,” aqueles que manipulam os venenos agrícolas e afins, em qualquer uma das etapas de armazenamento, transporte, preparo aplicação, destinação e descontaminação de equipamentos e vestimentas.

A exposição indireta ocorre quando as pessoas, que não aplicam ou manuseiam venenos agrícolas, entram em contato com plantas, alimentos, roupas ou qualquer outro objeto contaminado. Na NR 31, consideram-se “trabalhadores em exposição indireta”, aqueles que não manipulam diretamente os venenos agrícolas, coadjuvantes e produtos afins, mas circulam e desempenham atividades em áreas vizinhas às locais em que são manipulados produtos em qualquer uma das etapas citadas e ainda, os que desempenham atividades em áreas recém tratadas.

A utilização de venenos agrícolas tem se dado de várias formas, dependendo do ambiente onde é executada a aplicação, ocorrendo no ambiente rural, urbano, no interior de habitações e até em veículos de transporte.

A contaminação por venenos agrícolas deve despertar atenção crescente, devido suas consequências para a saúde humana e a degradação do meio ambiente, causadas por seu uso crescente e inadequado.

Os prejuízos causados pelos venenos agrícolas, por seu uso inadequado, extrapolaram o interesse econômico, ganhando dimensão social, pois ao prejudicarem a saúde humana, demandam verbas públicas e privadas, para os atendimentos médicos hospitalares.

O uso dos venenos agrícolas é caso típico de externalidade negativa, onde um ou mais produtores e/ou aplicadores são as fontes, e um ou mais consumidores e/ou cidadãos são os receptores das externalidades.

Aplicadores de venenos agrícolas utilizam pulverizadores costais manual, geralmente a aplicação é feita na maior parte das vezes sem o uso de “Equipamento de Proteção Individual”.

O uso indiscriminado de venenos agrícolas resulta em níveis severos de poluição ambiental e intoxicação humana, pois grande percentagem dos agricultores, aplicadores, desconhece os riscos a que se expõem e, consequentemente, negligenciam normas básicas de saúde e segurança.

Os lobbies dos fabricantes de venenos agrícolas é tal, a ponto de transferirem sua irresponsabilidade, que a responsabilidade pelas intoxicações é do usuário mal preparado e que a sua educação para o uso adequado é a verdadeira solução para reduzir os riscos.

Os índices de consumo de venenos agrícolas, apresentados como desproporcionais em relação aos índices de produção, demonstram a ineficiência dos atuais sistemas de controle dos venenos agrícolas, dentre estes o receituário agronômico.

Além dos perigos aos seres humanos, nos aspectos ocupacionais, alimentares e de saúde pública, sabe-se que a introdução de agrotóxicos no ambiente pode provocar efeitos indesejáveis, tendo como consequência mudanças no funcionamento do ecossistema afetado.

O uso intensivo de venenos agrícolas aplicados irresponsavelmente, combinado com as monoculturas, destrói a biodiversidade e comprometem os recursos naturais para as presentes e futuras gerações.

Enquanto a comercialização dos venenos agrícolas é relativamente regulamentada e controlada por legislação específica, embora precariamente fiscalizada, os venenos domésticos não contam com o rigor da lei, são livremente comercializados em mercados, comércio informal. Os meios de comunicação, propagandas têm dado a estes, a ideia falsa de inócuos, associando-os à proteção da saúde e do ambiente, utilizando-se de ícones de produtos naturais.

Atentem-se ainda, para o fato de que os diferentes biomas não respondem da mesma forma às ações que sobre eles executamos.

O interesse econômico em vender os venenos agrícolas, produzidos pelas multinacionais e não perder a produção, pelos agricultores, prevalece sobre a preocupação com a saúde, inclusive com a saúde dos consumidores de produtos agrícolas.

A culpa é da vitima, que não teve cuidado, por que tem sangue fraco, porque está exposto desde criança, porque deu azar.

Estamos expostos aos venenos agrícolas, por vias ambientais, em nossas casas, escolas, gramados, jardins, assim como pela alimentação e águas contaminadas, e por vias ocupacionais, durante nossa participação nas atividades laborais.

A precariedade da forma com que, em geral, os venenos agrícolas são utilizados, bem como o uso simultâneo de vários deles, geralmente em grandes quantidades, aponta a existência de risco elevado que pode se tornar, num espaço de tempo curto, até mesmo de uma geração, problemas de gravíssimas consequências para a saúde pública e até para o desenvolvimento nacional.

A ignorância sobre o manejo adequado dos venenos agrícolas e as condições de vida do homem torna os trabalhadores do ramo, grupo prioritário para a implementação urgente de programas, com o objetivo de avaliar o impacto destes venenos sobre a saúde do homem e do ambiente nas diversas regiões, em particular naquelas com intensa atividade agrícola.

O desrespeito às normas de segurança, conhecimentos insuficientes sobre os perigos dos venenos agrícolas, a livre comercialização de produtos altamente tóxicos e a grande pressão comercial por parte das empresas produtoras e distribuidoras constituem as principais causas que levam ao agravamento do quadro.

Ainda a denominada “capina química” urbana, os riscos ocupacionais, ambientais e sanitários sobrepõem-se às suas possíveis vantagens, ainda porque a remoção dos resíduos após a capina são mantidos, e para que tenhamos resultados esperados, em termos de benefícios visuais, ambientais e a saúde pública, terão de ser removidos.

É crime a conduta de utilizar venenos agrícolas, causando poluição, que resultem em danos à saúde humana, que provoquem a mortandade de animais, a destruição da flora.

Tem sido falado e proposto a respeito da melhor proteção do trabalhador rural, diretamente exposto à intoxicação por venenos agrícolas. O mesmo não pode ser dito, quanto à proteção das populações de organismos vivos, em geral, e humanas, em especial, indiretamente expostas por meio da contaminação da água, do solo, de alimentos que contenham níveis perigosos de resíduos de venenos agrícolas, estes estão potencialmente sujeitos a efeitos crônicos de exposição continuada a múltiplos agentes.

A utilização maciça de venenos agrícolas, em grande escala, os efeitos tóxicos não se limitam única e exclusivamente aos alvos a que se destinam, mas apresentam risco à saúde humana e animal, ao meio ambiente.

O monitoramento constante do impacto da utilização de venenos agrícolas na saúde humana e no meio ambiente deve ser o objetivo a ser alcançado.

A falta de políticas efetivas de fiscalização no acompanhamento técnico e no controle dos venenos agrícolas no Brasil, e integrado no mercado globalizado, revela que o parâmetro que interessa aos tomadores de decisão é apenas o da produção. A saúde e o ambiente estão longe de uma atenção adequada.

É importante ressaltar que as ações para evitar os danos à saúde do trabalhador, não tenham como enfoque exclusivo o trabalhador, no sentido de capacitá-lo para cada vez mais utilizar venenos agrícolas, mas principalmente oferecer condições para que o produtor tenha disponíveis alternativas para o controle dos organismos que venham diminuir a produção. Assim, poderia ser carreado maior aporte de recursos, não só para a diminuição da toxicidade dos venenos, mas também a busca de alternativas agroecológicas de produção.

São necessários estudos que avaliem os reais benefícios do uso dos venenos agrícolas, confrontando-os com os resultados obtidos nas alternativas agrícolas não tradicionais, como a agroecologia. Podemos tomar como exemplo estudos importantes realizados por países em desenvolvimento, que incorporam as variáveis ambientais e da saúde humana, no cálculo dos custos do uso dos venenos agrícolas. No Brasil, estudos dessa natureza são incipientes, como o programa específico para a racionalização dos venenos agrícolas.

Esperamos que programas, que representem avanços na agenda da pesquisa brasileira, venham a efetivar as medidas necessárias de uso, manejo e de informação dos venenos agrícolas no campo da saúde.

Como dizia José Lutzemberger (1986):

Antes de incrementar ainda mais os métodos, já demonstradamente insustentáveis da Revolução Verde, deveríamos iniciar uma orientação do caboclo e do colono, do pequeno e do grande agricultor, no sentido de dar-lhes tradição camponesa, a preservação e restituição dos equilíbrios naturais que são controles gratuitos e precisos, em contraposição aos controles indiscriminados e caros da agroquímica.

Julio Cesar Rech Anhaia – Engº Agrº - CREA 49.249
Alegrete-RS, 10 de janeiro de 2012

30 agosto 2011

O veneno está na mesa

Matéria do Brasil de Fato:
O brasileiro come veneno
Cultura
O documentarista Silvio Tendler fala sobre seu filme/denúncia contra os rumos do modelo adotado na agricultura brasileira
01/08/2011
Aline Scarso, da Redação
Silvio Tendler é um especialista em documentar a história brasileira. Já o fez a partir de João Goulart, Juscelino Kubitschek,Carlos Mariguela, Milton Santos, Glauber Rocha e outros nomes importantes. Em seu último documentário, Silvio não define nenhum personagem em particular, mas dá o alerta para uma grave questão que atualmente afeta a vida e a saúde dos brasileiros: o envenenamento a partir dos alimentos.
Em “O veneno está na mesa”, lançado na segunda-feira (25) no Rio de Janeiro, o documentarista mostra que o Brasil está envenenando diariamente sua população a partir do uso abusivo de agrotóxicos nos alimentos. Em um ranking para se envergonhar, o brasileiro é o que mais consome agrotóxico em todo o mundo, sendo 5,2 litros a cada ano por habitante. As consequências, como mostra o documetário, são desastrosas.
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Silvio Tendler diz que o problema está no modelo de desenvolvimento brasileiro. E seu filme, que também é um produto da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, capitaneada por uma dezena de movimentos sociais, nos leva a uma reflexão sobre os rumos desse modelo. Confira.

Brasil de Fato – Você que é um especialista em registrar a história do Brasil, por que resolveu documentar o impacto dos agrotóxicos sobre a agricultura e não um outro tema nacional?
Silvio Tendler – Porque a partir de agora estou querendo discutir o futuro e não mais o passado. Eu tenho todo o respeito pelo passado, adoro os filmes que fiz, adoro minha obra. Aliás, meus filmes não são voltados para o passado, são voltados para uma reflexão que ajuda a construir o presente e, de uma certa forma, o futuro. Mas estou muito preocupado. Na verdade esse filme nasceu de uma conversa minha com [o jornalista e escritor] Eduardo Galeano em Montevidéu [no Uruguai] há uns dois anos atrás, em que discutíamos o mundo, o futuro, a vida. E o Galeano estava muito preocupado porque o Brasil é o país que mais consumia agrotóxico no mundo. O mundo está sendo completamente intoxicado por uma indústria absolutamente desnecessária e gananciosa, cujo único objetivo realmente é ganhar dinheiro. Quer dizer, não tem nenhum sentido para a humanidade que justifique isso que está se fazendo com os seres humanos e a própria terra. A partir daí resolvi trabalhar essa questão. Conversei com o João Pedro Stédile [coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra], e ele disse que estavam preocupados com isso também. Por coincidência, surgiu a Campanha permanente contra os Agrotóxicos, movida por muitas entidades, todas absolutamente muito respeitadas e respeitáveis. Fizemos a parceria e o filme ficou pronto. É um filme que vai ter desdobramentos, porque eu agora quero trabalhar essas questões.
Então seus próximos documentários deverão tratar desse tema?
Pra você ter uma ideia, no contrato inicial desse documentário consta que ele seria feito em 26 minutos, mas é muita coisa pra falar. Então ficou em 50 [minutos]. E as pessoas quando viram o filme, ao invés de me dizerem ‘está muito longo’, disseram ‘está curto, você tem que falar mais’. Quer dizer, tem que discutir outras questões, e aí eu me entusiasmei com essa ideia e estou querendo discutir temas conexos à destruição do planeta por conta de um modelo de desenvolvimento perverso que está sendo adotado. Uma questão para ser discutida de forma urgente, que é conexa a esse filme, é o agronegócio. É o modelo de desenvolvimento brasileiro. Quer dizer, porque colocar os trabalhadores para fora da terra deles para que vivam de forma absolutamente marginal, provocando o inchaço das cidades e a perda de qualidade de vida para todo mundo, já que no espaço onde moravam cinco, vão morar 15? Por que se plantou no Brasil esse modelo que expulsa as pessoas da terra para concentrar a propriedade rural em poucas mãos, esse modelo de desenvolvimento, todo ele mecanizado, industrializado, desempregando mão de obra para que algumas pessoas tenham um lucro absurdo? E tudo está vinculado à exploração predatória da terra. Por que nós temos que desenvolver o mundo, a terra, o Brasil em função do lucro e não dos direitos do homem e da natureza? Essas são as questões que quero discutir.

Você também mostrou que até mesmo os trabalhadores que não foram expulsos do campo estão morrendo por aplicar em agrotóxicos nas plantações. O impacto na saúde desses agricultores é muito grande…
É mais grave que isso. Na verdade, o cara é obrigado a usar o agrotóxico. Se ele não usar o agrotóxico, ele não recebe o crédito do banco. O banco não financia a agricultura sem agrotóxico. Inclusive tem um camponês que fala isso no filme, o Adonai. Ele conta que no dia em que o inspetor do banco vai à plantação verificar se ele comprou os produtos, se você não tiver as notas da semente transgênica, do herbicida, etc, você é obrigado a devolver o dinheiro. Então não é verdade que se dá ao camponês agricultor o direito de dizer ‘não quero plantar transgênico’, ‘não quero trabalhar com herbicidas’, ‘quero trabalhar com agricultura orgânica, natural’. Porque para o banco, a garantia de que a safra vai vingar não é o trabalho do camponês e a sua relação com a terra, são os produtos químicos que são usados para afastar as pestes, afastar pragas. Esse modelo está completamente errado. O camponês não tem nenhum tipo de crédito alternativo, que dê a ele o direito de fazer um outro tipo de agricultura. E aí você deixa as pessoas morrendo como empregadas do agronegócio, como tem o Vanderlei, que é mostrado no filme. Depois de três anos fazendo a tal da mistura dos agrotóxicos, morreu de uma hepatopatia grave. Tem outra senhora de 32 anos que está ficando totalmente paralítica por conta do trabalho dela com agrotóxico na lavoura do fumo.

A impressão que dá é que os brasileiros estão se envenenando sem saber. Você acha que o filme pode contribuir para colocar o assunto em discussão?
Eu acho que a discussão é exatamente essa, a discussão é política. Eu, de uma certa maneira, despolitizei propositadamente o documentário. Eu não queria fazer um discurso em defesa da reforma agrária ou contra o agronegócio para não politizar a questão, para não parecer que, na verdade, a gente não quer comer bem, a gente quer dividir a terra. E são duas coisas que, apesar de conexas, eu não quis abordar. Eu não quis, digamos assustar a classe média. Eu só estou mostrando os malefícios que o agrotóxico provoca na vida da gente para que a classe média se convença que tem que lutar contra os agrotóxicos, que é uma luta que não é individual, é uma luta coletiva e política. Tem muita gente que parte do princípio ‘ah, então já sei, perto da minha casa tem uma feirinha orgânica e eu vou me virar e comer lá’, porque são pessoas que têm maior poder aquisitivo e poderiam comprar. Mas a questão não é essa. A questão é política, porque o agrotóxico está infiltrado no nosso cotidiano, entendeu? Queira você ou não, o agrotóxico chega à sua mesa através do pão, da pizza, do macarrão. O trigo é um trigo transgênico e chega a ser tratado com até oito cargas de pulverizador por ano. Você vai na pizzaria comer uma pizza deliciosa e aquilo ali tem transgênico. O que você está comendo na sua mesa é veneno. Isso independe de você. Hoje nada escapa. Então, ou você vai ser um monge recluso, plantando sua hortinha e sua terrinha, ou se você é uma pessoa que vai ficar exposta a isso e será obrigada a consumir.

Como você avalia o governo Dilma a partir dessa política de isenção fiscal para o uso de agrotóxico no campo brasileiro?
Deixa eu te falar, o governo Dilma está começando agora, não tem nenhum ano, então não dá para responsabilizá-la por essa política. Na verdade esse filme vai servir de alerta para ela também. Muitas das coisas que são ditas no filme, eles [o governo] não têm consciência. Esse filme não é para se vingar de ninguém. É para alertar. Quer dizer, na verdade você mora em Brasília, você está longe do mundo, e alguém diz para você ‘ah, isso é frescura da esquerda, esse problema não existe’, e os relatórios que colocam na sua mesa omitem as pessoas que estão morrendo por lidar diretamente com agrotóxico. [As mortes] vão todas para as vírgulas das estatísticas, entendeu? Acho que está na hora de mostrar que muitas vidas não seriam sacrificadas se a gente partisse para um modelo de agricultura mais humano, mais baseado nos insumos naturais, no manejo da terra, ao invés de intoxicar com veneno os rios, os lagos, os açudes, as pessoas, as crianças que vivem em volta, entendeu? Eu acho que seria ótimo se esse filme chegasse nas mãos da presidenta e ela pudesse tomar consciência desse modelo que nós estamos vivendo e, a partir daí, começasse a mudar as políticas.

No documentário você optou por não falar com as empresas produtoras de agrotóxicos. Essa ideia ficou para um outro documentário?
É porque eu não quis fazer um filme que abrisse uma discussão técnica. Se as empresas reclamarem muito e pedirem para falar, eu ouço. Eu já recebi alguns pedidos e deixei as portas abertas. No Ceará eu filmei um cara que trabalha com gado leiteiro que estava morrendo contaminado por causa de uma empresa vizinha. Eu filmei, a empresa vizinha reclamou e eu deixei a porta aberta, dizendo ‘tudo bem, então vamos trabalhar em breve isso num outro filme’. Se as empresas que manipulam e produzem agrotóxico me chamarem para conversar, eu vou. E vou me basear cientificamente na questão porque eles também são craques em enrolar. Querem comprovar que você está comendo veneno e tudo bem (risos). E eu preciso de subsídios para dizer que não, que aquele veneno não é necessário para a minha vida. Nesse primeiro momento, eu quis botar a discussão na mesa. Algumas pessoas já começaram a me assustar, ‘você vai tomar processo’, mas eu estou na vida para viver. Se o cara quiser me processar por um documentário no qual eu falei a verdade, ele processa pois tem o direito. Agora, eu tenho direito como cineasta, de dizer o que eu penso.

Esse filme será lançado somente no Rio ou em outras capitais também?
Eu estou convidado também para ir para Pernambuco em setembro, mas o filme pode acontecer independente de mim. Esse filme está saindo com o selinho de ‘copie e distribua’. Ele não será vendido. A gente vai fazer algumas cópias e distribuir dentro do sentido de multiplicação, no qual as pessoas recebem as cópias, fazem novas e as distribuem. O ideal é que cada entidade, e são mais de 20 bancando a Campanha, consiga distribuir pelo menos mil unidades. De cara você tem 20 mil cópias para serem distribuídas. E depois nós temos os estudantes, os movimentos sociais e sindicais, os professores. Vai ser uma discussão no Brasil. Temos que levar esse documentário para Brasília, para o Congresso, para a presidenta da República, para o ministro da Agricultura, para o Ibama. Todo mundo tem que ver esse filme.

E a expectativa é boa então?
Sim. Eu sou um otimista. Sempre fui.
Link da matéria original: http://www.brasildefato.com.br/node/6965


02 julho 2011

Agrotóxicos, Desmatamentos, Queimadas, Desertificação e Eucaliptos

Defenda o Código Florestal Brasileiro
Neste trecho do documentário HOME, dirigido pelo fotógrafo Yann Arthus-Bertrand, percebem-se alguns motivos para defender o Código Florestal Brasileiro, ameaçado pelo relatório de Aldo Rebelo (PCdoB/SP) que foi aprovado na Câmara dos Deputados.

O filme tem como objetivo conscientizar sobre problemas ambientais e encorajar o maior numero possível de pessoas a agir.
A humanidade vive há cerca de 200 mil anos no planeta Terra e neste tempo causou distúrbios no equilíbrio construído durante cerca de  4 bilhões de anos. A humanidade tem cerca de 10 anos para tentar reverter o cenário;  tornar-se consciente da extensão da destruição das riquezas da Terra e mudar seus padrões de consumo.

30 junho 2011

"Planet Master" - o jogo destruidor

Descoberto no Blog Diário Gauche:


Planet Master from Juan Falque on Vimeo.
"Los líderes políticos de los países capitalistas toman sus decisiones como si se tratara de un juego sin consecuencias."

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Cortometraje realizado por Juan Falque con la colaboración de varios alumnos de Detrás de la cámara (www.detrasdelacamara.com). Protagonizado por Miriam Cabeza, Olatz Esteban, Mikel Garciarena y Paula Sánchez.

15 agosto 2010