A manifestação em Porto Alegre teve a presença de representantes de entidades ambientais, como AGAPAN, Mira Serra, SOS Mata Atlântica, Núcleo Amigos da Terra, Núcleo de Ecojornalistas do RS e o Movimento em Defesa da Orla do Guaíba, além de movimentos sociais como Gae (Grupo pela Abolição do Especismo), Fórum de Entidades e integrantes de associações e movimentos de bairros, entre outros simpatizantes da causa ambiental.
Atores do Depósito de Teatro, de Porto Alegre, realizaram performances que encenaram um cortejo fúnebre, carregando um caixão e pregando flores pretas nas camisetas do público que, curioso, acompanhava a marcha. Mudas de árvores nativas foram colocadas no asfalto, simbolizando a esperança de vida.
Mais fotos aqui: Ato em Defesa do Código Ambiental
No jornal Zero Hora de hoje:
Crime & negócios
por Flávio Tavares*
Estamos todos perplexos, país afora, pelo tom macabro do assassinato de Eliza Samudio, até aqui anônima amante de Bruno das Dores, goleiro do Flamengo, do Rio, com quem teve um filho de poucos meses. Ele armou a cilada que levou ao sequestro em que a estrangularam – e o crime seria brutal se concluísse aí. Mas, depois, o ex-policial pago para estrangulá-la, esquartejou o corpo, desossou-o como rês em açougue, juntou os ossos num saco e deu a carne a famintos cães rottweiler.
Que crime é esse? Nem o mais perverso autor de folhetim policial ousaria inventá-lo, juntando tanta atrocidade!
Astro do futebol, Bruno ganha uns R$ 400 mil ao mês (entre salário e patrocínios) e, preso, confessou sua dor: a de não jogar na Seleção na Copa de 2014… Não fosse o tormento de consciência de um cúmplice adolescente (que revelou o horror), todos nós iríamos aplaudir o mandante do crime quando a maré da Copa invadir o Brasil, daqui a quatro anos.
Nada disto é tão grave, porém, quanto outro crime cujo andamento o país acompanhou passo a passo: o novo Código Florestal, aprovado por comissão especial da Câmara dos Deputados, que entrega bosques e florestas à sanha do desmatamento.
Sim, pois este foi um crime pensado e debatido ao longo de meses. Não foi um crime passional, em que paixão e ódio se misturam em estímulos mútuos, e a irritação pode desencadear crueldades como as do goleiro Bruno.
A Câmara Federal perpetrou algo ainda mais tresloucado, conduzida pela chamada “bancada ruralista” e sob comando do deputado Aldo Rebelo, do PC do B paulista, relator do projeto de reforma ao Código Florestal! A opinião de cientistas e técnicos não foi ouvida nem prevaleceu o bom senso. Predominou o interesse mesquinho de lucro a curto prazo. Nunca a vida nem o futuro. O deputado-relator sequer se lembrou de que o grande guia do seu partido chamou-se João Amazonas, cujo nome leva automaticamente à floresta.
De que valem os alertas sobre a fragilidade do planeta, sobre a necessidade de preservar rios e florestas para manter a própria vida na Terra? Agora, foram abolidos praticamente todos os obstáculos à devastação contidos no código atual.
Para coroar o crime insano (e talvez insanável), serão perdoadas as multas aplicadas a quem desmatou até julho de 2008, sob pretexto de “regularizar sua situação”. As multas – mais de R$ 8 bilhões – seriam usadas em políticas de reflorestamento. Mais terrível do que isso, porém, é o precedente de que a lei fixe data para legalizar o crime de desmatar!
O delito está em todas as partes. Ou não é crime prestigiar a um criminoso, aplaudi-lo, abraçá-lo como irmão?
O que foi a visita do presidente do Brasil ao facínora Obiang Mbasogo, que há 30 anos governa pelo terror a Guiné Equatorial, torturado rincão da África? Lula da Silva comprometeu-se até com o pedido do ditador de incorporar a Guiné à Comunidade de Países de Língua Portuguesa, ainda que lá ninguém fale português.
“Negócios são negócios”, disse o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, justificando o gesto e em alusão ao petróleo.
O mesmo dirá o ex-policial Neném, que estrangulou Eliza, esquartejou e desossou o cadáver e, depois, o deu de comer aos cães. Afinal, “matador” é o seu ofício e “negócios são negócios”. Ou não?
*Jornalista e escritor
A posição do Ministério Público Federal sobre as alterações no Código Florestal: