27 dezembro 2011

Somos o que fazemos

"Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos" 
- Eduardo Galeano

 Texto publicado no Blog em 29 de outubro de 2007:

As ruas-túneis de Porto Alegre

Este excelente texto de Amilcar Bettega foi publicado no Terra Magazine em 30 de maio de 2007.
Sua postagem aqui no Blog, foi autorizada pelo autor e pelo Terra Magazine.
As ruas-túneis de Porto Alegre
Quarta, 30 de maio de 2007
Amilcar Bettega
E tem dessas ruas, verdadeiros túneis verdes onde a luz do final da tarde se infiltra por entre as folhas e enche o interior do túnel de um amarelo espesso, carregado de inúmeras partículas de composição desconhecida que dão ao ar o aspecto de uma poeira vegetal descendo sem peso dos galhos das árvores.
De repente você vira numa esquina e se vê na extremidade de um desses túneis. Olhá-lo desse ponto é como ver materializada a imagem da paz. As árvores que crescem nas duas calçadas unem suas copas mais ou menos à altura do terceiro andar dos edifícios - também eles alinhados, mas no exterior do túnel -, criando esse espaço particular protegido da luz direta do sol.
Caminhar no interior de um desses túneis é como entrar num cenário de sonho. Alguma coisa ali escapa do real. As cores não são as mesmas com as quais nos deparamos todos os dias. O amarelo - eu insisto, talvez numa tentativa de melhor apreendê-lo - é denso, quase palpável, uma grande massa gasosa que se forma quando a luz incisiva, cristalina, quase branca do sol passa com esforço através da camada verde de folhas e galhos e cipós que pendem preguiçosamente em alguns pontos.
Mesmo se por acaso faz frio, a sensação que essa luz amarelada transmite é de calor, de algo que envelopa por inteiro cada centímetro quadrado de qualquer corpo, vivo ou não, que se encontre mergulhado em seu interior.
Não tenho dúvida de que as percepções igualmente oníricas do espaço e do tempo no interior do túnel decorrem dessa massa de luz amarelada, o elemento principal do túnel, a sua substância. Quanto mais inclinado estiver o sol lá fora, quanto mais a tarde avança, mais denso será o amarelo, tendendo um pouco para o laranja antes de se evaporar nos dois ou três minutos que precedem o abraço repentino da noite.
Mover-se nesse espaço significa encontrar o ritmo exato da respiração do túnel. Estamos ali como que imersos em algo que não é nem líquido nem gás mas um estado intermediário, um estado que exige lentidão de movimentos e certo recolhimento parecido ao que experimentamos percorrendo a nave de uma imponente catedral. A abóboda de galhos e folhas alonga o espaço para o alto sem interrompê-lo de forma brusca, criando uma espécie de teto difuso, descontínuo porque feito pela superposição de folhas e ramos, mas compacto o suficiente para, primeiro, filtrar a luz que vem do exterior e, segundo, para aprisionar o resíduo dessa filtragem, essa espécie de luz-gás que infla o túnel como um balão comprido ou um imenso pulmão ressoando ruídos urbanos.
Tais ruídos também são particulares ali dentro, chegam também eles filtrados, transformados, isolados, e o resultado é como se ouvíssemos de longe, mas muito longe, os sons da cidade se movimentando logo ali fora, no exterior do túnel.
(O canto dos pássaros, se a hora for essa do fim da tarde ou de manhãzinha, mereceria um extenso parágrafo à parte. Estando em uma posição especial, nem no interior nem no exterior, mas na própria "parede" do túnel, os pássaros vão emitir seu canto que será ouvido diferentemente conforme a posição do ouvinte. Para quem está fora do túnel, o canto chega misturado aos sons agudos, francos e múltiplos que a cidade manifesta a cada batimento do seu coração; enquanto que no interior do túnel este mesmo canto reverbera gravemente, destacado de todo e qualquer outro som, fazendo vibrar as folhas das árvores que, por sua vez, emitem um rumor que é mais visto do que ouvido, no reflexo tremido da luz contra as folhas).
Falamos de uma cápsula, se quiserem, mas não uma cápsula estanque. Ao contrário, tudo ali é permeabilidade, tudo está em diálogo contínuo com o que existe à volta. A cidade, assim como a luz, entra no túnel através dos seus poros, a cidade entra na rua, recolhe-se nesse espaço íntimo, quase sagrado. E a percepção que se tem dela ali dentro é, e não poderia ser diferente, mística. Ali tocamos a sua essência, todo o resto ficou lá fora.
Inclusive o tempo.
Porque parece ser impossível contar o tempo no interior do túnel. Impossível se aperceber da sua passagem, mesmo sendo evidente que ele não está paralisado. Apenas, talvez, seu andamento não seja uniforme, isto é, alguns minutos são mais longos do que outros, uns têm mais do que sessenta segundos outros menos, o que resulta numa marcha temporal que se constrói por saltos: frações de tempo quantitativamente iguais se sucedem gerando períodos que são sentidos como muito longos, intercalados por outros muito curtos, fugazes instantes capazes de abarcar toda uma jornada.
*
Pois de repente você vira numa esquina e se vê na extremidade de uma dessas ruas. Ao fundo, ela se espicha, espremida pela fila de árvores que crescem nas calçadas. Do alto pendem os galhos plenos de verde e as cordas de cipó cobertas de folhas.
Os cipós e a abundância verde deixam claro que estamos perto do trópico. E o amarelo, esse, creio estar relacionado a certa "meridionalidade" na proporção exata para produzir efeitos de ótica rara a partir da mera incidência do sol na copa das árvores.
Onde o sul e o trópico flertam. Porto Alegre está justamente aí. Cheia desses túneis verdes, cheia dessas ruas mágicas cobertas por uma abóboda de folhas e ramos de árvores. Podemos encontrá-las facilmente no Bom Fim, na Floresta, mas também no Moinhos de Vento e até em meio à platitude de São Geraldo.
Basta deixar-se levar. Você vai por uma avenida central, barulhenta, movimentada, e de repente, numa esquina, você olha para o lado e lá está. Então não resta mais nada a fazer senão se enfiar por um desses túneis. Sem saber onde nem quando você vai sair.

Amilcar Bettega é escritor, autor de O vôo da trapezista, Deixe o quarto como está e Os lados do círculo (livro vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira em 2005). Vive em Paris.

Publicação original: Terra Magazine (clique aqui)

22 dezembro 2011

23 anos sem Chico Mendes

No dia 22 de dezembro de 1988 o seringueiro, sindicalista e ativista ambiental Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, foi assassinado em Xapuri, Acre.


Em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa, quando saía de casa para tomar banho. Chico anunciou que seria morto em função de sua intensa luta pela preservação da Amazônia, e buscou proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção.
Após o assassinato de Chico Mendes mais de trinta entidades sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas se juntaram para formar o "Comitê Chico Mendes". Eles exigiam providencias e através de articulação nacional e internacional pressionaram os órgãos oficiais para que o crime fosse punido. Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, responsáveis por sua morte, a 19 anos de prisão. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do INCRA, no interior do Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do Banco da Amazônia sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A falsidade ideológica rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois anos e 8 meses de prisão.
 

 Chico Mendes – Eu Quero Viver (1989)
Direção: Adrian Cowell e Vicente Rios
Duração: 40 minutos
Sinopse: Com registros feitos entre 1985 e 1988, a equipe acompanhou Chico Mendes na organização dos seringueiros em defesa da floresta, no nascimento da Aliança dos Povos da Floresta e na luta pela demarcação das primeiras Reservas Extrativistas na Amazônia. Mostra, ainda, a trama armada para seu assassinato e as repercussões no Brasil e no mundo. 

"No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade."

Texto postado no Blog sobre os 20 anos de morte de Chico Mendes:
http://goncalodecarvalho.blogspot.com/2008/12/20-anos-da-morte-de-chico-mendes.html

20 dezembro 2011

Estudo de Impacto de Vizinhança

Fórum das Entidades na Câmara - Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA
Meio ambiente
Fórum de Entidades propõe emendas ao projeto que trata do EIV
O Fórum de Entidades da Sociedade Civil, da Câmara Municipal de Porto Alegre, reuniu-se nesta terça-feira (20/12) para estudar o Projeto de Lei Complementar Nº 003/11, que institui, no município de Porto Alegre, o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV), nos termos dos artigos 36, 37 e 38 da Lei Federal nº 10.257/2001 – Estatuto da Cidade –, que tramita atualmente na Casa Legislativa. A coordenadora do Fórum e presidente da Câmara, vereadora Sofia Cavedon (PT), está propondo emendas ao projeto.

Em uma das emendas, o Fórum sugere acrescentar novo artigo 14, com a seguinte redação: a proposta de atividade ou de empreendimento somente será examinada se o EIV indicar a ausência de impactos negativos na vizinhança. Consideram-se impactos negativos: a constatação de adensamento populacional incompatível com a estrutura e/ou a infraestrutura do entorno e da vizinhança; a necessidade de complementação de equipamentos urbanos e comunitários; a necessidade de complementação na infraestrutura urbana; o prejuízo à ventilação e à iluminação nos imóveis do entorno; a descaracterização da paisagem urbana, considerando a morfologia urbana e a tipologia edilícia, os bens naturais e o prejuízo à amplitude visual do entorno; a descaracterização ou o prejuízo à visibilidade e ao uso público do patrimônio ambiental, natural e cultural.

Outra emenda propõe dar publicidade ao relatório do EIV e demais instrumentos que o acompanham – simulações, mapas e maquetes eletrônicas, por exemplo  – inclusive por meio de divulgação na página da Secretaria do Planejamento Municipal na internet, os quais ficarão à disposição da sociedade e dos cidadãos interessados para consulta junto ao órgão responsável da administração municipal pelo prazo de 30 dias. 

Conforme Sofia, a proposta visa a garantir o acesso público ao EIV, viabilizando o conhecimento e a compreensão de seu conteúdo, promovendo a participação da sociedade organizada e da população em geral no processo de planejamento, como previsto na Constituição Federal, na Constituição Estadual, na Lei Orgânica de Porto Alegre e no Estatuto da Cidade.

Representantes das entidades integrantes do Fórum e Presidenta da Câmara
Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA
O Fórum, que congrega 93 entidades, foi instituído em 2007 com o objetivo de participar das discussões sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental de Porto Alegre (PDDUA) e foi reativado em novembro deste ano.

Segundo Sofia, o EIV é um instrumento fundamental para o exercício da cidadania e garantia de direitos e se contrapõe à especulação imobiliária predatória. “Por não regulamentar o EIV, determinado pelo Estatuto das Cidades, Porto Alegre tem vivido conflitos constantes entre a aplicação do previsto no Plano Diretor, a intenção dos empreendedores e os direitos e as expectativas da vizinhança. Muitas vezes, os próprios órgãos municipais se manifestam impedidos de mediar esses interesses pela ausência da regulamentação do EIV", destacou Sofia.

Ela lembrou que o EIV é um instrumento de suporte à decisão administrativa no exame e na aprovação de projetos e empreendimentos e de monitoramento da aplicação das normas gerais do regime urbanístico previstas no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA).

Darlene Silveira (reg. prof. 6478)
Assessoria de Imprensa da Presidência

13 dezembro 2011

Tumulto na eleição do novo presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre

Do Jornal do Comércio:
Tumulto no Plenário marca a eleição de Mauro Zacher
12/12/2011
Eleição da Mesa Diretora para a gestão 2012
Foto: Jonathan Heckle/CMPA
O presidente eleito fala ao celular - Foto: Jonathan Heckle/CMPA
A Câmara Municipal de Porto Alegre elegeu ontem os integrantes da Mesa Diretora do próximo ano, que toma posse no dia 2 de janeiro de 2012. A escolha foi feita em sessão pela manhã, no plenário, mas ao invés de um rito protocolar entre os vereadores, o encontro foi tenso: as galerias estiveram lotadas, teve tumulto, invasão de plenário e até agressões.

Houve manifestações de apoiadores e de opositores de Mauro Zacher (PDT), que depois de ter sido confirmado pelo PDT - partido a quem cabe indicar o presidente da Casa, pelo rodízio estabelecido entre as maiores bancadas -, foi aprovado pelos colegas de Legislativo com 33 votos.

Os dois grupos - pró e contra Zacher - levaram faixas e cartazes, para apoiá-lo e criticá-lo, com direito a disputa também em palavras de ordem.

Protestos na eleição da Mesa Diretora para a gestão 2012
Foto: Elson Sempé Pedroso/CMPA

Mesmo assim, a votação seguiu e os outros cargos da Mesa foram aprovados: Haroldo de Souza (PMDB) ficou com a 1ª vice-presidência; Fernanda Melchionna (P-Sol), com a 2ª vice-presidência; Carlos Todeschini (PT), com a 1ª secretaria; Airto Ferronato (PSB), com a 2ª secretaria; e João Carlos Nedel (PP), com a 3ª secretaria.
Assim que os nomes foram definidos a sessão foi encerrada, pois, os ânimos nas galerias estavam bastante exaltados. Mesmo assim, houve invasão do plenário e conflito generalizado.

De um lado, estudantes da Pucrs que integram o Movimento 89 de Junho, de oposição ao DCE, comandado por estudantes ligados ao PDT há duas décadas - Zacher presidiu o Diretório Central na década de 1990. O pedetista recebeu o apoio da atual gestão do DCE da Pucrs e de outros apoiadores do seu partido.

A invasão do plenário foi por parte dos opositores de Zacher. Eles retiraram a presidente da Câmara, Sofia Cavedon (PT), de sua cadeira e ocuparam a mesa do plenário. O grupo foi contido depois de muito empurra-empurra e até agressões. A Guarda Municipal foi chamada e só quando ela chegou o tumulto foi encerrado.

Tumulto na Câmara Municipal - Foto: Jonathan Heckle/CMPA
Estudantes relataram que foram agredidos por seguranças, assessores e até por alguns vereadores. Eles justificaram o protesto porque questionam a indicação para a presidência do Legislativo de um parlamentar indiciado pela Polícia Federal por suspeitas de irregularidades no Programa ProJovem, durante sua gestão na Secretaria Municipal da Juventude. Zacher argumenta que já prestou todos os esclarecimentos sobre o caso, que é inocente e que o assunto - alvo inclusive de uma CPI na Câmara - já está esgotado.

Mauro Zacher foi notícia nacional ao tentar judicialmente que o Google apontasse resultados nas buscas por seu nome:

Vereador do RS pede na Justiça bloqueio de busca com seu nome

Veja abaixo o vídeo com o momento em que o plenário é invadido e a sessão é encerrada. As imagens são da TV Câmara (o áudio foi cortado no momento do tumulto):

04 dezembro 2011

Um exemplo de Montreal

De 23 a 26 de novembro ocorreu em Porto Alegre o X Congresso Mundial da Associação Mundial das Grandes Metrópoles - Metropolis, com o lema "Cidades em Transição". Prometia oferecer uma reflexão nos seguintes temas: Crescimento Urbano, Mobilidade, Governança e Qualidade de Vida e também Sustentabilidade e Inovação.

Apenas no dia  25, foi possível comparecer a um painel. Foi no Palácio do Ministério Público do Rio Grande do Sul e tratava de Sustentabilidade Social e Governança.

Constava no programa oficial:             
Esta sessão foi concebida para oferecer aos tomadores de decisão e profissionais municipais e regionais algumas idéias sobre como melhorar o sistema de Governança Urbana e na implementação de projetos integrados. Além disso, incidirá sobre a possibilidade de transferência de abordagens integradas como as que serão apresentadas.
Local: Palácio do Ministério Público 
Boas-vindas: 
Isabel Matte, Secretária de Planejamento Estratégico, Porto Alegre
Introdução: 
•Lutz Paproth, Divisão de Assuntos Europeus e Internacionais, Departamento do Senado para o Desenvolvimento Urbano, Berlim 
Apresentação: Lutz Paproth
Palestra destacada 1: 
Tim Campbell, Presidente do Urban Age Institut, Cidade de Chevy Chase
Palestra destacada 2:  
Luc Doray, Secretário Geral, Departamento do Participação Pública de Montreal 
Debate
16:00 – 16:15    INTERVALO
Mesa redonda de discussão:
Moderador: Tim Campbell, Presidente do Instituto Urban Age, Cidade de Chevy Chase
Não tinha muita gente no auditório, a grande maioria dos presentes eram estrangeiros e até a  Secretária de Planejamento Estratégico de Porto Alegre, que deveria dar as "Boas-vindas", não compareceu. No mesmo horário estava acontecendo outra sessão do Congresso no Teatro Dante Barone da Assembleia Legislativa, com a presença do prefeito de Barcelona sobre Inovação Urbana

Após a abertura dos trabalhos, onde foi apresentado por Lutz Paproth o "manual da Governança Integrada" (produzido pela prefeitura de Berlim), uma palestra de Tim Campbell e a melhor de todas que foi sobre o Sistema de Participação Popular em Montreal, Canadá, por Luc Doray, Secretário Geral do Departamento de Consulta Pública de Montreal. 
A palestra de Luc Doray
Luc explicou todo o processo e organização das Consultas Públicas da cidade canadense, inclusive explicando que qualquer empreendimento imobiliário novo ou recuperação de prédios históricos, políticas públicas, revitalização de espaços públicos passam por esse processo. Todo o material é colocado na internet para que seja feita a leitura e/ou download dos documentos e ainda está sujeito a colaborações dos cidadãos que podem participar enviando críticas ou colaborações através do site. Depois disso tudo há um diálogo entre os políticos, poderes públicos e a cidadania para aparar algumas "arestas". 
Um comentário irônico meu: parece que lá no Canadá eles não aceitam a idéia das empresas de construção civil mandarem seus operários para votarem nas demandas dos patrões, especialmente não residindo na cidade. Dificilmente um político canadense faria "vistas grossas" para isso, se eventualmente acontecesse...


A vice-presidente da AGAPAN e integrante da AMBI (Associação dos Moradores do Bairro Ipanema), Sandra Ribeiro, chegou após as palestras iniciais e também acompanhou as apresentações de "cases" de participação popular na Indonésia, Turquia, China, Alemanha e uma fala do representante da entidade paulistana "Nossa São Paulo", que explicou qual o foco de suas atuações e como tentam influenciar o executivo municipal.
Palestra de Tim Campbell, Presidente do Urban Age Institut, Cidade de Chevy Chase
Antes da segunda rodada de palestras aconteceu um intervalo para café onde eu e a Sandra falamos com o representante de Montreal. Uma conversa muito franca e agradável, onde ele fez alguns comentários muito apropriados sobre nossos problemas locais. Como eu tinha feito a revisão da segunda edição do nosso "folder" do Museu das Águas de Porto Alegre na gráfica e tinha um exemplar que já fora revisado, mostrei a ele que gostou muito em saber que era uma proposta que não tinha origem no executivo. Notando seu real interesse ofereci o exemplar a ele que disse que o mostraria em Montreal como exemplo da participação da cidadania de Porto Alegre.
• Hilmar Von Lojewski, Chefe do Departamento
Ministerial de Construção,
Departamento do Senado para Desenvolvimento Urbano, Berlim, Alemanha
• Ratih Hardjono, Assessor do Governador, Jakarta, Indonésia
• Mauricio Pereira, do Movimento "Nossa São Paulo"
• Baris Alen, Dep. Serviços Sociais, Diyarbakir, Turquia
• Zhu Longbin, Programa para o Desenvolvimento
Urbano, GIZ China, Yangzhou
Lutz Paproth, Divisão de Assuntos Europeus e Internacionais, Departamento
do Senado para o Desenvolvimento Urbano, Berlim
Este é o endereço do site da Consulta Pública de Montreal, que causou tão boa impressão na apresentação do Congresso da Rede Metrópolis:

http://ocpm.qc.ca/

Eles fazem "consultas" para assuntos como tratamento de lixo orgânico até sobre a regulamentação de antenas de telecomunicação. Confiram no site!

Claro que também escutam a população sobre alturas de prédios e densidades...

Seria um excelente idéia mandarmos nossos executivos municipais e representantes na Câmara Municipal conhecerem o Sistema de Participação Popular de Montreal,  para aprenderem a escutar a população em assuntos fundamentais que dizem respeito ao futuro de nossa cidade.
Resumindo: a única coisa que realmente valeu a pena assistir no painel do dia 25 foi a apresentação de Montreal, quem sabe um dia aqui também sigamos esse caminho...

Cesar Cardia

22 novembro 2011

Decrescimento

Recebido da Sandra Ribeiro, vice-presidente da AGAPAN:
Decrescimento: ''É preciso deseconomizar o imaginário''
O que realmente conta na vida não é mensurável, por isso vivemos uma “falência da felicidade quantificável”. Por outro lado, “um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito. Quem acredita nisso ou é louco ou é economista”.
Foto: IHU - Instituto Humanitas Unisinos
A crítica radical à economia de Serge Latouche, ele mesmo economista e filósofo, visa a descolonizar o imaginário das “ideologias da sociedade moderna”, como indicadores a exemplo do PIB per capita.
Na noite desta quinta-feira, 21 de novembro, no câmpus de Porto Alegre da Unisinos, Latouche fez a sua primeira conferência dentro do Ciclo de Palestras: Economia de Baixo Carbono. Limites e Possibilidades, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU. Sua fala, intitulada Desenvolvimento Humano, Decrescimento e a Sociedade Convivial, foi comentada posteriormente por Plinio Alexandre Zalewski Vargas, diretor da Secretaria de Governança da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
Nela, o professor de economia da Universidade de Paris XI - Sceaux/Orsay retomou o histórico do seu conceito mais importante: o decrescimento. Seu principal interesse no encontro era apresentar como é possível encontrar, por meio do decrescimento, a "felicidade na frugalidade convivial".
Latouche começou retomando o histórico do “dispositivo” do PIB (produto interno bruto) per capita, que reduziu a felicidade a um indicador econômico. Historicamente, segundo ele, na passagem da felicidade ao PIB, ocorreu uma tripla redução: 1) a felicidade terrestre passou a ser assimilada ao bem-estar material, em sentido físico, palpável; 2) o bem-estar material foi reduzido ao que pode ser avaliado quantitativamente, estatisticamente, aos bens e serviços comercializáveis e consumíveis; 3) a variação da soma dos bens e serviços caracterizaria a diferença entre o PIB e PIL (produto interno líquido ).
Porém, criticou, o PIB só mede a riqueza comercializável, excluindo-se as transações fora do mercado, como os serviços domésticos, o voluntariado, o mercado negro etc. No caso brasileiro, exemplificou Latouche, a destruição da floresta amazônica não é contada no PIB. "O PIB mede os outputs, ou a produção, e não os outcomes, ou os resultados", resumindo. Retomando o ex-presidente dos EUA, Kennedy, Latouche afirmou que o PIB também não inclui a saúde das crianças, a beleza da poesia, a solidez do casamento, a integridade, a inteligência e a sabedoria de um povo. “Mede tudo, menos o que faz com que a vida valha a pena de ser vivida”, resumiu.
Por isso, com o passar do tempo, ao experimentarmos que o consumo não faz a felicidade, vivemos uma crise de valores. Algumas tentativas de superar essa mensurabilidade econômica foram, por exemplo, o Genuine Progress Indicator (Indicador de Progresso Autêntico), proposto pelo economista norte-americano Herman Daly, levando em consideração as perdas causadas, por exemplo, pela poluição e pela degradação do meio ambiente. Outra proposta foi a da ONG New Economics Foundation, que, cruzando os resultados das enquetes das organizações da ONU sobre o que os anglo-saxões chamam de sentimento do bem-estar vivido (satisfação subjetiva, esperança média de vida e pegada ecológica per capita), chegaram a um Happy Planet Index (Índice do Planeta Feliz).
Segundo Latouche, também emergiu novamente uma ideia de economia civil da felicidade, desenvolvida a partir dos EUA e que tomou um novo curso na Itália. Para o pensador francês, os teóricos dessa corrente reabilitam uma certa forma de sobriedade, unindo-se a outros movimentos, como o do decrescimento. Mas – e essa é também a sua crítica – veiculam uma certa ambiguidade, deixando sobreviver o “corpo moribundo” daquilo que pretendem destruir: ou seja, uma mentalidade que tudo calcula. Abolindo a fronteira entre o econômico e o não econômico, afirmou Latouche, a teoria da economia civil deixa o caminho aberto a uma forma de pane da economização de tudo, que já estava na ideia de Malthus, tentando incluir dentro dos cálculos o que é incalculável.
Foto: IHU - Instituto Humanitas Unisinos

Crise de valores
Em síntese, o que essas tentativas demonstram, afirmou Latouche, é que “a sociedade dita desenvolvida, da opulência, se baseia em uma produção massiva, mas também em uma perda de valores”. Assim, retomando um conceito caro a um teólogo amigo seu, Raimon Panikkar, é necessária uma metanoia, ou seja, questionar profundamente o mito do progresso indefinido. É preciso “resistir ao imperialismo da economia para reencontrar o social”. “O que realmente conta na vida não se mede”, sintetiza Latouche.
Portanto, como encontrar a felicidade dentro da frugalidade convivial? Para isso, Latouche reatualiza a intuição do teólogo Ivan Illich, ainda dos anos 1970, do termo convivialidade, que, de certa forma, encontra-se em sintonia com a proposta andina do bem-viver (sumak kawsay), que, afirma, “tem mais coerência do que os economistas, que tentam medir o que não é mensurável”.
Felicidade, para Latouche, é a “abundância frugal em uma sociedade solidária”. Uma prosperidade sem objetivo, uma sobriedade voluntária, segundo Illich. “O projeto de decrescimento que queremos – slogan para marcar uma ruptura com essa lógica do “sempre mais”, do crescimento indefinido – é uma saída do ciclo infernal da criação de necessidades e produtos”.
Esse conceito – decrescimento – nasceu em março de 2002, a partir do colóquio da Unesco “Desfazer o desenvolvimento, refazer o mundo”. Foi a última aparição pública de Ivan Illich. Em síntese, contou Latouche, chegou-se à conclusão de que é preciso combater o desenvolvimento sustentável, que é uma contradição em termos, porque o desenvolvimento “nada mais é do que uma transformação qualitativa do crescimento, e um crescimento infinito é incompatível com um mundo finito”, afirmou. “Quem acredita nisso ou é louco ou é economista”.
Futuro sustentável
Se o desenvolvimento é uma “palavra tóxica”, Latouche prefere falar de um “futuro sustentável da vida”. E esse, sim, é possível. Por isso, a proposta do decrescimento é a da autolimitação e simplicidade voluntárias, da abundância frugal, da reabilitação do espírito da doação e da promoção da convivialidade. Se na década de 1960 se falava de círculos virtuosos do crescimento, é necessário um círculo virtuoso do decrescimento. Uma “mudança de software”, ilustra Latouche, uma mudança “daquilo que os marxistas chamavam de superestrutura, que leva a uma mudança da infraestrutura”.
E ele propõe, para isso, oito passos:
  1. reavaliar
  2. reconceitualizar
  3. reestruturar
  4. realocar
  5. redistribuir
  6. reduzir
  7. reutilizar
  8. reciclar
Assim, será possível sair do paradigma que nos dominou há dois séculos, o “paradigma da economia”. “Tendemos a ver tudo sob o prisma da economia, que, no entanto, é muito recente e limitado a uma única cultura, uma dentre outras: o Ocidente”. Por isso, para ele, outra contradição em termos é a economia solidária. Em nível teórico, explicou, “é um oximoro, assim como o desenvolvimento sustentável. A economia existente não é solidária, é baseada na avidez, no lucro máximo. Caso contrário, estamos no social, no político, na solidariedade, baseada na lógica da troca, da doação”.
Portanto, sair dessa economicização, para Latouche, é uma conversão ao contrário. “Temos uma relação religiosa com a economia. É preciso nos tornarmos ateus e agnósticos do crescimento. É preciso reencontrar a abundância perdida”. Descolonizar e deseconomizar o imaginário é “redimensionar o papel do econômico no social”, limitar a avidez, limitar o “greed is good” das escolas de administração. É, em suma, reapropriar-se, enquanto sociedade, das três bases do capitalismo: o trabalho, a terra e o dinheiro. “Não é abolir o capitalismo – esclarece Latouche –, é mudar o nosso software, a nossa educação, é possibilitar regulações, hibridações e proposições concretas para chegar à abundância frugal”.
Para ajudar nessa “reformatação”, não basta seguir a “via” do decrescimento. Latouche prefere falar do “tao do decrescimento”, palavra chinesa que, além da dimensão de caminho, percurso, remete também à ética. “Não é possível encontrar a felicidade sem restringir e limitar os nossos desejos – a autolimitação que se encontra nos ameríndios, na África, no passado do Ocidente, no epicurismo. Todas as sabedorias do mundo têm essa ideia fundamental”, explica. É necessário, hoje, dominar o que os gregos consideravam como o perigo por excelência: a hybris, a desmedida.
Aceleração do decrescimento?
Em pleno andamento de um “plano de aceleração do crescimento”, Latouche tem esperança no Brasil. Para ele, o país foi um “precursor do decrescimento”, a partir das propostas nascidas em Porto Alegre, de um outro mundo possível, ou em figuras como Chico Mendes, ou no Manifesto Ecossocialista de Belém, que, segundo Latouche, está bastante próximo das ideias do decrescimento. “O Brasil tem todas as condições favoráveis para uma transição para uma sociedade da abundância frugal”. Para isso, basta superar as condições psicológicas limitadas à colonização do imaginário em torno da economia e do crescimento.
No fim do debate, para os interessados em aprofundar a reflexão, Latouche indicou o site da revista acadêmica Entropia (www.entropia-la-revue.org), dedicada ao estudo do decrescimento, que contém contribuições em francês, inglês, espanhol, italiano e também em português.
A programação do Ciclo de Palestras com a presença de Serge Latouche continua nesta terça-feira com a palestra Por outro modo de consumir: Descrição de algumas experiências alternativas, das 16h às 18h, na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros, no IHU. O restante da programação, que vai até a próxima sexta-feira, dia 25, pode ser conferido aqui.

(Por Moisés Sbardelotto)

Fonte: Instituto Umanitas Unisinos

21 novembro 2011

Veja o vídeo e PENSE bem...

Que legado deixaremos para as gerações futuras?



Posicione-se CONTRA a Usina de Belo Monte!!!
A hidrelétrica iria inundar pelo menos 400.000 hectares da floresta, impactar centenas de quilômetros do Rio Xingu e expulsar mais de 40.000 pessoas, incluindo comunidades indígenas de várias etnias que dependem do Xingu para sua sobrevivência. O projeto de R$30 bilhões é tão economicamente arriscado que o governo precisou usar fundos de pensão e financiamento público para pagar a maior parte do investimento. Apesar de ser a terceira maior hidrelétrica do mundo, ela seria a menos produtiva, gerando apenas 10% da sua capacidade no período da seca, de julho a outubro.

14 novembro 2011

Alô Loulé! FAO pede proteção para a arborização urbana

La FAO demanda protección para los bosques urbanos
3 Octubre 2011 – 5:34am — EFE
Sirven para proteger a los edificios del fuerte viento y las inundaciones y ayudan a ahorrar energía al actuar como barrera, indica la organización en el marco del Día Mundial del Hábitat.
Foto de João Martins, em Loulé, Portugal
Roma • Proteger y gestionar los árboles y bosques situados dentro y alrededor de las ciudades requiere políticas e inversiones orientadas a fortalecer los medios de subsistencia y mejorar el medio ambiente en un mundo cada vez más urbanizado, afirmó hoy la FAO en un comunicado.
Este es el mensaje lanzado con motivo del Día Mundial del Hábitat por la Asociación de Colaboración en materia de Bosques (CPF, por sus siglas en inglés) de la que la Organización de las Naciones Unidas para la Agricultura y la Alimentación (FAO) es miembro.
Con un porcentaje cada vez mayor de la población mundial que vive actualmente en las ciudades y sus alrededores, el CPF ha pedido a los países que presten más atención a la gestión y protección adecuada de los bosques urbanos.
Además de mejorar la calidad de los ambientes urbanos, los bosques en las ciudades también pueden mitigar los impactos de eventos meteorológicos graves.
Sirven para proteger a los edificios del fuerte viento y las inundaciones y ayudan a ahorrar energía al actuar como barrera frente al tiempo caluroso, asegura la nota.
“La aceleración del nivel de las perturbaciones de la naturaleza que afectan a las ciudades, como tormentas, sequías, inundaciones o corrimientos de tierras, nos recuerdan que es de extrema importancia tener capacidad de resistencia ante los desastres y que los árboles desempeñan un papel importante para proteger el ambiente de las ciudades”, señaló el director adjunto de la FAO para Bosques, Eduardo Rojas-Briales.
“Las buenas prácticas en la silvicultura urbana y periurbana pueden contribuir a ciudades con resiliencia en el sentido de la mitigación y adaptación a los efectos del cambio climático”, añadió.
"Arboricídio" em Loulé - Foto: Blog MAC Loulé

Los bosques urbanos también mejoran el bienestar y las condiciones de salud de los ciudadanos ya que refrescan el ambiente, particularmente en las zonas áridas, según la FAO.
“Los árboles y bosques en las ciudades ofrecen a los residentes urbanos valores de recreo y ecológicos muy necesarios, y durante el Año Internacional de los Bosques hemos visto muchos ejemplos de actividades comunitarias en las ciudades, desde la plantación de árboles a excursiones en la naturaleza”, explicó Jan McAlpine, Directora de la Secretaría del Foro de las Naciones Unidas sobre los Bosques.
“Estos cinturones verdes son también un hábitat importante para aves y animales pequeños y crean un oasis de diversidad biológica en un ambiente urbano”, añadió McAlpine.
Además, los árboles urbanos proporcionan servicios de ecosistemas vitales, como la retención y almacenamiento de carbono, y pueden suponer una fuente alternativa de energía, agregó.
Los bosques urbanos también pueden servir de laboratorio vivo para la educación ambiental en las ciudades, ayudando a reducir la brecha entre la población urbana y los bosques, según la nota.
La FAO está ayudando a desarrollar directrices para los responsables de las políticas y la toma de decisiones sobre silvicultura urbana y periurbana, con el objetivo de promover políticas sólidas y destacar las buenas prácticas.
Fonte: MILENIO

Enquanto isso, em Loulé - Portugal:



Leia e veja mais denúncias do incansável João Martins sobre o Abate de Árvores no Concelho de Loulé:

O Blog "A Sombra Verde" também escreve sobre essa barbárie:

Um caso de divã

Abate de árvores em Loulé - Fotografia de João Martins

Em poucos municípios portugueses se terão cortado tantas árvores, nos últimos anos, como em Loulé. Em certos casos com razão, noutros, provavelmente a larga maioria, sem qualquer fundamento técnico. E sempre, ou quase sempre, sem uma explicação para os munícipes, como se cortar árvores fosse sinal de progresso e não tivesse que ser devidamente justificado.

É que mesmo nos casos em que há razão para cortar uma árvore, há sempre, ainda que involuntariamente, uma admissão de culpa. Porque se uma árvore tem que ser cortada por uma degeneração precoce, é porque alguém, a mesma entidade que decide o seu abate, não soube cuidar dela e evitar esse desfecho.

Mais importante do que plantar novas árvores é saber cuidar das que herdámos dos nossos avós: "Os países, como Portugal, preocupados em plantar muitas árvores mas sem a mínima noção de como se cuida delas, são como aqueles pais que têm muitos filhos mas depois não os educam." Blog de Cheiros


P.S. - A denúncia, como sempre, ou quase sempre, é do João Martins. Fazem falta mais pessoas como o João, pessoas que não se calam, pessoas que chateiam quem não gosta de ser incomodado!

Link para o "post" no "A Sombra Verde": http://sombra-verde.blogspot.com/2011/11/um-caso-de-diva.html

10 novembro 2011

Zaffari faz anúncio homenageando a Gonçalo de Carvalho

Grupo Zaffari* veicula anúncio institucional onde declara seu orgulho pelo reconhecimento obtido pela Rua Gonçalo de Carvalho.

Este anúncio foi veiculado no dia 3 de novembro no ZH Moinhos.

Como já foi dito em uma postagem anterior, tudo é uma questão de visão.
Enquanto alguns procuram desqualificar os atos e ações dos que lutam para preservar nossas árvores, outros reconhecem isso e se dizem orgulhosos.
Seria ótimo que o Grupo Zaffari veiculasse mais mensagens que estimulem as pessoas a preservarem nossas árvores.

*O Grupo Zaffari é uma empresa brasileira que possui uma rede de supermercados no Rio Grande do Sul, além de shopping centers, sendo um deles em São Paulo. Dados de 2010 apontam-na como a quinta maior rede de supermercados do país. (Fonte: Wikipédia)

04 novembro 2011

A pergunta fundamental: "em que cidade queremos viver?"

A primeira coisa que eu pensei quando eu vi essas fotos foi: "onde é isso??" E logo a seguir eu vi: Porto Alegre. Aí pensei: "Meu Deus, é no Brasil!"

Um excelente texto da arquiteta e urbanista Helo Barbeiro* no Ensaios Fragmentados, finalizando uma postagem com fotos da rua Gonçalo de Carvalho e texto da reportagem da Folha de São Paulo:

Opinião de Helo Barbeiro pelo Ensaios Fragmentados


A primeira coisa que eu pensei quando eu vi essas fotos foi: "onde é isso??" E logo a seguir eu vi: Porto Alegre. Aí pensei: "Meu Deus, é no Brasil!"

Por que não imaginei de cara que essa rua podia ser no Brasil? Tinha tudo para ser! Não é em qualquer lugar que se cresce árvores incrivelmente altas... Na verdade, uma experiência pessoal me mostrou isso... Nós, brasileiros, estamos acostumados a conviver com essa natureza fora de série, de proporções gigantescas e de tanta variedade! Quando estive na Espanha de intercambio pela Universidade, uma das aulas que eu tive era de paisagismo e quando eu sugeri, em um projeto paisagístico para um terreno de Madri, o plantio de árvores de mais de 15 metros de altura, o professor comentou comigo que isso seria muito pouco provável...

Sim! Pouco provável que um espaço urbano em Madri consiga dar suporte físico e condições ambientais para que se plante uma fileira de árvores densas de mais de 15 metros de altura... E no Brasil, na Rua Gonçalo Carvalho, ou mesmo na pracinha que existe atrás da minha casa em São Paulo, existem árvores muitíssimo mais altas!

Então porque o estranhamento de esta rua ser no Brasil? A resposta parece óbvia, não é? Por que estes espaços sempre saem perdendo quando se deparam com a dura realidade da cidade movida pelo sistema econômico vigente; e desaparecem para dar lugar a incríveis condomínios ou shoppings!

Nem de longe estou promovendo uma mudança do sistema! Não é isso! Mas me parece um absurdo nos deixarmos levar com a maré e aceitar que percamos um patrimônio tão grande e tão rico, que poucos lugares podem promover, para que se possa construir uma cidade genérica e igual a todas as outras, que se vê em qualquer lugar do mundo! Será que estou fazendo uma crítica direta ao Koolhaas? Seria um atrevimento, mas porque não?

Por que não podemos pensar nossas cidades como se elas fossem parte das nossas casas e lutar por elas, como fizeram os amigos da Rua Gonçalo de Carvalho? Quanto tempo mais esperaremos de braços cruzados que a cidade mude de acordo com os interesses de alguns poucos?

Mais uma vez surge a pergunta: Em que cidade queremos viver? Apesar do tom pessimista deste texto, ou deste raciocínio que talvez não tenha se explicado muito bem pela vontade de expressar muitas inquietudes, fico feliz em ver que ainda existem alguns que lutam pela urbe, como os Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho! O importante é pensar que podemos mudar o rumo das coisas e construir a cidade que acreditamos que é melhor, mesmo que nem sempre seja a cidade que gere mais riqueza monetária... Existem outros tipos de riqueza e que, pouco a pouco, vão se afirmando como tão importantes quanto e, muitas vezes, mais necessárias e pelas quais devemos lutar para que construam as cidades de hoje e as do futuro!

Agradecimentos: a minha mãe, Maria Helena, que me mostrou uma matéria sobre essa rua!

Postado por Helo Barbeiro às 10:42 em 23 de outubro de 2011

*Helo Barbeiro - Arquiteta formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, onde participou da Iniciação Científica que se intitulou: Abordagens Recentes da Mobilidade Urbana na Cidade de São Paulo. Depois disso seguiu para um intercambio acadêmico na cidade de Valladolid na Espanha, onde passou seis meses. Para o Trabalho Final de Graduação optou pelo tema “Adensamento e Habitação no Centro: novas moradias para a Luz” que consistiu em uma monografia em que se abordavam questões de adensamento, habitação e sustentabilidade. Ainda, desenvolveu um projeto arquitetônico de unidades habitacionais e centro comercial, como forma de requalificação urbana para a área da Luz, aonde também se estudou as questões de adensamento sustentável. Trabalhou como estagiária em alguns escritórios conhecidos como, Arthur Casas e Triptyque e depois como arquiteta no escritório Cenários Pedagógicos. Atualmente, Helo está morando de novo em Valladolid (ES), pois está cursando um Máster em Desarrollo Regional y Local y Gestión del Territorio na faculdade de Ciências Econômicas.

29 outubro 2011

Não se iludam, a Copa do Mundo é "deles"...

Enquanto em muitas cidades brasileiras, Porto Alegre é um bom exemplo, todos os desmandos e arbitrariedades parecem justificados pela Copa do Mundo de 2014, algumas vozes discordantes não conseguem espaço nos veículos de comunicação.
Aqui em Porto Alegre a Secretaria do Meio Ambiente, por sinal comandada por um ex-dirigente de clube de futebol não por um ambientalista, já orientou os votos da bancada do governo na Câmara Municipal a não votar o projeto que declararia 70 Túneis Verdes da cidade em Áreas de Uso Especial (como é a Gonçalo de Carvalho) por causa da Copa do Mundo. Por causa da "Copa" a Secretaria do Meio Ambiente pediu que não protegessem o Meio Ambiente, isso é incrível!

Esta semana caiu o Ministro dos Esportes por suspeitas de práticas muito pouco esportivas, mas foi substituído por alguém que se notabilizou por ser o autor de alterações ao nosso Código Florestal que trarão danos irreversíveis ao nosso Meio Ambiente, deputado Aldo Rebelo. Curiosamente o ministro que caiu e o que tomou posse são do mesmo partido, PCdoB, que está sendo uma fábrica de políticos especializados em Esportes e Meio Ambiente. A atual secretária estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul, também é ligada ao PCdoB. Isso é extremamente curioso, pois raramente aparece algum ambientalista de verdade atuante em entidades ambientalistas que tenha essa filiação partidária. Na luta pela preservação da Gonçalo de Carvalho percebemos isso claramente...

Mas eventualmente alguma voz mais respeitada e conhecida aparece para conseguir algum espaço novo e isso pode servir para que mais pessoas questionem o que está por trás desse "circo milionário" comandado pela FIFA, CBF e alguns políticos que tentam tirar algum proveito pessoal.
Foi o caso do repórter investigativo escocês Andrew Jennings:


Andrew Jennings pede para Brasil dizer não à Fifa

Presente em audiência pública no Senado Federal nesta quarta-feira, o jornalista britânico Andrew Jennings voltou a atacar o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e outros membros do alto escalão da Fifa. Autor do livro "Jogo Sujo - O Mundo Secreto da Fifa", Jennings disse que a entidade tem todas as características de uma organização criminosa. Segundo ele, dos 187 membros, “a metade são imbecis e a outra metade são criminosos”.

Jennings, em vários momentos, alertou os senadores presentes para a necessidade de dizer “não” ao presidente da Fifa, Joseph Blatter. Para ele, não há chance de o país perder a Copa de 2014 se o fizer. Ele explicou que são apenas cerca de 15 homens mandando em uma nação soberana, que é o Brasil.

– Se deixarem, eles vão realizar o evento e levar o dinheiro. E vocês irão varrer e limpar tudo depois – alertou o jornalista investigativo, que elogiou a meia-entrada para idosos.

Durante o encontro, o senador Mário Couto (PSDB-PA) expressou seu descontentamento com o apoio político que Ricardo Teixeira tem no Congresso, o que, segundo ele, dificulta a realização de qualquer investigação.

– Eu já chamei o Teixeira de ladrão e fui repudiado por alguns colegas aqui. Não vejo diferença entre as palavras corrupto e ladrão. Para mim é a mesma coisa. Mas para tirá-lo é necessário apoio do Congresso. E basta olhar quantos senadores estão presentes nessa audiência e verá o interesse do Congresso em retirar ele do comando da Copa do Mundo. Todos compactuam com ele – lamentou.

Acompanhando o evento estava o lobista da CBF Vandenberg Machado, que passou grande parte do tempo conversando com o senador Delcídio Amaral (PT-MS), defensor da entidade na Casa. Enquanto Jennings apelava para a retirada de comando do mandatário, os dois cochichavam e decretavam: “A CBF e o COL são entidades privadas.” Ou seja, intocáveis.

Jennings propôs a entregar os documentos que possui contra Ricardo Teixeira à Polícia Federal. A PF está concluindo investigação contra o dirigente por evasão de divisas, recebimento de propina e formação de quadrilha.

– Vocês precisam apenas conseguir os contratos feitos pelo Ricardo Teixeira e irão identificar certamente as evidências que procuram para incriminá-lo – avisou.


Vale a pena ver uma entrevista com Andrew Jennings no programa Bola da Vez em 9 de julho de 2011:


O Jornalista da BBC, Andrew Jennings, participou da gravação do programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, que foi ao ar no sábado 09 Jul às 21h - esta é a segunda vez que o jornalista é entrevistado pelo programa.
Autor das reportagens veiculadas na emissora pública inglesa BBC com denúncias contra o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo de 2014, Ricardo Teixeira.

18 outubro 2011

As pessoas mudam.

Os interesses das empresas também mudam?
Esperamos que sim.
Imeginem se um grande estabelecimento com cerca de 400 lojistas estivesse aliado aos vizinhos, na defesa da qualidade de vida e do Meio Ambiente. Juntos não fariam ações memoráveis que trariam impressionantes ganhos para a imagem institucional da empresa?
Certamente que sim.
Defender o direito dos demais, a melhoria da qualidade de vida e a preservação ambiental não trazem prejuízos, todos lucram com isso se forem minimamente responsáveis com o futuro.
Ontem descobrimos que um de nossos adversários na luta pela preservação da Rua Gonçalo de Carvalho lançou um "Concurso de Fotos" tendo por tema a Gonçalo, agora também chamada por eles como "A Rua Mais Bonita do Mundo".
Claro que temos dúvidas sobre a sinceridade de tal afirmação, pois nunca demonstraram algum interesse em ajudar a cuidar da preservação da rua, não responderam a nossos e-mails depois da rua ter sido declarada Patrimônio Histórico, Cultural, Ecológico e Ambiental da cidade de Porto Alegre.
Sabemos que o interesse da administradora do Shopping é apenas ter lucros, alugar espaços onde são vendidos produtos e serviços. Pouco importava se não deixavam os vizinhos dormirem em paz por causa da falta de isolamento acústico para seus equipamentos de ar condicionado, pouco importava se para construirem uam garagem tivessem que comprometer a deslumbrante vegetação da Gonçalo de Carvalho. Mas imaginem se o Shopping fosse administrado pelo Zaffari/Boubon ou Iguatemi? Mesmo que o público deste Shopping seja diferente dos citados, tanto Iguatemi como Zaffari jamais perderiam a oportunidade de aliarem-se aos vizinhos na proteção dessa preciosidade que é o Túnel Verde da Gonçalo.

Por que fariam isso?
Porque eles tem visão. Sabem que as preocupações com qualidade de vida e Meio Ambiente estão presentes na maioria das pessoas com algum conhecimento do que acontece hoje em nosso planeta.
Imaginem algum dos excelentes comerciais institucionais do Zaffari ou do Iguatemi mostrando a beleza das árvores da rua e declarando no final: "nós também somos amigos da Rua Gonçalo de Carvalho, a rua mais bonita do mundo"!
Quanta gente não olharia as árvores de suas ruas com outros olhos...

Mas o Shopping Total tem outra visão de marketing, só se preocupam com suas promoções que entulham as ruas das redondezas com carros, muito barulho, fogos de artifício, aquelas coisas "tosco-americanas".
O "oportunismo" do Shopping
Depois da repercussão em mídia nacional sobre a Gonçalo de Carvalho, olharam para o lado e descobriram que poderiam ter alguma vantagem usando a denominação que a rua ganhou por ter resistido a seus interesses em ter um grande edifício-garagem. Fizeram uma página em seu site dizendo que estão em frente da Rua Mais Bonita do Mundo e agora criaram esse "concurso de fotografias" com prêmios em vale-compras e sem ninguém ligado a fotografia, paisagismo ou artes na "comissão julgadora", apenas pessoas de seu setor de marketing julgarão as fotos apresentadas.
Que pena que eles pensem assim.
Que pena que não seja um Iguatemi ou Bourbon o shopping vizinho.
Será que um dia eles mudam?
Esperemos para ver, mas os indícios não mostram isso.
Deveriam contratar o ex-prefeito Fogaça para executivo ou prestar assessoria. Ele também era favorável ao que pretendiam fazer, mas teve a visão de entender que a prefeitura deveria mudar de posição quando a Fundação OSPA desistiu do empreendimento e teve a honra de ser o primeiro prefeito de uma cidade latino-americana a declarar uma via urbana como Patrimônio Ambiental.
2005 - protesto no acesso ao Shopping Total pela rua Gonçalo de Carvalho.

Enquanto isso a gente fica na torcida que o Zaffari/Bourbon ou Shopping Iguatemi se aliem a todos nós e motivem mais moradores de tantas ruas arborizadas de Porto Alegre a fazerem de suas ruas as ruas mais bonitas do mundo.

15 outubro 2011

Blog Action Day - Comida

Comida barata no Centro Histórico de Porto Alegre
O Tutti Giorni está localizado no Centro Histórico de Porto Alegre, na escadaria do Viaduto Otávio Rocha e serve uma das comidas mais baratas da cidade.
No Tutti Giorni também conhecido como o "Bar do Nani", segundo o próprio Ernani, se come a melhor feijoada da escadaria do Viaduto Otávio Rocha.
Ernani em frente ao Tutti Giorni, antes da reforma do edifício
Essa brincadeira reflete o bom humor do proprietário, o Ernani, pois é o único bar e restaurante da escadaria.
É um dos restaurantes mais "underground" da cidade, serve almoço simples a preços baixos, muito baixos. Seu "prato do dia" custa R$ 6,00 e seu tradicional "carreteiro" é servido no prato com um pouco de feijão e uma salada verde por apenas R$ 1,99. Nas sextas, tinha sua afamada feijoada, simples mais saborosa e que custava apenas R$ 8,00, com um copo de refrigerante grátis. Atualmente a feijoada está suspensa, pois o proprietário diz que dava muito trabalho e a grande procura continua sendo o seu "carreteiro", que pode ser com carne, linguiça ou até salsicha, dependendo da disponibilidade da dispensa do Bar. Carreteiro com charque até pode ser feito, mas o preço do charque impede um custo baixo e sua clientela é fiel ao carreteiro barato com feijão.
Estudantes, operários, trabalhadores com pouca "grana" e mesmo moradores da vizinhança são clientes no Nani, pois além da comida simples e barata o bar tem uma personalidade que o diferencia dos demais bares e restaurantes populares que existem no Centro.
Suas paredes estão cobertas por ilustrações, cartuns e caricaturas (especialmente do bigodudo proprietário) feitas pelos chargistas da cidade que se encontram ali nas noites de terça.
Uma das máximas do Nani está escrita num papel afixado na parede, perto do balcão: "O problema dos outros é fácil de resolver!"
Na realidade é mais que um bar ou restaurante, é uma espécie de "bolicho gaúcho". Lá também se vende queijo da colônia, vinho artesanal e até livros policiais usados. Outra característica interessante do local é que não tem nenhum empregado, no máximo tem alguns "ajudantes", amigos que auxiliam o Ernani nas horas que o movimento fica muito grande. O próprio Ernani faz as compras, é o cozinheiro, atende as mesas, lava as louças, cobra as despesas e limpa o bar. Eventualmente também entrega algum almoço nas proximidades para algum cliente que não pode ir ao bar, neste caso os clientes tomam conta do bar quando ele diz: "vou dar uma saidinha rápida, já tô voltando, cuidem aí..."
A música ambiental do bar é a programação gauchesca da Rádio Liberdade. Mas dizem que de noite, caso insistam, ele arrisca uma música no violão.
Também conhecido como "Gaúcho", o Ernani com sua simpatia e bom humor conquista seus clientes, mesmo quando não acerta a receita e a comida fica um pouco salgada.
Esse é um dos locais de Porto Alegre que a maior parte da população não conhece e fica bem no centro da cidade, pouco mais de uma quadra do Palácio Piratini e Catedral Metropolitana.
Não tem nenhuma identificação externa a não ser uma ou duas placas escritas a mão, na hora do almoço.

(Postado originalmente em 27 de abril de 2008)


# BAD11

09 outubro 2011

A Revolução das Vozes Alternativas

Cidadãos conectados: A Revolução das Vozes Alternativas
Dissertação de mestrado aborda os casos da preservação da "Rua Gonçalo de Carvalho" e do Não ao "Pontal do Estaleiro". 
Manifestação em defesa da Rua Gonçalo de Carvalho - 15/10/2005
Em uma excelente dissertação de mestrado a autora, Claudia Galante*, identifica como as modernas ferramentas de informação e comunicação tiveram papel fundamental em  quatro casos estudados: o Movimento Zapatista, a Noite dos Celulares, a luta pela preservação da Rua Gonçalo de Carvalho e o NÃO ao projeto Pontal do Estaleiro.

Manifestantes com adesivos pedindo NÃO ao projeto Pontal do Estaleiro

Resumo:
As tecnologias da informação e comunicação (TICs) tornaram possível o aparecimento de um ambiente interativo, cooperativo e descentralizado, desenhando perspectivas ousadas nas relações entre pessoas, comunidades e governos. Atualmente, as manifestações sociais, organizadas com o apoio dessas tecnologias, podem se fazer ouvir e ter suas reivindicações atendidas em um ambiente até então permeado por uma mídia de massa vertical, que sempre falou em nome de uma minoria para uma maioria, sem qualquer possibilidade de interação. O uso dessas ferramentas pela sociedade civil traz profundas transformações para a ação coletiva contemporânea, e assim, o objetivo deste trabalho é discutir como, e até que ponto, esta nova realidade possibilitará a participação dos cidadãos nos processos democráticos. Para tanto, buscou-se primeiramente refletir sobre o processo de comunicação e sua relação com a sociedade, como se configura o ciberespaço, as possibilidades por ele oferecidas e suas implicações nos movimentos sociais.
Foram elaborados quatro estudos de caso: “Movimento Zapatista”, “A Noite dos Celulares”, “Rua Gonçalo de Carvalho” e “Pontal do Estaleiro”. Eventos com motivações, contextos, abrangência e formas de atuação bem diferentes, que através de trocas de informação disseminadas no ambiente online foram capazes de mobilizar a adesão dos cidadãos em torno de projetos de interesse comum. Os impactos sociais e políticos dessa comunicação mostram que apesar de restrições estruturais, o uso das tecnologias permite formas inovadoras de exercício da democracia. O trabalho demonstrou que as TICs podem ser pensadas como um “ciberespaço público”, sem no entanto atribuir a sua mera existência a promessa de uma sociedade mais democrática.

Manifestação na Espanha denunciando as Mentiras e Manipulações
Abstrac:
Information and communications technologies (ICT) have allowed the emergence of an interactive, collaborative and decentralized environment, bringing together audacious perspectives in relationships among people, communities and governments. Nowadays, social events organized by ICTs supports have their claims attended in environment that before it was permeated by a vertical mass media. Media which has always spoken on behalf of a minority to a majority, without interaction possibilities. The use of ICTs tools by civil society brings huge changes to the contemporary collective action. Then main challenge of this work is to discuss how and whither this new reality will allow the people participation in democratic processes. For this purpose, we first think about the communication process and their relation with the society. We also consider the way in which the cyberspace is configured, its possibilities and its implications for social movements. 
We have specified four case studies: "Zapatista Movement", “Night of cell phones”, "Gonçalo de Carvalho Street", and "Shipyard Pontal". All this events have motivation, context, scope and ways of acting different once that through information exchanges spread in the online environment allowed mobilize people around projects with common interest. The social and political impacts of this communication have shown that despite structural constraints, the use of new technologies allow innovative ways of exercising democracy. Our work prove that ICTs can be thought as a "public cyberspace”, without assign its mere existence for the promise of the a more democratic society.

Cartaz do Movimento Zapatista


*Claudia Galante é mestre pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na linha de pesquisa Ideologia, Comunicação e Representações Sociais. Especialista em Marketing pela FAE (PR) e graduada em Comunicação Social pela PUC-PR. Atualmente atua no departamento de comunicação social do Instituto Federal da Bahia (IFBA) Campus Camaçari. Tem experiência na área de Comunicação e interesse nos seguintes temas: mídia, democracia, cibercultura e interações. (Lattes)

Para ler ou baixar o trabalho da Claudia Galante (documento em PDF) clicar:
Página da UFRGS ou aqui.