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30 abril 2015

30 de abril e a Monsanto

Menina queimada por Napalm no Vietnã - foto da menina Kim Phuc por Nick Ut
30 de abril de 1975 – a derrota estadunidense no Vietnã e a disseminação mundial dos agrotóxicos

O dia 30 de abril marca o fim da Guerra do Vietnã (segundo os vietnamitas a “Guerra Americana”). Foi o mais longo conflito militar ocorrido após a II Guerra Mundial, durou de 1 de novembro de 1955 até 30 de abril de 1975 com a vitória do Vietnã do Norte e Frente Nacional de Libertação do Vietnã contra os Estados Unidos da América, Vietnã do Sul com participação secundária da Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

Crianças queimadas por Napalm - Nick Ut

Na guerra morreram cerca de quatro milhões de vietnamitas (de ambos os lados), dois milhões de cambodjanos e laocianos que foram arrastados para a guerra pela propagação do conflito, além de aproximadamente 60 mil estadunidenses.


Inúmeros crimes de guerra foram cometidos contra a população civil da região, massacres militares contra camponeses, bombardeios indiscriminados contra cidades e aldeias e também algo que chocou terrivelmente o chamado "mundo civilizado": o uso de Napalm e “Agente Laranja”.

O “Agente Laranja” é uma mistura de dois herbicidas: o 2,4-D e o 2,4,5-T. Ele foi usado como desfolhante pelo exército dos Estados Unidos nas florestas vietnamitas. Os dois integrantes do Agente Laranja tiveram uso na agricultura, principalmente o 2,4-D que é vendido até hoje.

O uso do “Agente Laranja” deixou sequelas terríveis na população do Vietnã e nos próprios soldados estadunidenses.

Aviões espalhando Agente Laranja no Vietnã (Wikipédia)

No período de 1961 a 1971, os Estados Unidos aspergiram 80 milhões de litros de herbicidas, que continham 400 quilogramas de dioxina sobre o território vietnamita, de acordo com estatísticas oficiais. Os constantes bombardeios químicos desfolhavam as florestas para tornar o inimigo visível. Os campos eram envenenados para que o vietcong não tivesse mais nada para comer. Nas áreas pulverizadas multiplicou-se por dez o número de nascimentos de crianças com anomalias; nasciam sem nariz, sem olhos, com hidrocefalia ou fendas no rosto – e as forças armadas dos Estados Unidos asseguravam que o produto seria tão inofensivo quanto a Aspirina.

Grupo de crianças deficientes, a maior parte vítima do Agente Laranja. (Wikipédia)

Esses desfolhantes destruíram o habitat natural, deixaram 4,8 milhões de pessoas expostas ao agente laranja e provocaram enfermidades irreversíveis, sobretudo malformações congênitas, câncer e síndromes neurológicas em crianças, mulheres e homens do país. O Vietnã alega que o desfolhante tóxico faz vítimas até hoje.

Helicóptero espalhando Agente Laranja nas florestas do Vietnã (Wikipédia)

Quem era o principal fabricante do “agente laranja”? Era a conhecida MONSANTO, indústria multinacional de agricultura e biotecnologia sediada nos Estados Unidos, hoje líder mundial na produção do herbicida glifosato, vendido sob a marca Roundup. Também é o produtor líder de sementes geneticamente modificadas (transgênicos), respondendo por 70% a 100% do mercado para muitas culturas.


Com o fim da guerra a MONSANTO disseminou mundialmente o uso maciço de agrotóxicos, sendo os herbicidas que contêm glifosato seus carros-chefes. Com a “experiência” adquirida no Vietnã, depois da guerra, a Monsanto passou a focar mais intensamente o setor agrário, o desenvolvimento de herbicidas e em seguida a produção de sementes. Nos anos oitenta, a biotecnologia foi declarada seu alvo estratégico, pois as sementes transgênicas criam a dependência para os produtores – ela cobra royalties dos produtores mesmo que não tenha fornecido as sementes – e sabidamente os transgênicos usam mais agrotóxicos.


Quando a Monsanto perderá sua guerra contra a humanidade?



05 fevereiro 2013

Solidariedade em Santa Maria

Comovente
Foram muitas as demonstrações de solidariedade após a tragédia ocorrida em Santa Maria. Já no dia 28 de janeiro todo o estoque do Banco de Pele de um hospital de Recife foi enviado para nosso estado para o tratamento dos queimados no incêndio. Logo após Uruguai, Argentina e Chile doaram pele e membrana amniótica aos feridos de Santa Maria.
O Brasil em Santa Maria - Charge de Galvão na Folha de São Paulo - 29/01/2013
Médicos e enfermeiros chegavam de vários locais do Brasil e até do exterior. Voluntários faziam lanches e compravam água para oferecer aos socorristas e familiares das vítimas, gente anônima, pessoas que só queriam ajudar de alguma maneira, por menor que fosse sua participação.

A designer Carla Vaucher - de Rivera (Uruguai) e residente em Vitória, estado do Espírito Santo - publicou este texto em seu perfil no Facebook:
"Esses depoimentos fazem parte das coisas que me emocionam todos os dias. E que me lembram de cada cantinho de Santa Maria. Das pessoas que lá conheci, das coisas que vivi. Choro a cada depoimento que leio. É como se um pedaço de mim ainda estivesse lá e esse pedaço sente dor. E chora."

Após seu texto compartilhou uma foto e texto de Marcio Luiz Nogarolli, médico do SAMU de Curitiba que esteve em Santa Maria prestando auxílio às vítimas da tragédia na boate Kiss:

Foto do médico Marcio Luiz Nogarolli colocada em seu perfil no Facebook
SANTA MARIA – MISSÃO CUMPRIDA
Fomos dar uma ajuda profissional, voltamos com o coração repleto de gente. Fomos para tentar minimizar a dor. Vocês nos maximizaram humanos.

O motorista de Taxi de Porto Alegre se recusou receber o preço da corrida só porque soube que estávamos indo para sua cidade. E disse que se ofenderia se insistíssemos em pagar. Sentei em uma escada para tomar fôlego e a voluntária veio perguntar se eu precisava de ajuda. Ela tinha uns 16 anos de idade.

A moça da limpeza achou uma medalha de algum santo. Uma jóia de 18 quilates. Passou mais de hora perguntando um a um se não lhes pertencia. Depois deixou o ramal do chefe onde a medalha estaria guardada.

Mas não foram essas as atitudes que mais me surpreenderam. O que mais me tocou é que vocês de Santa Maria transformaram substantivo em verbo.

Eu e meus amigos do Paraná vimos milhares de placas, adesivos, lacres de porta e fitas negras com a palavra “LUTO”.

Por vários dias eu achei que vocês estavam se referindo ao substantivo: conjunto de reações a uma perda, geralmente pela morte de alguém. Hoje entendi. No meio de tanta dor e diante da necessidade de não parar, “LUTO” em Santa Maria (RS) não é substantivo. É verbo. EU LUTO! Luto contra a dor, pra não parar, luto contra o injusto para não repetir, luto pelo menor para ninguém perder e luto contra a morte para o meu irmão viver. E é por isso tudo que eu quero que saibam: quando precisarem da gente para conjugar verbos, aí na sua terra, podem nos chamar. Vocês já tem o número!

O agradecimento do SAMU de Santa Maria aos médicos e enfermeiros paranaenses:
Foto: SAMU/Santa Maria
AGRADECIMENTO
Agradecemos aos Médicos e Enfermeiros do SAMU do Estado do Paraná, cidade Curitiba, que até ontem, atuaram como voluntários da Força Nacional do SUS em nossa cidade, colaborando com o SAMU Santa Maria e UPA24hs. Obrigado!!! Muita Luz e Paz em Suas Vidas!! Sucesso!!!

28 janeiro 2013

A revoltante tragédia de Santa Maria

Helicópteros do Força Aérea realizam uma verdadeira "ponte aérea"
entre Santa Maria e Porto Alegre para trazer vítimas em estado grave
aos hospitais da capital gaúcha. Foto: Cesar Cardia
Neste dia 27 de janeiro muito foi mostrado e dito sobre a tragédia na cidade de Santa Maria, que tirou a vida de mais de duas centenas de jovens em uma boate.
Mas talvez esse texto do escritor e jornalista Flávio Tavares seja o que melhor expressa nossa revolta:

Flávio Tavares: Brutal, revoltante
Além do pranto e da solidariedade, resta agora o caminho mais árduo: encontrar os assassinos diretos e indiretos, afirma articulista de Zero Hora

Consumada a tragédia, além do pranto e da solidariedade, resta agora o caminho mais árduo: encontrar os assassinos diretos e indiretos. Sim, pois na tragédia de Santa Maria os culpados transformam-se em assassinos, em autores de um homicídio coletivo.

Não se equivocaram ou cometeram um simples erro, enchendo os salões além da lotação máxima habitual. Sabiam que não havia saídas e nunca se interessaram em resolver o problema. Programaram a atração de um fogaréu nos salões para atrair mais gente, mesmo sabendo que fogo se propaga. Tudo foi feito como se fosse premeditado.

Armaram o cenário da morte, mesmo dizendo (ou pensando) que queriam divertir. Os fiscais municipais "deixaram por isto", pois a burocracia só cuida dos papéis e, nos papéis, tudo se contorna com propina. "As licenças estavam em ordem", dirá, certamente, a prefeitura ou quem de direito. E daí?

Onde estava, porém, a responsabilidade empresarial? O correto empresário não vende água como se fosse leite, à espera de que o poder público, ao fiscalizar, alerte que água não é leite... Em Santa Maria, agora, tudo se juntou — sanha de lucro fácil, desídia e irresponsabilidade dos donos da boate além da fiscalização municipal carcomida pelo desleixo ou pelo suborno.

A tragédia exige pensar a fundo e indagar sobre a sociedade de consumo e seu hedonismo, que transforma tudo em mercadoria de venda fácil. Até a vida de mais de duas centenas de jovens que buscavam relaxar e e divertir-se. Esta tragédia não é apenas dramática e brutal, é revoltante.

Flávio Tavares
Escritor e jornalista