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19 abril 2015

O "novo" Pontal do Estaleiro

Nos dias 8 e 9 de abril ocorreram duas Audiências Públicas para a apresentação do EIA-RIMA do novo empreendimento projetado para a Orla do Guaíba, agora rebatizado como "Parque do Pontal". Nas Audiências a comunidade conheceu detalhes do polêmico empreendimento que em 2008/2009 causou grandes discussões, sendo rejeitado pela população em inédita consulta pública por mais de 80% de votos.
Como era de se esperar, as críticas foram maioria.

Matéria do excelente Jornal Já sobre a segunda Audiência Pública:

Reação de empresários esquenta segunda audiência do Pontal
Mesmo com número de participantes menor,
houve o dobro de inscrições | Naira Hofmeister/JÁ


NAIRA HOFMEISTER

A segunda audiência pública para apresentar à população de Porto Alegre o projeto do Parque do Pontal – antigo Pontal do Estaleiro, a ser construído no bairro Cristal – foi marcada por ânimos exaltados, discussões e até ameaças.

O grupo favorável ao empreendimento reagiu após amargar uma derrota no primeiro encontro, quando contou com apenas três oradores entre mais de uma dezena de manifestantes que foram à tribuna, embora a plateia do Jockey Club estivesse dividida.

Dessa vez, apesar do número de participantes ser visivelmente menor, houve quase o dobro de inscrições e diversas falas em apoio ao projeto, quase todas provenientes de arquitetos.

Ainda assim, as manifestações contrárias dominaram o encontro: foram 17, contra as 6 favoráveis à construção, que compreende torre comercial de 82 metros, shopping center e uma praça pública.

APRESENTAÇÃO FOI CAUTELOSA

Desde os primeiros momentos o esforço de organização dos empreendedores ficou claro. Na apresentação do projeto, por exemplo, a arquiteta Clarice Debiagi reiterou diversas vezes o caráter público da praça: “Não haverá cancela ou portão, o acesso será livre”, repetiu.

Ela também foi cuidadosa ao explicar que, segundo o cálculo utilizado no Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima), o terreno junto à avenida Padre Cacique ficará acima da cota mínima para evitar inundações, o que havia sido questionado na noite anterior.

O engenheiro Mauro Jungblut, coordenador da equipe que realizou o EIA-Rima através da empresa Profill, também se dedicou a esclarecer temas que polemizaram o encontro na véspera, como a viabilidade de erguer um edifício de 22 andares em um solo arenoso.

“Quatro, cinco ou seis metros abaixo da superfície temos o maciço granítico, que, por óbvio, é onde irão se assentar as bases do empreendimento pois tem plenas condições de construção”, garantiu.

IDENTIDADE DA BM PAR É QUESTIONADA

A primeira manifestação da cidadania foi uma das mais polêmicas. O representante do movimento Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho, Cesar Cardia, provocou uma discussão ao perguntar quem eram os proprietários da BM Par, empresa que se apresenta como empreendedora do Parque do Pontal, ao lado da rede francesa de lojas de materiais de construção, Leroy Merlin.

“É estranho que uma empresa com capital suficiente para uma obra deste porte não tenha site ou qualquer outro empreendimento conhecido na cidade”, argumentou.

Como ele se excedeu no tempo determinado de três minutos por orador – o que não foi respeitado por quase nenhum dos manifestantes – uma senhora sentada na plateia pediu que lhe cortassem a palavra, alegando que a pergunta não era pertinente. “E daí? E daí?”, repetia ela, exaltada.

Também da plateia veio a resposta. Um dos diretores da BM Par, Rui Carlos Pizzato pediu a palavra e sentenciou: “É uma empresa genuinamente gaúcha, com dois sócios, que tem por objetivo construir empreendimentos”.

Parte da plateia insistiu para que Pizatto revelasse a identidade dos proprietários da empresa, mas ele tergiversou enquanto outros aliados do projeto discutiam com quem questionava, alertando que no registro na Junta Comercial constam os nomes.

Na audiência pública da noite anterior, quem se apresentou como representante dos empreendedores era Marcos Colvero, diretor de incorporações da Melnick Even.

DISCUSSÕES ELEVARAM O TOM

Desde que Cesar Cardia abriu as manifestações ao microfone até o último inscrito encerrar sua intervenção, quase quatro horas depois, a tensão foi uma constante e mais de uma vez o presidente da mesa, Mauro Gomes de Moura, supervisor de meio ambiente da Smam, precisou intervir.

“Isso não é um debate. Não haverá réplica nem tréplica”, lembrava quando a confusão se instalava.

Entre as manifestações favoráveis ao Pontal o argumento era – seguindo a linha apresentada pelos empreendedores – de que o projeto vai permitir o acesso à orla do Guaíba, hoje inviabilizado naquele local.

“Não entendo porque tanto barulho! Temos 72 quilômetros de orla e esse projeto representa menos de 1% desse total, o impacto será mínimo! Além de tudo, a empresa vai entregar à população 56% da área”, reclamou o arquiteto Roberto, debaixo de vaias que vinham da plateia.

O reforço maior do time favorável veio do ex-secretário municipal Clóvis Magalhães, que trabalhou na gestão de José Fogaça, acompanhando toda a tramitação inicial do projeto. “Naquela época houve muita polêmica e dela incorreram uma série de avanços apresentados agora. Tudo o que o poder público exigiu do empreendedor foi assimilado”, defendeu.

MANIFESTANTES PEDEM ANULAÇÃO DA AUDIÊNCIA

Do lado contrário, a justificativa seguiu a mesma linha da noite anterior: além de criticar o modelo proposto – que exige a construção de um espigão para justificar a entrega de uma área verde à população – houve questionamentos sobre a legalidade do leilão do terreno, ocorrido em 2005, e quanto à precisão do EIA-Rima apresentado.

Para esse grupo, a área onde pretendem erguer o Parque do Pontal não poderia ter sido vendida à empresa, uma vez que sua origem é pública. Por outro lado, apontam inconsistências na análise da Profill, como a falta de estudo de construção do dique de proteção contra cheias, previsto na lei que aprovou o projeto na Câmara Municipal.

Com base nesses apontamentos, um grupo pediu a anulação das audiências públicas através de um abaixo assinado que foi incluído no processo da Smam. “Solicitamos encarecidamente que essa secretaria, representante do poder executivo, entenda que não se pode apresentar à população um estudo incompleto e que foge do enquadramento legal”, diz o documento.

A atitude foi provocada pelo militante pela reforma urbana, Júlio Alt, cuja acusação de que a prefeitura teria um “conluio” com os empreendedores tirou o presidnete da mesa de seu prumo. “O senhor sabe que está sendo gravado?”, questionou, sugerindo cuidado com um eventual “processo administrativo”.

A plateia entendeu a fala como uma ameaça, mas ao final da audiência, recomposto depois do inconveniente, ele garantiu aos repórteres: não tem nenhuma intenção de ajuizar qualquer queixa contra o ativista.

A Smam estima que mil pessoas tenham comparecido às audiências públicas. Nos próximos sete dias, a pasta receberá por escrito questionamentos sobre o projeto que serão encaminhados e respondidos obrigatoriamente pelo empreendedor.


Lembrando a polêmica do Pontal do Estaleiro, em 2008/2009:


Porto Alegre disse NÃO! Quem perdeu com a vitória da cidadania de Porto Alegre?

A vitória do NÃO! - Entidades que participaram da Frente do Não

Sobre a vitória do NÃO - Texto do cineasta e músico Carlos Gerbase em 24 de agosto de 2009

Os motivos para votar NÃO em 2009:


26 novembro 2014

O cidadão também tem que preservar

Escadaria da Rua João Manoel em 5 de janeiro de 2008 - Foto: Cesar Cardia
Escadaria da Rua João Manoel
Rua Fernando Machado, s/n - Centro Histórico de Porto Alegre

Construída em alvenaria de tijolos e pedra, ascende da rua Cel. Fernando Machado à rua João Manoel, nas proximidades da rua Duque de Caxias.

Os três primeiros lances são centrais e ladeados por muretas baixas, pilaretes e ajardinamento. A partir do terceiro lance os degraus descentralizam-se e, divididos, evoluem nas laterais, com peitoril em ferro trabalhado.

Os degraus sobem contornando e unem-se novamente para outro lance centralizado na escadaria, chegando ao belvedere.

A mureta, balaústre que delimita a escadaria e o belvedere transversalmente, são em alvenaria com tratamento em vazados e balcão de apoio, diferenciando-se das muretas ao nível da rua Cel. Fernando Machado que são lisas.

O sistema pluvial para o escoamento da água da chuva consiste em orifícios dispostos a menos de 1/3 da altura das muretas, em diferentes níveis da escadaria.


Teresa Flores, a madrinha da Escadaria

Teresa, residente na Fernando Machado, é a pessoa que mais luta pela preservação da Escadaria

Em 2007 surgiu o antigo Movimento Viva Gasômetro, no Centro Histórico de Porto Alegre, que objetivava lutar pela melhoria de Qualidade de Vida no Centro, especialmente no entorno da Usina do Gasômetro. O atual Viva Gasômetro muito pouco tem a ver com o antigo Movimento.
Markinho Binatti em ação na Praça do Aeromóvel

Em dezembro de 2006 algumas pessoas decidiram protestar contra o estado de abandono da Praça Julio Mesquita (Praça do Aeromóvel), que tinha muito lixo acumulado e grande quantidade de ratos, fizeram um ato de protesto e convidaram o pessoal da AMABI e dos Amigos da Gonçalo de Carvalho para participarem. Como o convite feito por e-mail por um dos coordenadores do ato, Christian Lavich Goldschmidt, chegou quase na véspera do ato, não foi possível comparecer. Porém em fevereiro de 2007 entramos em contato com eles para tentar auxiliar o novo Movimento, que como nós estavam preocupados com o Meio Ambiente, problemas urbanísticos e a qualidade de vida na cidade.

Teresa na Escadaria da João Manoel
Na realidade o Movimento não existia, haviam feito um ato de protesto e algumas poucas pessoas se reuniam para trocar ideias sobre o que poderiam fazer, mas sem nenhuma estrutura nem planejamento. Na primeira reunião que compareci, levando material da AMABI e Amigos da Gonçalo de Carvalho, conheci pessoalmente a Jacqueline, Christian, Breno (artesão e vizinho da Jacqueline) e apareceu a Teresa, moradora da Rua Fernando Machado, que já comparecia para essas conversas em frente da Praça do Aeromóvel. Já nesse primeiro dia ela reclamou do estado da escadaria da João Manoel, disse que a tradicional escadaria estava toda pichada, suja, tinha virado ponto de tráfico e consumo de drogas, refúgio de malfeitores e que a prefeitura nada fazia para mudar esse estado deplorável. Disse que com a chegada de gente e mais experiente o Movimento poderia decolar e então atuar também para melhorar a escadaria da João Manoel, mesmo que ela não ficasse tão "pertinho" do Gasômetro.

Escadaria no dia 18/4/2007

Moradores de rua, pichações e muita sujeira

Muitos nem percebem a beleza que está escondida no Centro

DMLU lavou a escadaria de alto a baixo

Muito lixo retirado e muita água foi usada

Outras reuniões aconteceram depois, algumas sugestões para tornar o Movimento visível - como a criação de endereço de e-mail, Blog, estrutura organizacional, lista de prioridades e peças gráficas de divulgação - foram aceitas. Porém foi decidido que o Movimento não teria uma única pessoa na coordenação, quase todos os participantes seriam considerados oficialmente como coordenadores, menos eu que recusei por já participar ativamente da AMABI e dos Amigos da Gonçalo. Então a coordenação do novo Movimento era composta por Jacqueline, Christian, Teresa, Breno, uma jornalista chamada Suzana e a arquiteta Mara Gazola. 

Na Duque de Caxias, esquina com João Manoel, o hoje abandonado palacete da família Chaves Barcellos

Em abril de 2007 a Teresa Flores insistiu que o Movimento Viva Gasômetro participasse da limpeza da escadaria, já havia tretado do assunto com alguns moradores da região e donos de um restaurante que então existia na João Manoel, bem no limite da escadaria. Até a data já estava acertada, bastava o Movimento participar para dar mais visibilidade ao ato e pedir o auxílio do DMLU para recolher o lixo e lavar todo o local.

No dia 21/4/2007 iniciou a pintura com cal

A cidadania em ação

Teresa acompanhava tudo, muito contente

Vai ficar bonita novamente, dizia o pessoal do restaurante

Deu trabalho, mas os voluntários estavam muito satisfeitos

Arquiteta Mara Gazola também fez sua parte

Isso foi feito. No dia 18 de abril o Departamento Municipal de Limpeza Urbana limpou e lavou a escadaria e no dia 21 integrantes do antigo Movimento Viva Gasômetro, moradores e o pessoal do Restaurante Autêntico Sabor pintaram com cal toda a escadaria. Saiu até matéria na capa no jornal Correio do Povo. 
"Mutirão limpa escadaria", foi a manchete do Correio do Povo

Com o exemplo dado pela cidadania, a prefeitura passou a limpar e lavar a escadaria mais seguidamente e em 5 de janeiro de 2008, aconteceu um ato simbólico de "energização" com ervas e pétalas de flores, pela Ialorixá Cenira do Xangô na escadaria pintada pela prefeitura municipal, sempre com o acompanhamento da Teresa Flores, a "madrinha" da Escadaria da Rua João Manoel.

Trecho da João Manoel entre a escadaria e Duque de Caxias

A escadaria no dia 5 de janeiro de 2008

A escadaria no dia 5 de janeiro de 2008

A escadaria no dia 5 de janeiro de 2008

Energização com ervas e pétalas de flores em 05/1/2008

Energização com ervas e pétalas de flores em 05/1/2008

Energização com ervas e pétalas de flores em 05/1/2008

Energização com ervas e pétalas de flores em 05/1/2008
O problema é que esse tipo de ação pontual não resolve o estado de abandono da escadaria da João Manoel. Se mais pessoas se envolvessem, cuidando, denunciando os atos de vandalismo e pressionando as autoridades, tudo seria mais fácil. Os "cuidadores da cidade", na sua grande maioria são pessoas com mais idade e os jovens parecem ter outras prioridades, poucos participam desse tipo de ações.

(Cesar Cardia - integrante do Movimento Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho)
Todas as fotos das ações na Escadaria: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho


A história da Escadaria

Na época de sua construção, sem os altos prédios no entorno

Durante a administração de Alberto Bins foram implantadas várias melhorias, buscando resolver os problemas viários, sanitários e de embelezamento da cidade de Porto Alegre seguindo o “Plano Geral de Melhoramentos” proposto em 1914 por Moreira Maciel. Uma das estratégias do plano consistia no saneamento e adaptação do antigo centro colonial às novas condições urbanas, levando em conta higiene e circulação. A área colonial de Porto Alegre se configurava entre o Mercado Público e a ponta da península, tendo como centro a Praça da Matriz, no ponto mais alto da cidade. Algumas ruas, em áreas de grande declive, se tornaram impossíveis de transitar, gerando becos que não permitiam a circulação e ainda acabavam servindo como depósitos clandestinos de lixo.


Este era o caso da Rua General João Manoel, no trecho de ligação entre a Rua Fernando Machado e a Duque de Caxias, que terminava em um barranco intransitável no antigo Morro da Formiga. Do arruamento original da Vila de Porto Alegre, a ladeira preocupava o município desde 1883, quando surgiu a proposta de urbanizar o trecho. Porém o alto custo inviabilizou o projeto de ser executado, “sendo feita, entretanto, a demarcação para evitar que se construa qualquer obra”. Em 1922, conforme relatório do Intendente José Montaury, foram plantados 20 jacarandás.
Em 1929, um local para apreciar a paisagem


A Rua Duque de Caxias era uma das mais elegantes da capital, onde se localizavam as residências das famílias mais abastadas da cidade, o Palácio Piratini e a Catedral Metropolitana. O beco localizado naquela área trazia imenso prejuízo ao saneamento e visual da região, como explicou Alberto Bins no Relatório de 1929:

“A zona compreendida entre o alto do morro e a rua Fernando Machado, aberta e abandonada, era receptáculo de clandestinos despejos de lixo e de juncções de toda a natureza, com grave danno a hygiene daquella zona.”

A solução foi criar um belvedere com escadaria, uma vez que o barranco exigia rampas com mais de 25% de inclinação O projeto, elaborado em 1928, ficou a cargo da Seção de Desenhos da Comissão de Obras Novas, chefiada por Christiano de La Paix Gelbert, que assina o projeto. O Plano de 1914 previa o alargamento da Rua Gal. João Manoel para 18 metros, mas no relatório apresentado pelo prefeito ele justifica que seria mais conveniente deixar a rua como era e alargar e prolongar a Travessa Araújo. Ele explica que essa ideia surgiu depois do projeto pronto, já que esta seria a solução mais econômica. Nem no projeto, nem no Relatório de Moreira Maciel existe citação sobre o prolongamento da Rua Gal. João Manoel até a Rua Fernando Machado, o que provavelmente foi uma melhoria proposta pela Comissão de Obras Novas.
Nos anos 60 a cidade crescia e a escadaria se deteriorava

O projeto da escadaria se divide em três partes, sendo o seu início na Rua Duque de Caxias formado por um lance de escadaria central, com largura de dois metros, ladeado por dois taludes de grama. O acesso à escadaria se dá por duas praças laterais, com uma balaustrada geométrica, na qual dois bancos permitiam que se contemplasse a vista da Orla do Guaíba, numabela paisagem que hoje é interceptada por altos edifícios e pelo aterro. O primeiro lance chega a um amplo patamar do qual a escada é dividida em dois lances mais estreitos, contornando um grande terraço de 36 metros quadrados e criando um pórtico em forma de arco conformado pelo desnível da escada. Nesta parte, a balaustrada é substituída por um corrimão de ferro, também com linhas retas, proporcionando uma visão mais ampla da paisagem que se descortina para quem circula.
Altos prédios vão escondendo a escadaria

A terceira parte é formada por mais três lances centrais com largura de dois metros interceptados por patamares “naturais”, sem calçamentos e com inclinção de 5% que, segundo Bins, eram cobertos com areia grossa. A mesma balaustrada fechada, que acompanha o último lance da escadaria, faz o fechamento na chegada à Rua Cel. Fernando Machado.

A obra foi executada pela firma de Theo Wiederspahn, que venceu a concorrência, tendo início em 28 de agosto de 1928 e fim em 3 de fevereiro de 1929. A tradicional família Chaves Barcellos custeou um terço da despesa total da obra, uma vez que eram donos de dez terrenos na Rua Fernando Machado, atingindo toda a extensão da rua, queriam murá-los e edificar no alinhamento.

A escadaria foi tombada pelo Município como Patrimônio Histórico, com a intenção de preservar a identidade do centro de Porto Alegre. Além da importância arquitetônica, o belvedere teve importante influência na vida da população de Porto Alegre, conforme Instrução de Tombamento da EPAHC:
“Ele proporcionou a artistas plásticos e poetas inspiração para seus trabalhos. Os moradores da redondeza e os transeuntes se detinham a admirar a paisagem, principalmente pelo belo pôr-do-sol do Guaíba.”

O crescimento da cidade influenciou o entorno da escadaria, que passou a abrigar edifícios altos, mudando completamente sua percepção. Nestes anos, muita história envolveu a escadaria. O Plano Diretor de 1959 previa a construção de um túnel que demoliria a obra, mas o projeto foi abandonado pela municipalidade devido a sua inviabilidade. Uma paineira que se localiza junto à escadaria, hoje entre dois edifícios, conseguiu sobreviver às mudanças após movimentos em prol desua preservação. Hoje, bastante escura e deteriorada por limo e pichações, pouco mostra de seu aspecto original que se criou na década de 30, mas resiste como parte de uma época na qual seu percurso estava ligado ao desfrute visual da paisagem.


Fonte: trabalho de Taísa Festugato, em setembro de 2012 – "A arquitetura de Christiano de La Paix Gelbert em Porto Alegre (1925 – 1953)" – Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura – PROPAR

Link para acessar ao trabalho completo da Taisa Festugato: 

15 setembro 2014

Obrigado Nestor Nadruz!

Hoje, 15 de setembro, é aniversário do arquiteto, urbanista e grande defensor da cidadania de Porto Alegre: Nestor Ibrahim Nadruz.
Um grande abraço do Movimento que ele apoiou desde o início em 2005, até sua grande vitória com a preservação do Túnel Verde da Rua Gonçalo de Carvalho.

Nadruz defendendo a Gonçalo em outubro de 2005.

Na nova Audiência Pública o arquiteto Nadruz foi vaiado pelos defensores do edifício
garagem quando se pronunciou. Quando cortaram o som do microfone, antes
de terminar sua fala, os defensores da Gonçalo - que eram minoria na Audiência -
protestaram tanto que permitiram que o velho arquiteto pudesse concluir seu
pronunciamento, com calorosos aplausos dos defensores da Gonçalo
e um silêncio constrangedor dos que queriam a obra.

01 junho 2014

5 de junho - dia Mundial do Meio Ambiente

5 de junho - dia Mundial do Meio Ambiente e da preservação da Rua Gonçalo de Carvalho
Foi num dia 5 de junho, em 2006, que conseguimos que a Rua Gonçalo de Carvalho fosse declarada Patrimônio Histórico, Cultural, Ecológico e Ambiental de Porto Alegre.

5 de junho de 2006 - Prefeito José Fogaça e Beto Moesch, secretário
do Meio Ambiente, assinam o decreto que preserva a Rua Gonçalo de Carvalho
Foto: PMPA
Foi o primeiro caso de uma via urbana ser declarada Patrimônio Ambiental de uma cidade, pelo que sabemos. Foi uma vitória da cidadania, não apenas de Porto Alegre mas também de nossos apoiadores no Brasil e de tantos lugares distantes ao redor do mundo, que conseguimos graças a essa fabulosa ferramenta de comunicação chamada internet.

Ato em 15/10/2005 pela preservação da Rua Gonçalo de Carvalho
Foto: Arquivo Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Em setembro de 2005 iniciou o movimento de resistência, pela preservação das árvores do Túnel Verde da Gonçalo de Carvalho. Muitos pensaram que o nosso objetivo era evitar a construção de uma sala sinfônica para a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, a OSPA, em área de um shopping vizinho. Errado!

Panfleto chamando para a segunda Audiência Pública, pois a primeira foi divulgada apenas
em um anúncio de jornal num sábado comunicando uma Audiência na segunda-feira.
Nenhum morador compareceu por não terem conhecimento da Audiência.
Na realidade foi a autorização para construir um grande edifício garagem (estacionamento de carros) no shopping vizinho, com a saída de todo o trânsito de veículos do shopping pela estreita e arborizada rua que motivou a campanha para defender a rua e suas árvores. Pretendiam posteriormente alargar a via com retirada de parte das árvores e ASFALTAR o leito da rua que é calçada com pedras. O calçamento de pedras da rua permite que a água da chuva penetre no solo e chegue até as raízes das árvores, asfaltar a rua causaria danos irreparáveis às árvores.

Mesmo tendo que enfrentar a prefeitura municipal, um tradicional grupo de mídia, o Shopping Center, uma poderosa indústria de óleos e um dos maiores símbolos de nossa cultura - a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre - decidimos resistir e pedir apoios no exterior por internet, pois éramos poucos.

Na segunda Audiência Pública, em 20/12/2005, moradores, ambientalistas e defensores
do direito do cidadão ser ouvido, dividiram espaço com os apoiadores da obra.
Muitos não conseguiram entrar no salão que estava lotado. Foto: Ricardo Stricher/PMPA
Muitos diziam concordar conosco, mas que era constrangedor ficar contra a OSPA e o edifício garagem estava no projeto da Sala Sinfônica. Outros diziam que enfrentar grupos tão poderosos, como a prefeitura, o tradicional grupo de mídia, uma indústria de óleos e um shopping center era perda de tempo, a derrota era certa. Nosso pedido de apoio na Câmara Municipal de Vereadores não foi ouvido, salvo por uma única vereadora.

Dias terríveis. Em 9 de janeiro de 2006 perdemos Haeni Ficht,
uma de nossas principais lideranças
Foram meses terríveis, praticamente todas as licenças já tinham sido concedidas pela prefeitura. A última, que autorizava a construção, foi emitida quando se realizava a missa em memória de nossa principal liderança, Haeni Ficht, falecido dias antes. Fomos chamados de "inimigos do progresso e da cultura", muitos de nós eram ameaçados e até insultados, como fez o então vice-prefeito Eliseu Santos. O Ministério Público já tinha atirado a toalha, dizia que nada mais poderia fazer, mas que fiscalizaria todas as possíveis irregularidades da construção.

Ataques do vice-prefeito: chama dois resistentes de "cornos"
Apesar de tudo nós resistimos, as reuniões aconteciam, as estratégias eram revisadas, novas ideias eram apresentadas. Desde outubro de 2005 criamos esse Blog e um endereço de e-mail para tentar alguma visibilidade ao que estava ocorrendo e, lógico, pedir apoios fora da cidade. No início de 2006 já recebíamos mensagens de apoios que perguntavam como poderiam auxiliar nossa luta e com o tempo isso foi aumentando, tanto do restante do Brasil como - para nossa surpresa - do exterior.

Atualmente a Rua Gonçalo de Carvalho é chamada no exterior como "a rua
mais bonita do mundo", pelas árvores e pela vitoriosa luta de seus defensores.
Até uma publicação da ONU destaca o exemplo da Gonçalo.
Felizmente vencemos, a rua foi a primeira via urbana tornada Patrimônio Ambiental de uma cidade na América Latina e foi chamada na Europa de "rua mais bonita do mundo", pela beleza de suas árvores e pela vitória de uns poucos cidadãos comuns que teimaram em resistir.

Pedido de apoios mandados por e-mail e também xerocados na copiadora da esquina.

Poster da Unep para o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2014


30 janeiro 2014

Quem realmente ganha com o ASFALTO em nossas cidades?

Uma das particularidades que muito chamam a atenção sobre a rua Gonçalo de Carvalho no exterior é seu calçamento de pedras, a rua não é asfaltada.


O decreto que preservou a Gonçalo de Carvalho em 2006, também preservou seu calçamento, ela não poderá ser asfaltada!

Texto no Blog "Cão Uivador":

Pelo “desasfaltamento” de Porto Alegre
Semana passada, passei pela avenida Venâncio Aires, no bairro Santana. A via passa por obras de recapeamento, e para isso teve o asfalto antigo “raspado”, para depois ser feita a nova cobertura. A visão era nostálgica: vinha à tona o antigo pavimento da avenida, de paralelepípedos. Pensei no quão bacana seria se todo o asfalto tosse retirado e a Venâncio voltasse a ser de paralelepípedos, mas, pouco tempo depois, alguns trechos já tinham sido asfaltados.

Reparei, então, em quantas ruas foram asfaltadas sem necessidade em Porto Alegre. Uma delas é a Pelotas, onde morei durante minha infância e que já tinha asfalto na década de 1980: rua sem muito movimento de carros, mas por onde passaram, até 1999, os caminhões da Brahma – óbvio que o motivo para o asfaltamento da via foi esse. A fábrica se mudou, mas o asfalto ficou.

Mas lembro de tempos em que outras hoje asfaltadas eram de paralelepípedos. Algumas bastante movimentadas, como a Ipiranga (que só recebeu asfalto no trecho entre a Borges de Medeiros e a João Pessoa em meados da década de 1990). Outras, porém, não tinham movimento tão grande que justificassem asfaltamento – casos da Fernando Machado e do trecho da Cristóvão Colombo entre a Barros Cassal e a Alberto Bins. Enquanto isso a movimentada Borges de Medeiros continua a não ser asfaltada entre a Ipiranga e a José de Alencar, e espero que ninguém invente de fazer isso.

“É ruim para os carros andar em ruas de paralelepípedos”, dirá algum motorista irritado. Ruim, não: é bom. Pois o calçamento ajuda a inibir as altas velocidades (muito embora não falte maluco disposto a acelerar sempre). Em uma rua asfaltada, a tentação de pisar fundo no acelerador aumenta, já que o veículo não “pulará” como nos paralelepípedos. Logo, inibir altas velocidades é bom – dá mais segurança tanto para os pedestres como também para os motoristas que preferem manter um ritmo mais “civilizado”, sem acelerar tanto.

Outro bom motivo para preferir o calçamento ao asfalto tem a ver com o escoamento da água das chuvas. Ruas asfaltadas são muito mais impermeáveis, e com isso, tendem a alagar mais em chuvaradas – assim como o entorno. Um dos melhores exemplos nesse caso é o que aconteceu na região do bairro Santana próxima à Jerônimo de Ornelas, asfaltada há cerca de 15 anos: a rua Laurindo, distante uma quadra, alagava “naturalmente” em enxurradas por ser uma baixada; após a Jerônimo receber asfalto, a quantidade de chuva necessária para inundar a Laurindo diminuiu. E poderia ser pior, se a própria Laurindo e ruas adjacentes não fossem de calçamento.

E esse calor, hein? Tem sido o assunto mais falado neste rigorosíssimo verão que ainda está longe de acabar. E como se não bastasse, a previsão é de que vai esquentar bem mais nos próximos dias e o tão esperado alívio demorará a vir. E o que isso tem a ver com asfalto? Bom, lembremos daquilo que tanto se diz, sobre roupas escuras serem mais quentes: acontece que elas refletem menos a luz; assim absorvem mais energia e consequentemente esquentam mais. Compare então a cor do asfalto com a do paralelepípedo: o que deixa a rua mais quente?

Outro aspecto bacana de manter o calçamento antigo é a preservação da memória, o que vai muito além da nostalgia por paralelepípedos. Sob o asfalto de muitas ruas, por exemplo, estão escondidos os trilhos dos bondes: eles deixaram de funcionar em 1970, mas lembro de algumas vias nas quais na década de 1980 os trilhos ainda apareciam e me chamavam a atenção; então meu pai explicava que era por ali que passavam os bondes, como eles funcionavam etc.

Isso deveria ser suficiente para que não se asfaltasse tantas ruas e seus calçamentos fossem mantidos. Porém, infelizmente, muitas pessoas acham que isso é “atraso”, e assim, nas metrópoles ou em cidades de interior, impera a política do “asfalta tudo” (em Porto Alegre, até parques!). Os carros continuam a ter maior importância que as pessoas para nossos governantes.

É um tanto arriscado dizer, mas ainda assim, digo: em 2016, um candidato a prefeito que propuser o “desasfaltamento” de Porto Alegre terá grande chance de receber meu voto. Mas que ele não se satisfaça com isso: caso não cumpra, pode esquecer meu apoio na eleição seguinte.