"Este não é um ano sem Saramago. É um ano sem José"
José Saramago morreu há um ano, às 11 e meia da manhã do dia 18 de Junho de 2010, no seu quarto em Lanzarote. As suas cinzas serão depositadas hoje, às 11h, junto a uma oliveira que veio da Azinhaga e a um banco de jardim no Campo das Cebolas, em frente à Casa dos Bicos, futura sede da Fundação José Saramago, em Lisboa. Ficarão debaixo das raízes da árvore, que veio do olival onde Saramago viu o lagarto verde com que termina As Pequenas Memórias, acompanhadas do livro Palavras para José Saramago, antologia lançada ontem com textos e manifestações de homenagem ao escritor publicados depois da sua morte por várias personalidades de 23 países.
"Saramago deve estar ali acompanhado por todos os colegas e camaradas de letras de todo o mundo, que se esforçaram e escreveram para ele”, explicou a presidente da fundação, Pilar del Río. Durante a cerimónia de homenagem e deposição das cinzas, o professor e cantor lírico Jorge Vaz de Carvalho lerá Palavras para Uma Cidade, texto de Saramago que homenageia Lisboa, e a escritora Lídia Jorge falará. A Orquestra de Percussão Tocá Rufar actuará e o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, encerrará a cerimónia.
Ontem, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, onde Saramago esteve em câmara-ardente, na conferência de imprensa que iniciou as homenagens, Pilar del Río lembrou que não sabemos o que diria Saramago do que está a acontecer em Espanha ou sobre a Primavera no Norte de África e nos países árabes. Sabemos o que disse, o que está escrito nos seus livros. "Se me permitem", acrescentou, "este não é um ano sem Saramago. É um ano sem José. Um ano com Saramago absolutamente presente em artigos de opinião, em livros que se vão editando, em frases que se dizem". Para o provar, os lançamentos de O Silêncio da Água, fragmento de As Pequenas Memórias, com ilustrações do espanhol Manuel Estrada; a reedição de Viagem a Portugal, com capa nova e novo prefácio de Claudio Magris, e A Última Entrevista de José Saramago, de José Rodrigues dos Santos, que transcreve a entrevista que o Nobel deu em Outubro de 2009.
Hoje à noite, o documentário José & Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes, será exibido na SIC e haverá uma sessão especial na Cinemateca, em Lisboa, com o lançamento da edição em DVD e da banda sonora, composta por David Santos, do projecto noiserv. Amanhã, às 18h30, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, vai realizar-se o espectáculo As Sete Últimas Palavras de Cristo na Cruz, com música de Haydn e textos de Saramago, numa iniciativa do Ministério da Cultura. A concepção de cena é de Teresa Villaverde e a interpretação da Orquestra Sinfónica Portuguesa. "Poderá ser um concerto memorável que poderemos vir a recordar toda a vida". Será ouvida a voz de José Saramago na leitura do seu próprio texto, mas também "vozes de pessoas que de alguma maneira estão a ser crucificadas pela vida". A cineasta Teresa Villaverde explica: "Vou tentar que os textos sejam ouvidos de uma forma que imagino pudesse agradar ao José Saramago. Vamos trazer para o palco pessoas da vida real, de várias idades e vidas difíceis". Foi o maestro Jordi Savall que, em 2007, pediu ao Nobel português que reflectisse sobre a obra de Haydn. O concerto será de entrada livre, sujeita à lotação da sala.
Fonte: Público
José Saramago - FSM 2005 from Amigos da Gonçalo de Carvalho on Vimeo.
A sensacional participação de José Saramago no Fórum Social Mundial de 2005 em Porto Alegre.