Mentes estreitas?

Postado em 22 de Fevereiro 2007


Mentes estreitas?

No “Segundo Caderno” do jornal Zero Hora de 20/02/07 o professor Luís Augusto Fischer descreve sua indignação em ver uma foto de pessoas dando um abraço simbólico na área destinada pela prefeitura para a construção da Sala Sinfônica da OSPA, no Parque da Harmonia, às margens do Guaíba. Claro que sobrou para nós também.

Para quem não é de Porto Alegre, cabe esclarecer que o autor da coluna é uma das pessoas mais respeitadas no círculo intelectual gaúcho. No último parágrafo de sua coluna ele escreve:
"O senhor certamente vai lembrar que, faz pouco, uma estranha associação de moradores e amigos, composta de pouquíssimos residentes e amigos por sinal, associação de apenas uma rua da cidade, conseguiu obstar a construção de um teatro para a Ospa na antiga Brahma, atual Shopping Total (me diz uma coisa: não haveria nome melhor para o empreendimento, falando nisso? Shopping Floresta ou Continental seria realmente muito ruim?), acabando com um sonho que daria uma casa para a nossa orquestra e um fôlego novo para aquela parte da cidade. Agora outras pessoas, da mesma estreiteza mental, querem impedir o mesmo na beira do Guaíba, onde se circula de carro com facilidade e onde certamente muita gente verá mais de perto a Ospa mesma? Tenham a santa paciência."

Luís Augusto Fischer nasceu em 1958, em Novo Hamburgo, RS, mas vive em Porto Alegre desde antes de completar um ano. Cursou Letras e História na UFRGS. Fez Mestrado e Doutorado na UFRGS, onde leciona Literatura Brasileira desde 1985, tendo antes trabalhado em alguns colégios de Porto Alegre (Anchieta, Israelita e Militar) e em alguns cursinhos.
Escreve regularmente para veículos de imprensa, como a Zero Hora, de Porto Alegre, o ABC Domingo, de Novo Hamburgo, e a revista Estilo Zaffari. Colabora para outras publicações, como a revista Bravo!, a revista Superinteressante e a Folha de São Paulo. Tem publicados vários livros, entre os quais o Dicionário de porto-alegrês (Artes e Ofícios), o Dicionário de palavras e expressões estrangeiras (L&PM), Literatura gaúcha - História, formação e atualidade (editora Leitura XXI). Publicou também ficção: O edifício do lado da sombra, contos, Rua desconhecida, contos também, ambos pela Artes e Ofícios, e a novela Quatro negros, pela L&PM. (http://www.viapolitica.com.br/curriculos/curriculo_la_fischer.htm)

O professor Fischer como tantas outras personalidades gaúchas é um de nossos orgulhos. E por isso nos sentimos chocados com sua coluna, ao contrário de outras que apenas nos faziam dar gargalhadas, apesar das ofensas pessoais. E nos faz pensar o que levou o Fischer a agir assim. 

Aqui no Rio Grande as disputas sempre são terrivelmente apaixonadas. Quem é colorado, não apenas torce pelo Inter como torce contra o Grêmio (e vice-versa). Ou se está a favor do governo ou contra o governo (ainda há quem diga que a seca que atingiu o Rio Grande no ano passado é castigo divino pelo fato do antigo governo do PT ter mandado a Ford embora). Mas o professor Fischer além de ser muito culto é extremamente inteligente, ele não escreveria um artigo atacando pessoas que não conhece, apenas tomado pela paixão.

Então o que houve?

Mesmo que tenha tão grande simpatia pela OSPA, sua simpatia não é maior que a nossa. Ele também não precisa de apoio do SINDUSCON, pois não é político. É um renomado professor e escritor de grande sucesso. Só pode ser uma coisa: falta de informações.

Desde o início da “pendenga” tivemos grandes dificuldades em tornar públicos nossos argumentos. Não tivemos acesso à grande mídia que muitas vezes nos tachava de “inimigos da cultura”, “xiitas”, e até chamados de “cornos” como disse o vice-prefeito. Sem conhecer nossos argumentos, sem conhecer os fatos reais que estavam por trás da briga, como teria alguma simpatia por essa gente?

Não lembro de ter visto o professor Fischer na Audiência Pública realizada na Igreja Batista, logo ele não pode ver que os “baderneiros” eram pessoas como ele, que tem opiniões e querem ter o direito de expressá-las. Como ele não soube de nossas reuniões, não ouviu nossos questionamentos aos secretários municipais que compareceram, nem as solicitações de esclarecimentos feitas à direção e ao engenheiro da OSPA.

Ele não soube que nossa pouquíssima gente na Audiência Pública era equivalente ao lado contrário, descontado o grande número de pessoas levada pela Associação Cristóvão Colombo (que disseram inúmeras vezes que a tal garagem era invenção nossa, ela não seria construída) e que nem sabiam porque estavam lá, além de nos vaiarem. Claro que também tinham familiares dos músicos da OSPA, mas isso é óbviamente compreensível.

O professor Fischer nunca foi convidado a colaborar com o pagamento de cópias xerox nem com a “vaquinha” para pagar o convite na ZH para a missa quando da morte do nosso líder Haeni Ficht.
Ele não devia estar na Redenção no sábado e domingo antes da Audiência Pública quando fomos ameaçados por sermos “elementos subversivos e anti-culturais", apenas por estarmos distribuindo panfletos em defesa da rua e de suas árvores.

Não creio que leu algum de nossos panfletos, pois eles eram poucos e mal distribuídos. Talvez tenha assistido o programa Conversas Cruzadas onde tivemos a oportunidade de, pela primeira vez, expor nossas posições para o grande público, mas o Haeni estava só e nunca havia comparecido a um programa de rádio ou TV. Felizmente o Lasier Martins fez os questionamentos que o Haeni, muito nervoso por se sentir atacado, não fez. 

Será estreiteza mental ser contra uma “venda casada” onde, para se construir a Sala Sinfônica teria que ser construído um edifício-garagem para cerca de 600 veículos junto uma das mais belas, arborizadas e pacatas ruas da cidade? Seria muito “estreito” desconfiar que as fundações da garagem seriam para posteriormente ser ampliado até a altura máxima permitida pelo Plano Diretor? E pedir para ver a planta do tal edifício-garagem e não poder ver? Até hoje não vimos, só a da Sala Sinfônica...
Será estreiteza insuportável seguir a lei e entrar no Ministério Público para pedir o respeito de seus direitos de cidadãos, questionar a segurança dos prédios antigos que seriam abalados pela dinamite (o terreno é um pedreira)?

Será indigno descobrir que o Shopping é locatário do terreno por 25 anos e que toda e qualquer benfeitoria executada passará a ser, findo o contrato, de propriedade do real proprietário do terreno?

Será mentalidade estreita denunciar que dinheiro público (Lei Rouanet) seria usada para que a construção passasse a ser propriedade de um grande grupo empresarial (mídia inclusive) e após os 20 anos restantes do contrato a OSPA estaria sem teatro novamente?

Seria condenável ouvir ofensas e ataques de tantos lados, ter seus argumentos respeitados no Ministério Público e Ministério da Cultura e ver a Rua Gonçalo de Carvalho decretada Patrimônio Cultural, Histórico e Ecológico de Porto Alegre, pela mesma prefeitura que havia anteriormente aprovado a construção em prazo recorde de 30 dias?

Será muito estreito mentalmente gostar de passear na Gonçalo de Carvalho - mesmo não residindo nela - ouvindo seus pássaros e o barulho do vento em suas frondosas árvores?

Temos certeza que caso o professor Luís Augusto Fischer tivesse conhecimento disso e de outras coisas mais, ainda pouco divulgadas, não usaria estes termos em sua crônica.