22 junho 2009

Proteção e Preservação do Patrimônio Cultural e Natural da Cidade

Plano Diretor
Proteção e Preservação do Patrimônio Cultural e Natural da Cidade na Relatoria Temática 5

Representantes da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e da Secretaria de Planejamento Municipal (SPM) estiveram reunidos, na manhã desta sexta-feira (19/6) com a Relatoria Temática V, que discute o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental de Porto Alegre (PDDUA) do ponto de vista da Proteção e Preservação do Patrimônio Cultural e Natural da Cidade. O objetivo do encontro foi analisar artigos e propostas que estão na revisão do PDDUA e que são comuns a essas duas secretarias e à Secretaria do Meio Ambiente (Smam), que também foi convidada mas não enviou representante.


Moinhos de Vento

A presença de Paulo Vencato e Raul Agostini, da Associação de Moradores do Bairro Moinhos de Vento, trouxe ao debate a necessidade de preservação da identidade cultural do bairro, ameaçada por projetos que estão em discussão e que destruiriam grande parte dos casarios e prédios históricos da região. Vencato citou, além do estudo feito pela Uniritter sobre áreas de interesse cultural, o laudo assinado pelo arquiteto Carlos Fernando de Moura Delfin, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), afirmando que o bairro Moinhos de Vento é digno de constar no livro de tombos, pela sua peculiaridade.

A associação de moradores teria solicitado diversas audiências com o prefeito Fogaça e o vice José Fortunati, todas sem sucesso. “Se a maior sumidade no assunto assina esse laudo e dez mil pessoas participam de um abaixo-assinado manifestando-se contra o que está sendo pleiteado e projetado para o bairro, não entendemos por que o poder público se nega a enxergar”, disse Vencato, cobrando da prefeitura a abertura de diálogo com a comunidade.

Academia

Gino Gehling, do Instituto de Patrimônio Histórico da Ufrgs, criticou a posição da presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural (Compahc), Rita Chang, acerca do estudo da Uniritter. Ela teria dito, em reunião da Comissão Especial do PDDUA na última quinta-feira (18/6), que o estudo tem características de trabalho acadêmico e não deve ser considerado. “A colocação foi infeliz”, disse Gehling, criticando também a postura do vereador João Antônio Dib (PP), presidente da Comissão, que teria agradecido especialmente à Rita por ela ter esclarecido a todos que o estudo da Uniritter é um trabalho acadêmico. Márcio D’Ávila, da PUCRS, também não concorda com Rita: “quer dizer então que o que produzimos na academia não tem valor?”.

Roberto Luiz Cé, da SPM, diz que o estudo é cem por cento acadêmico, “não se pode manipular e colocar verticalização versus preservação cultural”. Segundo Cé, a solução para o bairro Moinhos passa pela mudança no modelo espacial da região e tombamento de prédios históricos. Breno Ribeiro, da SPM, afirmou que o Executivo não é contrário à academia. “Somos egressos dela, apesar de que o presidente Lula não gosta muito da academia”.

Encaminhamentos

Ronice Giacomet Borges, da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc) da SMC, disse que a secretaria sabe da importância de preservar as características do bairro e que existe um mapeamento de sobreposição de áreas de interesse cultural e prédios inventariados na região. Por encaminhamento do vereador João Pancinha (PMDB), esse material será colocado à disposição da relatoria para consulta.

A vereadora Maria Celeste (PT), relatora da Temática, ao final da reunião, solicitou encaminhamento ao prefeito Fogaça “que tem curso superior e é da área da cultura mas não recebe a comunidade” para que ele dialogue com os moradores do Moinhos de Vento.

Estiveram presentes além de Celeste e Pancinha o vereador Dr. Thiago Duarte (PDT). Na próxima semana, a Relatoria V recebe representantes dos moradores do bairro IAPI para debater sobre as Áreas Especiais daquela região. A reunião será na sexta-feira dia 26/6, às 10h, na Sala 303 das Comissões, 3º andar da Câmara Municipal, Av. Loureiro da Silva, 255.

Carla Kunze (reg. prof. 13515)
Com informações da página da Câmara Municipal de Porto Alegre
http://www2.camarapoa.rs.gov.br/default.php?reg=9419&p_secao=56&di=2009-06-19

04 junho 2009

Dia do Meio Ambiente - A rua mais bonita do mundo!

Dia 5 de junho é o Dia do Meio Ambiente.
Nesse dia, em 2006, foi assinado o decreto de tombamento da Rua Gonçalo de Carvalho.

Em 4 de março de 2008 recebemos um e-mail do Pedro Nuno Teixeira Santos, do Blog A Sombra Verde de Portugal, onde ele escreveu:
Eu também sou amigo dessa rua!
Olá,
Tomei conhecimento da vossa rua e do vosso movimento de cidadãos através do blogue Arbres Amics... E fiquei, tal como continuo agora: sem palavras!
Sou licenciado em Biologia e professor, além de que mantenho dois blogues que se dedicam a divulgar as árvores monumentais de Portugal, bem como a denunciar casos de podas mal executadas (ainda muito frequentes em Portugal e na vizinha Espanha, por exemplo). Como amante das árvores, tomar conhecimento da vossa rua foi como entrar num "mundo de fantasia" (felizmente, bem real!)
Quando pensei no nome de "sombra verde" para um dos meus blogues, foi como se tivesse sonhado com a vossa rua mesmo sem nunca a ter conhecido; não sei se algum dia irei ao Brasil mas, se assim for, farei por ir a Porto Alegre só para conhecer a vossa maravilhosa rua.
Já coloquei um texto a divulgar o vosso projecto e envio-vos um abraço de solidariedade e muita força para a vossa luta.
As árvores fazem amigos!
Um abraço,
--
Pedro Nuno Teixeira Santos
(http://sombra-verde.blogspot.com/)
(http://arvores-do-sul.blogspot.com/)

Em seu Blog, Pedro colocou um título que nos comoveu profundamente: A Rua Mais Bonita do Mundo!
Logo após a vitória da Rua Gonçalo de Carvalho contra a obra que ameaçava suas árvores e seu posterior tombamento como Patrimônio Cultural, Histórico e Ambiental da cidade, pensamos em descontinuar este blog. Já tínhamos conseguido o que queríamos. Mas recebemos mensagens de muitas pessoas comuns, como nós, que pediam que o Blog continuasse, para mostrar que mesmo as causas dadas como perdidas - como a da Gonçalo - poderiam ser vitoriosas se as pessoas não desistissem, não abandonassem seus ideais!
Apenas por esse motivo o blog continua ativo.
Para que mais gente seja estimulada a não omitir-se e a não desistir de seus sonhos, para que eles se realizem no final.




Mais que um direito, uma obrigação.
Em 2005, essa foi a conclusão que chegaram os poucos moradores das redondezas da Rua Gonçalo de Carvalho, ao saberem pelo jornal que um grande edifício-garagem seria construído junto a uma das mais belas e arborizadas ruas da capital gaúcha. Seria uma obrigação defender a rua da ameaça que surgia.
Haeni Ficht, dentista, morador da Rua Gonçalo de Carvalho, subsíndico do edifício Ado Malagoli, era vizinho da área onde seria construída a garagem. Ele tomou a decisão de fazer algo para denunciar o que estava para acontecer. Falou com os vizinhos, procurou maiores informações e logo juntou um pequeno grupo disposto a não se omitir.
Os adversários eram poderosos. A obra seria construída no local onde existe um Shopping Center, o proprietário do terreno era também dono (na época) de tradicional grupo jornalístico gaúcho e ainda por cima, o estacionamento faria parte da construção da sede própria de um dos maiores orgulhos do Rio Grande: a OSPA - Orquestra Sinfônica de Porto Alegre.
Seria muito difícil enfrentar adversários desse porte. Mas todos achavam que se conseguissem esclarecer o real problema, muitas pessoas formariam suas opiniões e apoiariam a causa.
Todos colaboravam como podiam, faziam abaixo-assinados, distribuíam cópias feitas no xerox da esquina, paravam vizinhos na rua e explicavam o caso, pediam apoios por telefone ou e-mail.
Muitos que recusavam apoio, diziam ser “constrangedor” ficar contra um os maiores orgulhos da cidade - a OSPA - mas ficavam ainda mais constrangidos quando eram levados para conhecer a rua com suas belas árvores e pássaros.
Foi uma luta difícil, cansativa e, diziam na época, sem futuro. Não seriam alguns “inimigos da cultura e do progresso” que iriam impedir uma obra grandiosa, já decidida e autorizada pela prefeitura.
Até ameaças alguns sofreram quando da distribuição de nossos panfletos. Mas tínhamos a certeza de que estávamos fazendo a coisa certa. Sempre tivemos a convicção disso! Foi criado um endereço de e-mail e o Blog “Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho” onde colocamos nosso lema: “Resistir é Preciso”.
Descobrimos muitas pessoas de Associações e Movimentos, tanto de moradores como ambientalistas, e recebemos apoios fundamentais para continuar a resistência. Não fomos apoiados apenas por gente de nossa cidade: também recebemos apoios, informações e principalmente incentivo de vários lugares do Brasil e até do exterior, graças a essa ferramenta impressionante que é a Internet.
Em 2006 veio a vitória. Não apenas nossa, mas de toda a cidade e do direito do cidadão comum ser ouvido. A obra não saiu e a rua, com suas árvores, pássaros e seu calçamento de pedras, foi tombada como Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de Porto Alegre. Pelo que temos conhecimento, o primeiro caso de uma rua tombada, no Brasil e na América Latina.
Infelizmente, o Haeni morreu antes de ver a vitória de sua rua. Antes mesmo de ver tantas mensagens de apoio que vieram de lugares tão distantes e depois parabenizando pelo tombamento da Rua Gonçalo de Carvalho. Coisas da vida… Mas ele servirá de exemplo sempre que alguém pensar: “Não basta querer ter um mundo melhor, a gente tem é que fazer ele melhor!“

Cesar Cardia
Administrador do Blog
Associado da AMABI
Participante do Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho
Participante do Movimento Defenda a Orla do Guaíba