30 janeiro 2012

Com a "desculpa" da Copa do Mundo...

Querem derrubar mais árvores em Porto Alegre

Todos já tinham conhecimento que com a "desculpa" da Copa de 2014 a cidade seria atropelada por mudanças em leis e que muitas árvores poderiam ser retiradas para dar ainda mais espaço aos automóveis.
Quem imaginou isso não se enganou. Agora muitas árvores da rua Anita Garibaldi estão ameaçadas pelos irresponsáveis pelo futuro das gerações que ainda nem nasceram.
Ouviram os moradores da Anita e entorno?
Ouviram os moradores da cidade? Cabe lembrar que as árvores das ruas da cidade não beneficiam apenas os que nela residem, beneficiam a todos nós!
Protesto da AMOBELA - Foto: Vanessa Melgare

Texto recebido da Associação de Moradores da Bela Vista - AMOBELA:

O TÚNEL DA ANITA GARIBALDI: UMA PROPOSTA EM DEBATE

          O projeto da passagem subterrânea no cruzamento da Rua Anita Garibaldi com a Avenida Carlos Gomes é uma das propostas que integram o conjunto de obras consideradas como necessárias pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre, para a melhoria do tráfego na Terceira Perimetral, tendo em vista a Copa de 2014. O referido conjunto de obras inclui as interseções com a Ceará, Plínio Brasil Milano, Cristóvão Colombo e a Bento Gonçalves.  Estas cinco intervenções facilitariam o fluxo de ligação das regiões Norte – Aeroporto – e Sul (Estádio Beira-Rio).
          Assim, o projeto da Trincheira da Anita Garibaldi tem, portanto, como justificativa técnica a eliminação do semáforo no cruzamento com a Av. Carlos Gomes, possibilitando que os veículos que seguem pela Anita Garibaldi, no sentido Centro-bairro, sigam livres sob a Carlos Gomes. Da mesma forma, o fluxo de veículos da Carlos Gomes seguirá livre, sem semáforos.
Foto: Vanessa Melgare/AGAPAN

          A obra implicará em significativos impactos de vizinhança, tais como: transformações na paisagem urbana, comprometimento dos recuos de jardins e no tratamento paisagístico de lotes; alargamento da Rua Anita Garibaldi, com a redução das calçadas, no trecho entre a Rua Pedro Chaves Barcelos e a Alameda Vicente de Carvalho; desapropriações de imóveis e redução de áreas privativas; eliminação de aproximadamente 60 árvores, sendo que algumas espécies classificadas como imunes ao corte; asfaltamento das alamedas que passarão a funcionar como laços de quadra, com o deslocamento do fluxo de veículos para os quarteirões internos do bairro; consequente aumento da poluição ambiental em todos os seus aspectos (ar, sonora e alteração do micro-clima existente, dado o aumento da emissão de gases veiculares e a eliminação da arborização das vias).
Foto: Vanessa Melgare/AGAPAN

          Uma análise superficial desse projeto pontual pode apontar algumas questões importantes, por exemplo: tendo em vista a exiguidade de espaço da intervenção, alguns fluxos direcionais ficarão eliminados, em especial o fluxo de conversão à esquerda da Rua Anita Garibaldi para a Av. Carlos Gomes, exatamente no sentido do Aeroporto. Hoje, esse fluxo é bastante considerável e a sua eliminação vai implicar na busca de outras alternativas viárias que resultarão no aumento da extensão do percurso, no comprometimento de vias de caráter local, internas aos bairros, que passarão a ser alternativas para um fluxo de longa distância.
          Outra questão que nos parece incoerente é o fato de que a Rua Anita Garibaldi está contemplada com uma proposta de alargamento somente até o seu encontro com a Alameda Vicente de Carvalho, uma quadra anterior à Av. Eng. Alfredo Corrêa Daudt, ponto atual de congestionamento. Portanto, mesmo com a proposta do túnel sob a Av. Carlos Gomes, o ponto de gargalo desta via não só permanecerá o mesmo, mas deverá ser intensificado. Acrescente-se, ainda, que nesse ponto de estreitamento ocorrerá a redução das quatro pistas, previstas na trincheira, para duas pistas. A inconsistência da proposta pode ser igualmente apreendida ao se constatar que, além do estreitamento da Anita Garibaldi, o fluxo dos veículos desta rua que hoje convertem à esquerda da Av. Carlos Gomes, no sentido do Aeroporto, não podendo mais fazê-lo, entrarão à esquerda na Av. Eng. Alfredo Corrêa Daudt, com o objetivo de acessarem a Cristóvão Colombo e retornarem à Terceira Perimetral. O percurso ao Aeroporto, portanto, vai ser mais dificultado, e a Cristóvão Colombo deverá receber mais um acréscimo de veículos, aumentando o seu já crônico congestionamento.
          Ainda, a região como um todo aguarda, já há algum tempo, alternativa viária ao maior complexo de shoppings do Estado, com projetos de expansão já aprovados. Da mesma forma, não há definição sobre as alternativas viárias de acesso ao empreendimento Jardim Europa, em franco processo de consolidação e expansão, tendo a Av. Nilo Peçanha - já saturada - como única alternativa viária. Por outro lado, a possibilidade de uma intervenção na área do Country Club não nos parece pertinente, tendo em vista tratar-se de um espaço já consolidado como patrimônio ambiental da cidade, constituindo-se num equipamento de expressão nacional e internacional, importante para o circuito econômico da cidade.
          Outro aspecto que deve ser considerado, em relação à implementação dessa proposta, diz respeito ao risco que a mesma pode representar de agravamento do processo de deterioração e degradação que ocorre atualmente com o espaço da Praça Japão e suas Alamedas. Esse espaço público, reconhecido como um dos mais expressivos da cidade, sob o ponto de vista urbanístico, ambiental e morfológico, vem sofrendo impactos, desde a implantação da Terceira Perimetral, quando passou a ser uma área alternativa para estacionamento dos veículos que dela se utilizam. Qualificado como Área Especial de Ambiência Cultural, a Praça Japão e as suas Alamedas constituem uma referência histórica para os bairros da região, assim como para a cidade como um todo. Certamente, espaços similares a este em outras cidades – no país e no mundo – costumam ser objeto de investimentos do poder público, em manutenção, requalificação e estímulos para a sua proteção.
Foto: Vanessa Melgare/AGAPAN

          A preservação de cenários urbanos preexistentes é uma das diretrizes conceituais propostas pelo atual Plano Diretor da cidade e, certamente, deverá nortear as ações daqueles que dispõe dos recursos públicos destinados à preparação da cidade para a Copa de 2014. Esperamos que, em nome deste evento, não se firam as legislações de planejamento urbano e proteção ambiental, assim como não se desconsidere a participação do conjunto da população nas decisões que já estão sendo tomadas.
           A propósito, a indiferença do poder público em relação à esse espaço público contrasta com a matéria com a matéria divulgada em um jornal da capital, ao ressaltar a preocupação do Sr. Prefeito com a orla: mudar sem mexer. As comunidades residentes nas proximidades da Praça Japão e no conjunto das suas Alamedas agradeceriam a mesma deferência.
          A concepção urbanística da Terceira Perimetral é fruto da utopia racionalista que, décadas atrás, caracterizou o planejamento da cidade, e teve como objetivo definir uma via-expressa, que viabilizasse um percurso rápido de ligação entre as zonas sul, leste e norte da cidade, definindo o sistema de macrozonas que hoje estrutura espacialmente a cidade. Na sua concepção original, a Terceira Perimetral deveria funcionar como um divisor de águas, limitando fisicamente o espaço da cidade que se convencionou chamar Cidade Radiocêntrica – área mais estruturada e composta pelo conjunto de bairros mais consolidados da cidade -, separando-a da Cidade Xadrez - espaço urbano ainda em processo de estruturação, que deveria receber estímulos de ocupação, de consolidação da sua macroestrutura, e de novas atividades urbanas. Como integrantes dessa intensão urbanística, definiam-se os corredores de centralidade (Sertório-Assis Brasil; Anita Garibaldi-Nilo Peçanha; Ipiranga-Bento Goncalves), como marcos estruturadores do espaço urbano de Porto Alegre.
          Acontece que a cidade é dinâmica, e a sua transformação é contínua e historicamente sensível às novas circunstâncias sócio-econômicas e ambientais. A Terceira Perimetral hoje, não pode ser apreendida na sua função original, porque os trechos das vias que a integram se encontram inscritos em diferenciados contextos sócio-espaciais, não homogêneos, e que apresentam diferenciados padrões de uso e ocupação do solo urbano. E isto é próprio da diversidade urbana, aqui e em qualquer lugar do mundo.
           Assim, pretender impor a característica de via-expressa em uma artéria como a Av. Carlos Gomes, por exemplo - que hoje se apresenta como um pólo miscigenado em ambas as suas laterais -, é um contrassenso urbanístico e um completo desconhecimento dos princípios de sustentabilidade urbano ambiental. Revela, ainda, uma completa divergência com a diretrizes propostas pelas sete estratégias definidas no próprio PDDUA, para o desenvolvimento de Porto Alegre. Especialmente, em relação às estratégias de Estruturação Urbana, de Mobilidade Urbana e de Qualificação Ambiental.
          É necessário que se reconsidere a idéia de que a Terceira Perimetral deva ser uma via-expressa, de fluxo rápido. Essa intensão não tem mais sentido porque a cidade cresceu, e a Terceira Perimetral hoje está dentro da cidade. Ela divide bairros em processo de densificação, com intensa atividade residencial e comercial, mesclada com atividades empresariais e de serviços. Essas atividades se relacionam entre si, e cada vez mais a Terceira Perimetral necessitará de interrupções que garantam a travessia de pedestres, com faixas de segurança e acessos ao corredor central de transporte coletivo. Nada poderá impedir a territorialização das relações das diversas atividades humanas, que já estão consolidadas ao longo da via.
          As pessoas residem, trabalham e se mobilizam transversalmente à Terceira Perimetral, e é com isto que o poder público deveria se preocupar: dando melhores condições de segurança; implantando um mobiliário urbano qualificado; tratando da acessibilidade universal; implantando um sistema de transporte coletivo que facilite a mobilidade urbana para o curto e o médio percurso, ao longo da via. Implantando melhoria na iluminação pública, qualificando o passeio, tratando da manutenção da arborização existente, implantando programas de qualificação da paisagem urbana, etc. Em síntese, trata-se de uma outra concepção de cidade, voltada para o fluxo do pedestre – e não só do automóvel -, com a humanização e qualificação dos espaços públicos.
          A nossa sugestão é que se interrompa o processo de licitação para as obras da Trincheira da Anita Garibaldi, e que se viabilize uma discussão mais ampla, com os moradores e com as instituições que estão instaladas na região. Uma discussão técnica para evitar que se comprometam recursos públicos que poderiam ser aplicados em outras obras mais prioritárias para a região, tal como a interseção da Av.Carlos Gomes com a Av. Plínio Brasil Milano.
          Essas sugestões para um debate crítico sobre a proposta em pauta, partem do entendimento de que o planejamento da cidade deve ser tal como é concebido no atual Plano Diretor: um processo dinâmico, retroalimentado e aberto, a ser continuamente reavaliado e readequado às novas realidades que surgem.


Osorio Queiroz Jr.
Arquiteto Urbanista
Presidente da AMOBELA


Já foi criado um Blog contra as obras na Rua Anita Garibaldi: Anita Mais Verde

24 janeiro 2012

Marcha de Abertura do Fórum Social Temático - Ao Vivo

Transmissão pela internet da Marcha de Abertura do Fórum Social Temático em Porto Alegre, via Conexões Globais 2.0. Marcha inicia a partir das 17h, horário de Brasília.

SOS Mata Atlântica abre Fórum Social Temático com marcha contra o novo Código Florestal e pelos 
manguezais.
Protesto contra as alterações no Código Florestal - Foto: Agência Brasil
À frente da caminhada, um grupo de ambientalistas protesta contra as mudanças no Código Florestal, levando caixões com mudas de plantas, em alusão ao enterro das florestas brasileiras. De hoje (24) até domingo (29), o FST deve reunir pelo menos 30 mil pessoas, segundo estimativas da organização do evento.
Chuvarada não interrompe a Marcha - Foto: Agência Brasil
Marchando na chuva - Foto: Agência Brasil
Serão cerca de mil atividades programadas em Porto Alegre e em mais três cidades, todas na região metropolitana da capital. O foco do FST será a preparação para a Conferência das Nações para o Desenvolvimento Sustentável, que ocorre no Rio de Janeiro, em junho. (AB)


 

20 janeiro 2012

AGAPAN no Fórum Social Temático

Agapan traz palestrante japonês a Porto Alegre, para falar sobre sua ação anti-nuclear e Fukushima
Debate acontece durante programação do Fórum Social Temático.

No próximo dia 23, às 14h, na sala Fórum Democrático, no térreo da Assembleia Legislativa do RS, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) promove debate sobre a tragédia nuclear de Fukushima, a recente conquista de direitos dos Aynu, cultura tribal tradicional existente na ilha de Hokkaido, norte do Japão, o movimento ecológico, o ecofeminismo e outros movimentos sociais do Japão contemporâneo. O palestrante será Yoshihiko Tonohira, monge budista da tradição Terra Pura, e sua filha Yuko Tonohira, que estarão em Porto Alegre de 18 a 25 de janeiro. O debate tem entrada franca e integra a programação do Fórum Social Temático que acontece na Região Metropolitana, de 24 a 29 de janeiro. No dia 25, eles palestram no Armazém 6 do Cais do Porto, às 9h e às 14h
Foto: Japan Focus

Yoshihiko e sua filha Yuko Tonohira participam ainda de palestras e encontros no Centro de Estudos Budistas Bodissatva, na comunidade zen Águas da Compaixão (dia 20, sexta-feira, às 19h), Assembleia Legislativa, Câmara de Vereadores de Porto Alegre e entrevistas com a imprensa.

Os Tonohira são budistas, originários de Hokkaido e têm uma cultura familiar religiosa, profundamente envolvida com o pacifismo, o movimento ecológico, o movimento anti-nuclear, os direitos das minorias étnicas, o ecumenismo e o diálogo inter-religioso. O monge Yoshihiko tem 65 anos. É o superior do Templo Ichijoji, Jodo Shinshu Hompa Honganji (Terra Pura), localizado em Fukagawa, cidade próxima de Sapporo, capital de Hokkaido. Atualmente é considerado uma grande liderança religiosa do budismo japonês e a sua vinda é esperada com muita expectativa por budistas brasileiros, ecologistas e organizadores do Fórum Social Temático. Sua filha Yuko, tem 31 anos, é formada em desenho industrial nos Estados Unidos e atualmente vive em Nova Iorque, onde atua no movimento eco-feminista e anti-nuclear. Seu filho, Makoto Tonohira, de 33 anos, também é monge budista da Terra Pura e formado em Estudos Budistas. No momento Makoto está em Fukushima, trabalhando como voluntário no socorro das vítimas do acidente da central nuclear atingida pelo tsunami.

Foto: Japan Focus

“A imprensa mundial não está informando a opinião pública sobre a situação das populações atingidas pela radiatividade, a poluição radiativa no mar e seus efeitos sobre a pesca e a alimentação do país, e as possibilidades de resfriamento e de impedimento da fusão do núcleo do reator e da sua possível explosão”, destaca Celso Marques, conselheiro da Agapan, ao afirmar que a situação é “escandalosa” e que a perspectiva da usina contaminação por plutônio é de desastre, pela contaminação dos alimentos, da água, das pessoas, muitas fugindo para outras regiões. “Caso a fusão do núcleo venha a acontecer, o pior ainda está por vir. Estamos desinformados sobre o que está acontecendo e sobre as perspectivas de evolução dos acontecimentos em Fukushima”, lamenta Marques.

Fukushima - Foto: The Guardian/AP

Para o ecologista, no Brasil não existe uma discussão pública a respeito dos riscos e dos custos socioambientais da energia nuclear. “Mesmo depois dos acidentes de Chernobyl e de Fukushima, o governo brasileiro, autocraticamente, dá sinais de pretender dar continuidade à construção de novas centrais nucleares”, diz, ao salientar que, “nessa conjuntura, a vinda de Yoshihiko e Yuko Tonohira a Porto Alegre e São Paulo representa uma oportunidade única para termos informações de primeira mão sobre a situação da questão nuclear e dos movimentos sociais no Japão”, finaliza Marques.

Com informações da Assessoria de Imprensa da Agapan/RS 
- Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues

19 janeiro 2012

Elis Regina, a cantora que resiste ao tempo


Elis Regina interpreta de forma magnífica a linda e triste música de Adoniram Barbosa. Fala sobre a desapropriação de casas simples, para a construção de grande prédios e a dor que isto causa.
30 anos após sua morte, Elis continua sendo considerada a melhor cantora brasileira de todos os tempos.
Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945 – São Paulo, 19 de janeiro de 1982)  é considerada por muitos críticos, comentadores e outros músicos como a melhor cantora brasileira de todos os tempos. Elis Regina criticou muitas vezes a ditadura brasileira, nos difíceis Anos de chumbo, quando muitos músicos foram perseguidos e exilados. A crítica tornava-se pública em meio às declarações ou nas canções que interpretava. Em entrevista, no ano de 1969, teria afirmado que o Brasil era governado por gorilas (há ainda controvérsias em relação a essa declaração.
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Leia mais aqui:
30 anos sem Elis

17 janeiro 2012

Fórum Social Temático 2012

De 24 a 29 de janeiro de 2012
Marcha do Fórum Social Mundial 2010 - Porto Alegre

Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental
O Fórum Social Temático (FST) se inscreve no processo do Fórum Social Mundial e será uma etapa preparatória a Cúpula dos Povos na Rio+20. O evento acontecerá do dia 24 a 29 de janeiro de 2012 e será sediado por Porto Alegre e cidades da região Metropolitana – Gravataí, Canoas, São Leopoldo, e Novo Hamburgo. Como um espaço aberto e plural, a programação do Fórum será fundamentalmente constituída por atividades propostas e geridas por movimentos, coletivos e organizações da sociedade civil, relacionadas ao tema “Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental”. Além disso, o Fórum acolherá também o encontro de redes internacionais, articuladas em torno de Grupos Temáticos de reflexão sobre assuntos pertinentes ao Fórum.

Leia mais na página do FST 2012

Marcha do Fórum Social Mundial 2010 - Porto Alegre
Marcha do Fórum Social Mundial 2010 - Porto Alegre
Marcha do Fórum Social Mundial 2010 - Porto Alegre
Marcha do Fórum Social Mundial 2010 - Porto Alegre

11 janeiro 2012

11 de janeiro: Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos


Do Engenheiro Agrônomo Julio Cesar Rech Anhaia:

CATÁSTROFE SILENCIOSA
Somos os alvos biológicos vulneráveis aos venenos agrícolas

“a saúde é [...] a atitude de identificar e de realizar suas aspirações, satisfazer as suas necessidades, mudar e adaptar-se ao seu meio. A saúde é então um recurso da vida quotidiana e não um objetivo de vida. A saúde é um conceito positivo que evidencia os recursos sociais e pessoais, bem como sobre as capacidades físicas” (OMS, 1986).

Ao completar 22 anos do Decreto Federal Nº 98.816, de 11 de janeiro de 1990, que regulamentou primeiramente a Lei dos Agrotóxicos, o grande avanço certamente é a ampliação da consciência da sociedade em torno dos grandes problemas ambientais que ainda é o uso indiscriminado de venenos agrícolas e, precisa ser traduzida em ações pelo poder público.

Nas últimas décadas, o meio ambiente vem sofrendo profundas modificações decorrentes do processo da modernização agrícola. Esta se deu através de políticas dirigidas principalmente ao desenvolvimento das monoculturas destinadas à exportação. Tais políticas se fazem sobre a orientação e interesse do grande capital nacional e internacional. Como decorrência desta atuação do Estado, amparado ainda por legislação que pouco se preocupou e se preocupa, em proteger a saúde ambiental e das populações envolvidas, o ambiente tem sido encarado como uma fonte inesgotável de recursos, com capacidade ilimitada para suportar os despejos químicos e as modificações antrópicas derivadas do processo agrícola.

A população está exposta à grande quantidade de substâncias químicas potencialmente perigosas à saúde, entre estas, estão os venenos agrícolas, utilizados cotidianamente, inclusive nas áreas urbanas.

A poucos anos atrás, várias patologias como câncer, doenças respiratórias, neurológicas, transtornos de conduta e más formações congênitas, eram consideradas doenças de “causas” desconhecidas. Pesquisas na área de Saúde Ambiental, que estudam os impactos do ambiente na saúde humana, vêm revelando o ambiente como fator importante no processo de determinação dessas patologias.

O termo “defensivo agrícola” tem sido empregado por fabricantes, distribuidores, vendedores, técnicos incentivados pelo setor produtivo industrial, que desejam minimizar o reconhecimento de sua nocividade. Até hoje, o setor industrial investe nesta denominação, busca e influencia a política agrícola para o uso intensivo desses venenos. A denominação de “veneno”, de emprego popular, é o mais adequado. O termo agrotóxico é mais ético, honesto e esclarecedor, tanto para agricultores como para consumidores.

O saber leigo tem demonstrado a percepção que o senso comum tem a respeito dos efeitos na saúde humana e dos animais, já que são vitimas diretas da exposição. O termo “remédio“, também popularizado, é empregado, para denominar os venenos de uso doméstico. Independente da denominação que estes venenos recebam, na realidade, são “biocidas” inespecíficos, cuja ação não se restringe ao âmbito de determinadas espécies de pragas, mas atuam sobre todos os organismos vivos, incluindo aí o ser humano em suas estruturas orgânica e funcional.

Se, sobre hipótese alguma os venenos agrícolas põem em risco a saúde humana, como pode ser admitida a utilização colocando em risco de intoxicações consumidores e/ou trabalhadores expostos? 

A exposição direta ocorre quando os venenos agrícolas entram em contato direto com a pele, olhos, boca ou nariz. Os acidentes pela exposição direta ocorrem com os trabalhadores que manuseiam ou aplicam venenos agrícolas. Na NR 31, definem-se ”trabalhadores em exposição direta,” aqueles que manipulam os venenos agrícolas e afins, em qualquer uma das etapas de armazenamento, transporte, preparo aplicação, destinação e descontaminação de equipamentos e vestimentas.

A exposição indireta ocorre quando as pessoas, que não aplicam ou manuseiam venenos agrícolas, entram em contato com plantas, alimentos, roupas ou qualquer outro objeto contaminado. Na NR 31, consideram-se “trabalhadores em exposição indireta”, aqueles que não manipulam diretamente os venenos agrícolas, coadjuvantes e produtos afins, mas circulam e desempenham atividades em áreas vizinhas às locais em que são manipulados produtos em qualquer uma das etapas citadas e ainda, os que desempenham atividades em áreas recém tratadas.

A utilização de venenos agrícolas tem se dado de várias formas, dependendo do ambiente onde é executada a aplicação, ocorrendo no ambiente rural, urbano, no interior de habitações e até em veículos de transporte.

A contaminação por venenos agrícolas deve despertar atenção crescente, devido suas consequências para a saúde humana e a degradação do meio ambiente, causadas por seu uso crescente e inadequado.

Os prejuízos causados pelos venenos agrícolas, por seu uso inadequado, extrapolaram o interesse econômico, ganhando dimensão social, pois ao prejudicarem a saúde humana, demandam verbas públicas e privadas, para os atendimentos médicos hospitalares.

O uso dos venenos agrícolas é caso típico de externalidade negativa, onde um ou mais produtores e/ou aplicadores são as fontes, e um ou mais consumidores e/ou cidadãos são os receptores das externalidades.

Aplicadores de venenos agrícolas utilizam pulverizadores costais manual, geralmente a aplicação é feita na maior parte das vezes sem o uso de “Equipamento de Proteção Individual”.

O uso indiscriminado de venenos agrícolas resulta em níveis severos de poluição ambiental e intoxicação humana, pois grande percentagem dos agricultores, aplicadores, desconhece os riscos a que se expõem e, consequentemente, negligenciam normas básicas de saúde e segurança.

Os lobbies dos fabricantes de venenos agrícolas é tal, a ponto de transferirem sua irresponsabilidade, que a responsabilidade pelas intoxicações é do usuário mal preparado e que a sua educação para o uso adequado é a verdadeira solução para reduzir os riscos.

Os índices de consumo de venenos agrícolas, apresentados como desproporcionais em relação aos índices de produção, demonstram a ineficiência dos atuais sistemas de controle dos venenos agrícolas, dentre estes o receituário agronômico.

Além dos perigos aos seres humanos, nos aspectos ocupacionais, alimentares e de saúde pública, sabe-se que a introdução de agrotóxicos no ambiente pode provocar efeitos indesejáveis, tendo como consequência mudanças no funcionamento do ecossistema afetado.

O uso intensivo de venenos agrícolas aplicados irresponsavelmente, combinado com as monoculturas, destrói a biodiversidade e comprometem os recursos naturais para as presentes e futuras gerações.

Enquanto a comercialização dos venenos agrícolas é relativamente regulamentada e controlada por legislação específica, embora precariamente fiscalizada, os venenos domésticos não contam com o rigor da lei, são livremente comercializados em mercados, comércio informal. Os meios de comunicação, propagandas têm dado a estes, a ideia falsa de inócuos, associando-os à proteção da saúde e do ambiente, utilizando-se de ícones de produtos naturais.

Atentem-se ainda, para o fato de que os diferentes biomas não respondem da mesma forma às ações que sobre eles executamos.

O interesse econômico em vender os venenos agrícolas, produzidos pelas multinacionais e não perder a produção, pelos agricultores, prevalece sobre a preocupação com a saúde, inclusive com a saúde dos consumidores de produtos agrícolas.

A culpa é da vitima, que não teve cuidado, por que tem sangue fraco, porque está exposto desde criança, porque deu azar.

Estamos expostos aos venenos agrícolas, por vias ambientais, em nossas casas, escolas, gramados, jardins, assim como pela alimentação e águas contaminadas, e por vias ocupacionais, durante nossa participação nas atividades laborais.

A precariedade da forma com que, em geral, os venenos agrícolas são utilizados, bem como o uso simultâneo de vários deles, geralmente em grandes quantidades, aponta a existência de risco elevado que pode se tornar, num espaço de tempo curto, até mesmo de uma geração, problemas de gravíssimas consequências para a saúde pública e até para o desenvolvimento nacional.

A ignorância sobre o manejo adequado dos venenos agrícolas e as condições de vida do homem torna os trabalhadores do ramo, grupo prioritário para a implementação urgente de programas, com o objetivo de avaliar o impacto destes venenos sobre a saúde do homem e do ambiente nas diversas regiões, em particular naquelas com intensa atividade agrícola.

O desrespeito às normas de segurança, conhecimentos insuficientes sobre os perigos dos venenos agrícolas, a livre comercialização de produtos altamente tóxicos e a grande pressão comercial por parte das empresas produtoras e distribuidoras constituem as principais causas que levam ao agravamento do quadro.

Ainda a denominada “capina química” urbana, os riscos ocupacionais, ambientais e sanitários sobrepõem-se às suas possíveis vantagens, ainda porque a remoção dos resíduos após a capina são mantidos, e para que tenhamos resultados esperados, em termos de benefícios visuais, ambientais e a saúde pública, terão de ser removidos.

É crime a conduta de utilizar venenos agrícolas, causando poluição, que resultem em danos à saúde humana, que provoquem a mortandade de animais, a destruição da flora.

Tem sido falado e proposto a respeito da melhor proteção do trabalhador rural, diretamente exposto à intoxicação por venenos agrícolas. O mesmo não pode ser dito, quanto à proteção das populações de organismos vivos, em geral, e humanas, em especial, indiretamente expostas por meio da contaminação da água, do solo, de alimentos que contenham níveis perigosos de resíduos de venenos agrícolas, estes estão potencialmente sujeitos a efeitos crônicos de exposição continuada a múltiplos agentes.

A utilização maciça de venenos agrícolas, em grande escala, os efeitos tóxicos não se limitam única e exclusivamente aos alvos a que se destinam, mas apresentam risco à saúde humana e animal, ao meio ambiente.

O monitoramento constante do impacto da utilização de venenos agrícolas na saúde humana e no meio ambiente deve ser o objetivo a ser alcançado.

A falta de políticas efetivas de fiscalização no acompanhamento técnico e no controle dos venenos agrícolas no Brasil, e integrado no mercado globalizado, revela que o parâmetro que interessa aos tomadores de decisão é apenas o da produção. A saúde e o ambiente estão longe de uma atenção adequada.

É importante ressaltar que as ações para evitar os danos à saúde do trabalhador, não tenham como enfoque exclusivo o trabalhador, no sentido de capacitá-lo para cada vez mais utilizar venenos agrícolas, mas principalmente oferecer condições para que o produtor tenha disponíveis alternativas para o controle dos organismos que venham diminuir a produção. Assim, poderia ser carreado maior aporte de recursos, não só para a diminuição da toxicidade dos venenos, mas também a busca de alternativas agroecológicas de produção.

São necessários estudos que avaliem os reais benefícios do uso dos venenos agrícolas, confrontando-os com os resultados obtidos nas alternativas agrícolas não tradicionais, como a agroecologia. Podemos tomar como exemplo estudos importantes realizados por países em desenvolvimento, que incorporam as variáveis ambientais e da saúde humana, no cálculo dos custos do uso dos venenos agrícolas. No Brasil, estudos dessa natureza são incipientes, como o programa específico para a racionalização dos venenos agrícolas.

Esperamos que programas, que representem avanços na agenda da pesquisa brasileira, venham a efetivar as medidas necessárias de uso, manejo e de informação dos venenos agrícolas no campo da saúde.

Como dizia José Lutzemberger (1986):

Antes de incrementar ainda mais os métodos, já demonstradamente insustentáveis da Revolução Verde, deveríamos iniciar uma orientação do caboclo e do colono, do pequeno e do grande agricultor, no sentido de dar-lhes tradição camponesa, a preservação e restituição dos equilíbrios naturais que são controles gratuitos e precisos, em contraposição aos controles indiscriminados e caros da agroquímica.

Julio Cesar Rech Anhaia – Engº Agrº - CREA 49.249
Alegrete-RS, 10 de janeiro de 2012

01 janeiro 2012

O Homem que Plantava Árvores (L'Homme qui plantait des Arbres)

O Homem que Plantava Árvores, vencedor do Oscar de melhor curta de animação em 1988, é um desses contos genuínos e cativantes.
Dirigido por Frédéric Back e baseado na obra homônima de Jean Giono, o curta é sobre Elzéard Bouffier, um homem muito peculiar que, além de cuidar de ovelhas, decidiu corajosamente reflorestar sozinho uma região inóspita e árida da França. O esforço solitário e paciente do pastor foi capaz de erguer uma floresta inteira com ecossistema rico e estável.
O trabalho de Back é primoroso: cada quadro desenhado à mão é uma combinação de detalhes e movimentos surpreendentes e expressivos. A animação tem 30 minutos e é narrada por Christopher Plummer.