Ecochatos e agrochatos
Juremir Machado da Silva - Jornal Correio do Povo
Nada como uma boa polêmica. Faz quatro dias que estou apanhando sem parar dos ruralistas por ter criticado a mudança do código florestal brasileiro. A argumentação dos meus oponentes tem a sofisticação de sempre: eu sou um ignorante, um preconceituoso, falo por ouvir dizer, deveria juntar eu mesmo o meu cocô para ajudar a resolver os problemas ambientais, etc, etc. Nunca um criticado me chamou de inteligente. Jamais um criticado meu deu razão. Pois, como sempre, eu li o projeto que altera o código florestal e tudo sobre ele. Faz parte dos meus hábitos. Gosto de estar armado até os dentes. Todas as contestações que me foram enviadas estão disponíveis em meu blog (www.correiodopovo.com.br).
O novo ângulo de ataque, ou de defesa, dos ruralistas é simples (ou simplório?): quem polui é a cidade. O campo só quer “produzir com dignidade”. É o jargão em voga. Imagino que todos os ambientalistas sejam ignorantes como eu. Tenho citado alguns especialistas cuja argumentação me impressiona, como o professor Paulo Brack, do Instituto de Biociência da Ufrgs. Deve ser um preconceituoso sem par. Outro dia, ouvi a argumentação do promotor Júlio de Almeida, do Ministério Público Estadual. Deve ser outro ignorante. As posições desse pessoal me parecem interessantes, mas, como sempre, penso por conta própria. Li e reli o conteúdo das mudanças. Elas almejam a redução ao mínimo das leis de proteção ambiental. Um dos meus críticos chamou essas leis de “entulhos”. Outro, sempre atuante, afirma que minhas opiniões são meramente ideológicas. Desconheço pessoas mais ideológicas do que os ruralistas. Eles acham, porém, que são neutros, imparciais, isentos e técnicos. Uau!
Alguns ficaram indignados por eu ter chamado ruralistas de agrochatos e de atrasados. Como se diz popularmente, nos olhos dos outros é colírio. Volta e meia, ouço de um ruralista a expressão ecochato ou a designação dos ambientalistas como esquerdistas atrasados. O vereador Beto Moesch (PP), severo crítico das mudanças do código florestal, é um esquerdista atrasado, um direitista anacrônico ou um ecochato? Ou mais um preconceituoso e ignorante que não entende os seus amigos nem a maioria dos integrantes do seu partido? Depois dessa polêmica, aprendi muito: nossos ruralistas são ecologista na cidade. Fazem tudo para proteger a natureza e acabam injustiçados por idiotas como eu.
A lista dos ignorantes é vasta. Começa com Marina Silva. Hoje, quem coloca a produção acima da defesa do meio ambiente, pratica um reducionismo. Quem defende que a natureza permaneça intocada em detrimento da produção de alimentos, também pratica um reducionismo. O Código Florestal em vigor, no entanto, está bem longe de querer manter a natureza intocada. As Áreas de Preservação Permanente, por exemplo, que alguns desejam extinguir, representam um ponto de equilíbrio. Nada mais. Diminuem a área de produção? Obviamente. Aumentam o espaço de preservação. Vou me atrever a dar uma sugestão aos meus oponentes: arranjem novos argumentos. A simples desqualificação como ignorante é argumento muito fraco.Fonte: Blog do Juremir