14 fevereiro 2014

Calor e ausência de árvores


Onda de calor e ausência de árvores nas calçadas

José Hamilton de Aguirre Junior – Engenheiro Florestal, Mestre em Arborização Urbana, coordenador do Projeto “Cambuí Verde”.

Estamos estarrecidos com a onda de calor e seca que atinge vários estados e cidades brasileiros. Em Campinas, a ameaça do racionamento de água, a temperatura de 36,8oC do dia 5 de fevereiro de 2014 e, a umidade relativa do ar, abaixo de 30%, impressionam, pela gravidade e, consequências em nossas vidas.

O que esses fatos tão assustadores têm a ver com a ausência generalizada de árvores nas calçadas de nossa cidade?

É nos passeios das vias campineiras onde mais sentimos os eventos extremos que nos penalizam. Se a Lei de Arborização 11571/03 e a Lei de Calçadas 11418/02 fossem respeitadas, as árvores nos protegeriam, amenizando a aridez viária atual. Trajetos a pé ou em veículos, em ruas sem o sombreamento da vegetação, em qualquer horário do dia, têm representado sofrimento e risco para a coletividade. Esse é um considerável gargalo da infraestrutura urbana por aqui: A ausência de uma rede de serviços ambientais capaz de fornecer qualidade de vida aos munícipes. O calor, a falta de umidade do ar, os raios solares prejudiciais e a poluição estão acentuados onde faltam árvores urbanas.

Alguns plantios têm sido realizados em Campinas, em canteiros centrais e em áreas verdes. Em calçadas, é lastimável o desrespeito do poder público com a população. Árvores de porte alto e copa densa são removidas e, em seu lugar, quando ocorre a reposição, os arbustos como o rededá – Lagerstroemia indica e as arvoretas têm avançado. Os canteiros são tão pequenos ou ausentes nas novas mudas e nas árvores antigas, que é um milagre a sobrevivência desses exemplares.

Na matéria “Vendaval muda paisagem no Cambuí”, do caderno A10 deste jornal, de 21 de janeiro de 2014: os Ficus – Ficus benjamin que caíram pela ventania, tinham suas raízes contidas em pequenos quadrados elevados de concreto; as palmeiras rabo de peixe – Caryota urens, estavam em final de ciclo de vida, bastante debilitadas. O manilhamento, a elevação de construções e de terra sobre o colo (base da árvore) e sobre as raízes, como o caso relatado, as apodrece, afeta e destrói sua estabilidade. Essas têm sido grandes razões para perdas de árvores em Campinas. A falta do uso adequado do conhecimento técnico sobre o tema tem levado à desarborização municipal e à perda dos benefícios que poderíamos usufruir.

O calor que sentimos está muito além do suportável. Faz-se imperioso rearborizarmos e entendermos a importância das árvores para o meio urbano. O asfalto, o cimento, as construções, telhas e os metais de coberturas, são grandes acumuladores e refletores de calor. Árvores grandes e de copa densa, funcionam como grandes bombas de água para o entorno, eficientes refrigeradores, sombreadores, filtros e umidificadores do ar. Essas qualidades das árvores não são lembradas antes de estarmos em catástrofes, como a atual.

Medidas concretas de ação individual, do poder público e empresarial precisam ser tomadas: O plantio e o replantio de árvores de espécies médio e grande portes, com benefícios ambientais; a abertura de canteiros generosos para irrigação e sustentação adequada dos vegetais; a manutenção preventiva dos exemplares, com remoção de ramos secos, doentes e das árvores mortas; o enterramento urgente da rede aérea de energia, em compartilhamento com as outras redes de utilidades (água, gás, esgoto, fibra ótica), instalados no leito carroçável, respeitando as raízes.

Campinas e sua população sofrem pela má condução das decisões com sua arborização viária. Em épocas de calamidade ficam mais evidenciados o despreparo e a falta de condições gerenciais para com o nosso verde. Há diversos anos inúmeros técnicos se manifestam sobre o assunto visando à reversão dessa situação. O aumento significativo de recursos para a manutenção de áreas verdes, ainda não refletiu em passeios arborizados. O calor, a poluição e o desconforto térmico são a realidade nas ruas ou em nossas residências. Árvores em todas as calçadas de Campinas nos protegeriam sempre. Ainda mais, no trágico período que nos assola.

Publicado no jornal Correio Popular de Campinas/SP, em 13/2/2014
(texto recebido via Facebook e autorizada a publicação pelo próprio autor)

10 fevereiro 2014

Audiência na presidência da Câmara Municipal

Representantes de entidades foram recebidos na presidência da Câmara
Foto de Luiz André Cancian
Entidades ambientais e comunitárias apresentam reivindicações ao novo presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre
Os "Amigos da Gonçalo de Carvalho" solicitaram audiência ao Professor Garcia, novo presidente da Câmara, ela aconteceu no dia 4 de fevereiro.
Também participaram do encontro membros das  entidades AGAPAN (Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural); Grupo Quantas Copas por Uma Copa; Ipanema, eu Moro Eu Cuido; Mogdema; CCD (Centro Comunitário de Desenvolvimento da Tristeza, Pedra Redonda, Vilas Conceição e Assunção) e AMBI (Associação dos Moradores do Bairro Ipanema).
Todos cobraram a abertura de diálogo com o executivo e legislativo de Porto Alegre, além de inúmeras outras reivindicações.
Nós destacamos 4 assuntos que julgamos fundamentais e que foram destacados ao presidente da Câmara, o presidente da AGAPAN, botânico Alfredo Gui Ferreira, discordou do "plantio compensatório" de árvores em parques distantes das áreas onde árvores são removidas e entregou formalmente um "Manifesto em Defesa das Árvores de Porto Alegre".

Foto de Luiz André Cancian
Este é o nosso "Pró-Memória" da reunião:

Audiência com o presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, vereador Professor Garcia.

Porto Alegre, 4 de fevereiro de 2014.

Motivos
A população de Porto Alegre enfrenta enormes dificuldades em dialogar com os poderes executivo e legislativo, mesmo as entidades que trabalham de maneira absolutamente voluntária para a melhoria da qualidade de vida de nossa cidade.

Gostaríamos que a Câmara Municipal colaborasse mais e melhor para que o diálogo ocorra.

Foto de Luiz André Cancian
Assuntos prioritários:
Nossas árvores
Porto Alegre é uma cidade conhecida por sua arborização e pelo grande apreço que seus habitantes tem por nossas árvores. A Rua Gonçalo de Carvalho é um exemplo disso. A luta de cidadãos comuns pela preservação de seu Túnel Verde hoje é citada como exemplo de cidadania em todo o mundo, sendo chamada no exterior como “a rua mais bonita do mundo”, pela beleza do Túnel Verde e pela vitoriosa luta de seus defensores. A Rua Gonçalo de Carvalho foi até destacada no 1º Relatório Global sobre Urbanização e Biodiversidade, publicação do Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) das Nações Unidas, destinada a autoridades locais, governos subnacionais (estaduais e provinciais) de países desenvolvidos e em desenvolvimento.

No Relatório, a Gonçalo de Carvalho é destacada como “um exemplo impressionante de ecolink natural urbano”.

Mas nossa realidade atual, com relação a árvores urbanas, não é merecedora de elogios. Muitas árvores em nossa cidade foram cortadas e milhares de outras estão marcadas para morrer, todas elas por iniciativa ou conivência dos poderes públicos!

Parque do Gasômetro
Em 2007 o então recém criado Movimento Viva Gasômetro, apoiado pelos Amigos da Gonçalo de Carvalho, apresentou suas reivindicações para a Revisão do PDDUA. Entre elas a criação do Parque do Gasômetro, unindo as praças Julio Mesquita e Brigadeiro Sampaio com a Usina do Gasômetro e Orla próxima.

Foto de Luiz André Cancian
A proposta do Parque fora apresentada (2005 ou 2006) em um trabalho da RP1, chamado Operação Urbana Centro. O Movimento aproveitou a excelente ideia da RP1 e a apresentou como uma de suas reivindicações. Mas já na proposta da RP1 a premissa fundamental para a criação do Parque era o rebaixamento da Av. Presidente João Goulart, pois apenas assim poderia ser criado um Parque contínuo que permitiria acesso universal a nossa Orla, sem as dificuldades de travessia da via de tráfego tão pesado. As dificuldades para atravessar a Av. João Goulart são ainda piores para idosos, crianças e deficientes. Na revisão do Plano Diretor o vereador Comassetto apresentou e aprovou emenda que criava o Parque, que necessitaria de regulamentação posterior.

6/2/2013 - jovens sobem em árvores para evitar seu corte - Foto Cesar Cardia

6/2/2013 - jovens sobem em árvores para evitar seu corte - Foto Cesar Cardia
Porém em 6 de fevereiro de 2013 fomos surpreendidos com o corte de árvores na região destinada ao futuro Parque do Gasômetro, com a desculpa de alargamento da via por causa da Copa do Mundo. No mesmo dia estivemos na Câmara Municipal e nem os vereadores entendiam o que estava acontecendo, foi chamada uma reunião extraordinária da COSMAM, vieram dois representantes da SMAM que pouco sabiam e reconheceram desconhecer que o Parque do Gasômetro tinha gravame no Plano Diretor da cidade.

O que aconteceu depois é de conhecimento de todos: protestos, Audiências, MP, etc.Mais tarde decidiram criar um GT para discutir o Parque do Gasômetro na Câmara Municipal, participando o MP, o atual Movimento Viva Gasômetro (que tem apenas UMA remanescente do Movimento original e atualmente não defende mais o rebaixamento da via), AGAPAN, IAB e representantes do Executivo Municipal. Quando firmamos posição com relação ao rebaixamento da Av. João Goulart as reuniões cessaram. Mais tarde foram retomadas, mas já sem a participação do IAB e AGAPAN que defendiam um Parque contínuo e sem obstáculos para a Orla ser acessada com facilidade. Simplesmente deixaram de ser convidados para o GT!

Insistimos que nada nada relacionado ao Parque do Gasômetro seja votado nessa casa sem as devidas discussões com a população, sem ao menos Audiência Pública.

Foto de Luiz André Cancian
Audiências Públicas
Pedimos que alterem a forma como são realizadas as Audiências Públicas na Câmara Municipal. Atualmente participamos para falar para nós mesmos. Raros são os vereadores que participam das Audiências, logo não tem conhecimento de nossas argumentações. As Audiências não são deliberativas, mas deveriam servir para reavaliações, novos estudos, tanto do legislativo como do executivo. Na forma atual, mesmo as mais brilhantes argumentações, os dados mais precisos e confiáveis, servem para nada. Os vereadores não precisam participar, então continuam desconhecendo o que foi apresentado e salvo algum incidente que ocorra, ninguém tomará conhecimento da Audiência, pois a mídia sabe que não servirá para nada, salvo o crescente descontentamento da população mais informada com os políticos do legislativo e executivo.

Foto de Luiz André Cancian
Fórum de Entidades
Em 2007 a Câmara Municipal instituiu o Fórum de Entidades para o acompanhamento da Revisão do Plano Diretor, exigência do Estatuto das Cidades. Inicialmente apenas entidades formais poderiam participar, mas a então presidente da Câmara, vereadora Maria Celeste, aceitou o pedido de muitas entidades informais, como os Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho, para que fossem aceitas no Fórum desde que provassem sua existência através de citações em material de mídia, publicações, existência de sites e Blogs pelo menos no ano anterior a criação do Fórum de Entidades.Em cerca de dois anos os integrantes do Fórum de Entidades se reuniram na Câmara Municipal, promoveram reuniões e discussões muito proveitosas que resultaram em mais de 200 emendas para a Revisão do PDDUA. Infelizmente poucas chegaram a ser apreciadas no plenário da Câmara, mas isso já é outra história...

Alfredo Ferreira entregou o Manifesto da AGAPAN em Defesa das Árvores
Foto de Luiz André Cancian
Quando da votação da Revisão do Plano Diretor foi muito elogiado o trabalho do Fórum de Entidades e também foi dito que ele merecia ser um Fórum permanente na Câmara Municipal. Porém isso logo foi esquecido. O que ocorreu? A participação da população, através de suas entidades não enriqueceria a discussão democrática no nosso Legislativo?

Presidente da Câmara leu o Manifesto em Defesa das Árvores, da AGAPAN
Foto de Luiz André Cancian
Solicitamos que seja instituído um Fórum de Entidades permanente na Câmara Municipal. A cidade de Porto Alegre ganhará muito com isso, será mais um exemplo que Porto Alegre dará em termos de democracia participativa.

Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

(Fotos de Luiz André Cancian, fotógrafo e ativista de nossas árvores)

Leia o Manifesto em Defesa das Árvores, aqui:

06 fevereiro 2014

Não é para comemorar

É para nunca esquecer!


No Jornal do Comércio de hoje:

Ato celebra resistência a corte de árvores no entorno do Gasômetro

Fernanda Bastos

Movimentos sociais e ambientalistas fazem hoje um ato alusivo ao início do movimento que tentava impedir a retirada de árvores do entorno da Usina do Gasômetro em Porto Alegre. Organizado pelos ativistas do Quantas Copas Por Uma Copa, do Largo Vivo e do Orla Autônoma, a reunião prevê diversas atividades, como shows e debates, a partir das 18h, na Praça Júlio Mesquita e arredores, onde ainda restam oito árvores.

As sobreviventes foram protegidas por liminar do Ministério Público, que alega que uma lei municipal que cria o Parque do Gasômetro protege esses vegetais. As árvores envolvidas nesse imbróglio judicial e que ainda não foram derrubadas foram marcadas pela organização do encontro com tecido vermelho.

A ideia do encontro de hoje é reunir todos os envolvidos no movimento, além de simpatizantes, para evitar mais cortes. Para o grupo, as árvores ainda preservadas simbolizam a resistência que marcou todas as atividades desde 6 de fevereiro do ano passado, quando moradores constataram que vegetais estavam sendo cortados e subiram nos restantes para evitar o prosseguimento da ação.

A derrubada de 115 árvores, que era prevista no projeto de duplicação da avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio) - preparatório para que a cidade receba a Copa do Mundo neste ano - tornou-se alvo de protesto. Naquele dia, por conta da mobilização, apenas 14 das 115 marcadas foram abatidas.


O movimento iniciado em fevereiro culminou no Ocupa Árvores, um acampamento ao lado da Câmara Municipal de Porto Alegre, que permaneceu em vigília por mais de um mês, ancorando-se em liminar obtida pelo Ministério Público para interromper as obras.

O grupo só foi retirado do local por força policial na madrugada do dia 29 de maio do ano passado, quando 200 policiais recolheram as barracas e prenderam os ativistas por desobediência e desacato.

Na ocasião, a prefeitura havia conseguido junto à Justiça um pedido de reintegração de posse, que estipulava o prazo de 48h para que os ativistas deixassem o local. O próprio Executivo chegou a retirar o documento, mas, na madrugada do dia 29, surpreendeu os ativistas com a ação policial. Recentemente, 13 dos 27 manifestantes que foram presos durante a operação conjunta da Brigada Militar e de órgãos da prefeitura de Porto Alegre entraram com uma ação contra o governo do Estado e o Executivo municipal por abuso de poder na desocupação.


Apesar de a reunião celebrar o ato de resistência dos ativistas, o balanço é negativo. “Não tem como compensar uma árvore plantada há anos com uma muda”, lamenta a integrante do movimento, Inês Chagas. A compensação proposta pelo Executivo para os cortes foi de um plantio de 401 mudas, que ainda não foi concluído.

“O governo tem rabo preso com as empreiteiras, que até passaram asfalto em raízes de árvores cortadas. Pelo menos estamos conseguindo levar essa resistência longe, porque, em outros locais, arrancam as árvores e pronto. Conseguimos adiar”, avalia ainda Inês.

 
Para divulgar o ato, o grupo criou eventos nas redes sociais. No Facebook, pelo menos 300 pessoas já confirmaram presença e mais de 3 mil estão convidados. O empresário Flavio Sachs Beylouni, que também integra o movimento, defende que é importante a reunião para manter a fiscalização aos supostos abusos decorrentes de obras na Capital.

Link para a matéria: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=153343

Atualização em 06/2/2014: às 11h haviam 982 confirmações para o Ato, apenas via Facebook