28 junho 2006

OSPA no Estaleiro Só?

Nova Ospa
Depois de muitas andanças e mudanças, tudo indica que o novo prédio do Teatro da Ospa será construído no Estaleiro Só, perto do Museu Iberê Camargo, ali na beira do Guaíba. Já não era sem tempo de a cidade começar a se voltar para as margens do rio.

Jornal Zero Hora, Segundo Caderno, Coluna RS Vip


Sobre o Estaleiro Só:

O Estaleiro Só, uma área com mais de 50 mil metros quadrados junto ao Guaíba, na zona Sul da capital, está desativado desde 1995. Na tentativa de dar uma utilização à área, já ocorreram dois leilões, o primeiro em março de 1999 e o segundo em dezembro do mesmo ano. Ambos fracassaram por falta de interessados na compra do terreno, avaliado atualmente em R$ 17 milhões, aproximadamente. Um novo leilão deverá ocorrer até maio deste ano.

Atualmente, cerca de 600 ex-funcionários aguardam a venda do terreno na esperança de verem quitadas suas dívidas trabalhistas que somam cerca de R$ 14 milhões, entre pagamento de salários, décimo-terceiro, e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço. O terreno escriturado compreende cerca de 42 mil m2. O Estaleiro possui ainda mais 14 mil m2 provenientes de áreas aterradas no local.

Entre os motivos pela falta de interesse dos compradores estavam as dívidas da companhia, cuja falência foi decretada em 1995, além da ausência de uma regulamentação urbana para a área. Através da lei complementar nº 470/02, que passou a vigorar em 2 de janeiro deste ano, a Prefeitura de Porto Alegre definiu o regime urbanístico a ser adotado no Estaleiro Só.

O Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Ambiental (PDDUA) define a área como espaço especial. Isto designa os proprietários a promover no local somente atividades de interesse cultural, turístico e paisagístico. A lei define que o percentual destinado à área pública será constituído por um parque urbano com acessibilidade pública, de responsabilidade do proprietário e de acordo com o projeto aprovado pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, privilegiando a integração da população com o Guaíba e seu acesso a toda orla pertencente à gleba.

Serão permitidos no local o comércio varejista - com exceção de depósitos ou postos de revenda de gás -, funerárias e postos de abastecimento que não estejam vinculados à atividade náutica. A área ainda poderá ser ocupada por serviços vinculados à atividade náutica e os considerados especiais, como arenas esportivas e marinas.

A preocupação da comunidade porto-alegrense e do poder público municipal até então vem sendo com a preservação do espaço físico da área e sua destinação pública. Pouco tem se discutido sobre o potencial cultural e histórico que se revela no Estaleiro Só, que conta parte da história da indústria no Rio Grande do Sul.

Ele foi fundado na metade do século XIX, em 1850, época em que Porto Alegre não poderia ser considerada mais do que uma aldeia, por Antonio Henriques da Fonseca, João Ribeiro Henriques e José Manuel da Silva Só. Tratava-se, no entanto, da primeira ferraria e fundição que se tem notícia na capital, estabelecida na esquina da Rua Uruguai com a Praça Montevidéo, no coração de Porto Alegre. Em 1900, depois de várias alterações societárias, passou a se chamar Só e Filhos e, posteriormente, Só e Cia., mudando, também, diversas vezes de endereço.

Produziram ferros, sinos para igrejas, tachos de cobre e, durante a guerra do Paraguai, forneceram bocais, estribos e cornetas para o exército em operação. Neste período, parece ter se desenhado a vocação da empresa, que também passou a fazer reparos na frota naval da Marinha Brasileira.

Nas últimas décadas, estabeleceu-se finalmente como sociedade anônima, adotando o nome de Estaleiro Só S.A. Depois de já constituído como um estaleiro, produziu mais de 170 embarcações, cerca de 30 modelos de navios, entre eles ferry-boats, navios-tanque, baleeiras, rebocadores, iates e pesqueiros. Seu apogeu ocorreu durante a década de 70, do século XX. Neste período, chegou a contabilizar cerca de 3 mil funcionários.

Os anos 80, no entanto, foram implacáveis com o setor naval no Brasil, que sofreu um forte declínio, principalmente devido à falta de financiamentos. O Estaleiro Só iniciou, então, um processo de diversificação de suas atividades, abrindo uma divisão de metal-mecânica, destinada à fabricação e pré-montagem de caldeiraria pesada, semi-pesada e leve. Esta iniciativa, que chegou a dar uma sobrevida ao empreendimento, não foi suficiente para mantê-lo ativo nos anos que se seguiram.

Fonte: Blog do Guiarony