Saudades de Berlim
Juremir Machado da Silva*
Eu já morei em Berlim. Estou com saudades. Meu amigo Erick Felinto casou-se com a Fernanda e está por lá. Tuitou esta informação: "Fecharam a Kudamm e a Kantstrasse e o pessoal está correndo nas ruas de noite... Muito legal". Aqui, à noite, nas ruas, corre-se de ladrão e da Polícia. A Europa devastou suas florestas, construiu grandes cidades, bancou guerras e, por experiência, redescobriu a necessidade de devolver às cidades aos seus habitantes. Nos meus vários anos no Velho Continente, algo sempre me chamou a atenção: aquilo que era considerado ultrapassado aqui, era moderno lá - trens, bicicletas, piqueniques, vestidinhos confortáveis para as mulheres, nada de tudo colante, sapatos baixos, silêncio, preferência ao pedestre, médico de família, o Estado a serviço de todos os cidadãos, greves, etc.
A nossa modernidade é a pré-modernidade dos europeus: construir arranha-céus à beira dos rios, devastar a natureza, privilegiar os automóveis, estado mínimo, cidades cada vez maiores, os negócios acima de tudo, de qualquer limite, do interesse público. Dado que a Europa praticou tudo o que agora condena, queremos ter o direito de fazer o mesmo. Em lugar de aprender com o passado dos outros, desejamos repetir os erros dos outros para assegurar a fortuna de alguns às custas dos demais. Moderno hoje não é fazer condomínio de luxo nas poucas áreas verdes privilegiadas que restam em cidades como Porto Alegre. Moderno é ser ecologista. Tem muita gente que se acha moderna e, por isso, torce o nariz para bicicletas quando está por aqui, mas, ao chegar em Paris, acha lindo passear romanticamente sobre duas rodas.
Em nossas cidades, o carro é rei. Os muito ricos vão morar cada vez mais longe, paradoxalmente, para se ver livres das áreas de maior circulação, ficando escravos dos seus veículos cada vez mais caros e estilosos. Degradam as zonas centrais e viajam todo dia para encontrar o que ainda resta de natureza. A regra simples: amam a natureza, desde que isso não atrapalhe os negócios. É a vanguarda do pré-capitalismo. Um atraso. Rentável. É gente que se acha moderna por pilotar veículos altamente poluentes e inúteis e por ganhar muito dinheiro tentando imitar a estética brega de Dubai ou de Miami. Nenhuma obra arquitetônica tornará as áreas verdes, na Capital gaúcha, mais belas do que elas são ao natural. Porto Alegre será muito moderna se conseguir preservá-las e transformá-las em lugares para se correr à noite. Ser moderno é ter transporte coletivo de qualidade. A modernidade começa com metrô subterrâneo.
A modernidade prossegue com trens de grande velocidade, com transporte ferroviário de mercadorias e com executivos indo trabalhar de bicicleta. Porto Alegre será moderna quando alguém puder correr à noite na Rua da Praia sem ser suspeito de coisa alguma. Antes da crise americana de 2008, a vanguarda do pré-capitalismo brasileiro adorava anunciar a falência da Europa. Alguns vibram agora com a crise grega, esperando que seja o começo do fim da Europa do Bem-Estar Social. Enquanto isso, nos Estados Unidos, Obama conseguiu finalmente modernizar a saúde dando proteção estatal aos cidadãos.
A nossa modernidade é a pré-modernidade dos europeus: construir arranha-céus à beira dos rios, devastar a natureza, privilegiar os automóveis, estado mínimo, cidades cada vez maiores, os negócios acima de tudo, de qualquer limite, do interesse público. Dado que a Europa praticou tudo o que agora condena, queremos ter o direito de fazer o mesmo. Em lugar de aprender com o passado dos outros, desejamos repetir os erros dos outros para assegurar a fortuna de alguns às custas dos demais. Moderno hoje não é fazer condomínio de luxo nas poucas áreas verdes privilegiadas que restam em cidades como Porto Alegre. Moderno é ser ecologista. Tem muita gente que se acha moderna e, por isso, torce o nariz para bicicletas quando está por aqui, mas, ao chegar em Paris, acha lindo passear romanticamente sobre duas rodas.
Em nossas cidades, o carro é rei. Os muito ricos vão morar cada vez mais longe, paradoxalmente, para se ver livres das áreas de maior circulação, ficando escravos dos seus veículos cada vez mais caros e estilosos. Degradam as zonas centrais e viajam todo dia para encontrar o que ainda resta de natureza. A regra simples: amam a natureza, desde que isso não atrapalhe os negócios. É a vanguarda do pré-capitalismo. Um atraso. Rentável. É gente que se acha moderna por pilotar veículos altamente poluentes e inúteis e por ganhar muito dinheiro tentando imitar a estética brega de Dubai ou de Miami. Nenhuma obra arquitetônica tornará as áreas verdes, na Capital gaúcha, mais belas do que elas são ao natural. Porto Alegre será muito moderna se conseguir preservá-las e transformá-las em lugares para se correr à noite. Ser moderno é ter transporte coletivo de qualidade. A modernidade começa com metrô subterrâneo.
A modernidade prossegue com trens de grande velocidade, com transporte ferroviário de mercadorias e com executivos indo trabalhar de bicicleta. Porto Alegre será moderna quando alguém puder correr à noite na Rua da Praia sem ser suspeito de coisa alguma. Antes da crise americana de 2008, a vanguarda do pré-capitalismo brasileiro adorava anunciar a falência da Europa. Alguns vibram agora com a crise grega, esperando que seja o começo do fim da Europa do Bem-Estar Social. Enquanto isso, nos Estados Unidos, Obama conseguiu finalmente modernizar a saúde dando proteção estatal aos cidadãos.
Fonte: jornal Correio do Povo, 03/08/10
Notícia da edição impressa do Jornal do Comércio – 30/07/2010:
Prefeito veta 60 metros de proteção para orla do Guaíba
Fernanda Bastos
Terminou nesta quinta-feira o mistério sobre os vetos do prefeito José Fortunati (PDT) ao projeto de lei de revisão do Plano Diretor de Porto Alegre, sancionado na semana passada. Os 50 destaques do prefeito à matéria foram publicados no Diário Oficial do Município desta quinta-feira.
Um dos vetos que deve gerar polêmica atinge a emenda de autoria do vereador Airto Ferronato (PSB), que fixava uma faixa mínima de preservação de 60 metros nas margens do Guaíba. A regra seria aplicada entre a Usina do Gasômetro e o limite do bairro Lami. Nessa parte da orla, deveriam ser construídos apenas equipamentos públicos com acesso à população, como ciclovias, praças e quadras esportivas, além de uma avenida.
O supervisor do Planejamento Urbano e coordenador do trabalho dos técnicos da Secretaria do Planejamento Municipal (SPM), que apresentaram ao prefeito um parecer sobre a redação final da revisão, engenheiro José Luiz Fernandes Cogo, relata que o veto foi sugerido pela equipe porque o artigo tratava da mesma forma pontos extremos da orla, sem levar em conta as características de cada local.
O restante do texto aqui:
Fortunati veta proteção para orla do Guaíba, aprovada no PDDUA
e aqui: