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01 junho 2014

5 de junho - dia Mundial do Meio Ambiente

5 de junho - dia Mundial do Meio Ambiente e da preservação da Rua Gonçalo de Carvalho
Foi num dia 5 de junho, em 2006, que conseguimos que a Rua Gonçalo de Carvalho fosse declarada Patrimônio Histórico, Cultural, Ecológico e Ambiental de Porto Alegre.

5 de junho de 2006 - Prefeito José Fogaça e Beto Moesch, secretário
do Meio Ambiente, assinam o decreto que preserva a Rua Gonçalo de Carvalho
Foto: PMPA
Foi o primeiro caso de uma via urbana ser declarada Patrimônio Ambiental de uma cidade, pelo que sabemos. Foi uma vitória da cidadania, não apenas de Porto Alegre mas também de nossos apoiadores no Brasil e de tantos lugares distantes ao redor do mundo, que conseguimos graças a essa fabulosa ferramenta de comunicação chamada internet.

Ato em 15/10/2005 pela preservação da Rua Gonçalo de Carvalho
Foto: Arquivo Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

Em setembro de 2005 iniciou o movimento de resistência, pela preservação das árvores do Túnel Verde da Gonçalo de Carvalho. Muitos pensaram que o nosso objetivo era evitar a construção de uma sala sinfônica para a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, a OSPA, em área de um shopping vizinho. Errado!

Panfleto chamando para a segunda Audiência Pública, pois a primeira foi divulgada apenas
em um anúncio de jornal num sábado comunicando uma Audiência na segunda-feira.
Nenhum morador compareceu por não terem conhecimento da Audiência.
Na realidade foi a autorização para construir um grande edifício garagem (estacionamento de carros) no shopping vizinho, com a saída de todo o trânsito de veículos do shopping pela estreita e arborizada rua que motivou a campanha para defender a rua e suas árvores. Pretendiam posteriormente alargar a via com retirada de parte das árvores e ASFALTAR o leito da rua que é calçada com pedras. O calçamento de pedras da rua permite que a água da chuva penetre no solo e chegue até as raízes das árvores, asfaltar a rua causaria danos irreparáveis às árvores.

Mesmo tendo que enfrentar a prefeitura municipal, um tradicional grupo de mídia, o Shopping Center, uma poderosa indústria de óleos e um dos maiores símbolos de nossa cultura - a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre - decidimos resistir e pedir apoios no exterior por internet, pois éramos poucos.

Na segunda Audiência Pública, em 20/12/2005, moradores, ambientalistas e defensores
do direito do cidadão ser ouvido, dividiram espaço com os apoiadores da obra.
Muitos não conseguiram entrar no salão que estava lotado. Foto: Ricardo Stricher/PMPA
Muitos diziam concordar conosco, mas que era constrangedor ficar contra a OSPA e o edifício garagem estava no projeto da Sala Sinfônica. Outros diziam que enfrentar grupos tão poderosos, como a prefeitura, o tradicional grupo de mídia, uma indústria de óleos e um shopping center era perda de tempo, a derrota era certa. Nosso pedido de apoio na Câmara Municipal de Vereadores não foi ouvido, salvo por uma única vereadora.

Dias terríveis. Em 9 de janeiro de 2006 perdemos Haeni Ficht,
uma de nossas principais lideranças
Foram meses terríveis, praticamente todas as licenças já tinham sido concedidas pela prefeitura. A última, que autorizava a construção, foi emitida quando se realizava a missa em memória de nossa principal liderança, Haeni Ficht, falecido dias antes. Fomos chamados de "inimigos do progresso e da cultura", muitos de nós eram ameaçados e até insultados, como fez o então vice-prefeito Eliseu Santos. O Ministério Público já tinha atirado a toalha, dizia que nada mais poderia fazer, mas que fiscalizaria todas as possíveis irregularidades da construção.

Ataques do vice-prefeito: chama dois resistentes de "cornos"
Apesar de tudo nós resistimos, as reuniões aconteciam, as estratégias eram revisadas, novas ideias eram apresentadas. Desde outubro de 2005 criamos esse Blog e um endereço de e-mail para tentar alguma visibilidade ao que estava ocorrendo e, lógico, pedir apoios fora da cidade. No início de 2006 já recebíamos mensagens de apoios que perguntavam como poderiam auxiliar nossa luta e com o tempo isso foi aumentando, tanto do restante do Brasil como - para nossa surpresa - do exterior.

Atualmente a Rua Gonçalo de Carvalho é chamada no exterior como "a rua
mais bonita do mundo", pelas árvores e pela vitoriosa luta de seus defensores.
Até uma publicação da ONU destaca o exemplo da Gonçalo.
Felizmente vencemos, a rua foi a primeira via urbana tornada Patrimônio Ambiental de uma cidade na América Latina e foi chamada na Europa de "rua mais bonita do mundo", pela beleza de suas árvores e pela vitória de uns poucos cidadãos comuns que teimaram em resistir.

Pedido de apoios mandados por e-mail e também xerocados na copiadora da esquina.

Poster da Unep para o Dia Mundial do Meio Ambiente de 2014


27 dezembro 2012

90 anos do ambientalista Augusto Carneiro

Augusto Carneiro em sua banca de livros na Feira Ecológica - 15/8/2009
No próximo dia 31 de dezembro o ambientalista Augusto Carneiro completará 90 anos com muitas histórias para contar.

Carneiro e sua esposa Rosalina, que faleceu em abril deste ano, na Feira Ecológica
- agosto de 2009

"Seu Carneiro", como é conhecido, colaborou na luta pela preservação das árvores da Rua Gonçalo de Carvalho, quando distribuiu em sua banca de livros sobre ecologia (na Feira Ecológica da Redenção) nossos panfletos para esclarecer a população e também pedindo uma nova Audiência Pública para discutir o projeto, no final de 2005.
Carneiro foi um dos fundadores da AGAPAN em 1971
 
Texto, de outubro de 2007, da jornalista Clarinha Glock:  
O ambientalista Augusto Carneiro e suas histórias 
Carneiro e Lutzenberger -
a criação da primeira Associação Ambientalista brasileira - arquivo AGAPAN
A pasta de couro surrada o acompanha há anos, desde que era membro do Partido Comunista (do qual foi expulso depois de denunciar as atrocidades cometidas por Stalin). Nela, Augusto César Cunha Carneiro carrega a vida em papéis: são artigos seus e do amigo José Lutzenberger, companheiro e mestre na luta em defesa do meio ambiente. De vez em quando, leva também um dos livros e várias das fotos de parques, praças e árvores que ajudou a plantar e a implantar e que hoje compõem parte de sua rica biblioteca. Na forma de xerox, suas idéias são espalhadas em panfletos distribuídos em eventos e na Feira Ecológica da Rua José Bonifácio, em Porto Alegre, em uma barraca de livros à venda, aos sábados pela manhã.

Na Feira Ecológica, pedindo o Veto ao Novo Código Florestal
Carneiro é um daqueles velhinhos de cabelos brancos e coração a 100 por hora. Tem 84 anos e uma energia invejável. Já foi contador, advogado, funcionário público e naturista. Seu currículo inclui a fundação da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) e da Pangea Associação Ambientalista. Ele é membro do Conselho da Fundação Gaia, e já atuou no conselho do DMAE.
Participando da homenagem aos 40 anos da AGAPAN na Câmara Municipal - Foto: CMPA
Tive o privilégio de ouvi-lo contar sua vida e pude registrar suas histórias em DVD. O trabalho, feito por uma cinegrafista amadora como eu, talvez deixe a desejar em técnica, mas é recheado de tanta vida, que a imagem por vezes sem foco perde importância diante do conteúdo. As conversas que tive com Carneiro renderam cinco DVDs que foram doados à Fundação Gaia. Cada pedaço da memória ali registrado ajuda a recompor as aventuras e as lutas dos ambientalistas dos anos 70 para cá. Estão ali as histórias da criação da Agapan, do Parque do Lami, do estudante Dayrell que subiu numa árvore para evitar que fosse derrubada (o vídeo Carneiro e Dayrell, disponível no YouTube, dá uma amostra).
Em 1975 o estudante Carlos Dayrell
sobe em uma árvore para impedir seu corte - Foto: arquivo AGAPAN
Fiel escudeiro de Lutzenberger, mas nem sempre tão lembrado como ele, Carneiro foi homenageado durante o 2º Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental realizado de 10 a 12 de outubro de 2007 no Salão de Atos da Ufrgs, em Porto Alegre. Recebeu uma placa de reconhecimento dos ecojornalistas na abertura do encontro e o vídeo com um resumo de suas histórias no encerramento.
Carneiro participando de uma reuni~eo do Conselho Superior da AGAPAN em 2012
Mas Carneiro ainda tem muito pela frente, não pode parar. Em sua casa ainda mantém um enorme arquivo sobre meio ambiente, que aos poucos vai repassando para entidades como a Fundação Gaia e o Núcleo Amigos da Terra. São pastas e mais pastas com recortes de jornais antigos, artigos de José Lutzenberger, Henrique Roessler, além de livros que recontam a história de parques, praças e da cidade de Porto Alegre. Material precioso de pesquisa, sua angústia no momento é como organizar e armazenar tudo isso em um só lugar, com o devido respeito, para que a história não se perca.
Participando de Audiência Pública para apoiar o projeto dos "Túneis Verdes", em 2012
Palestrando em 1995 na AGAPAN - Foto: arquivo  AGAPAN
Entrevista em vídeo, pela jornalista Clarinha Glock:

Está prevista uma homenagem ao ambientalista Augusto Carneiro no dia 5 de janeiro, junto a sua banca de livros na Feira Ecológica da Redenção.

*As fotos sem créditos de autoria são de Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho