Onda de calor e ausência de árvores nas calçadas
José Hamilton de Aguirre Junior – Engenheiro Florestal, Mestre em Arborização Urbana, coordenador do Projeto “Cambuí Verde”.
Estamos estarrecidos com a onda de calor e seca que atinge vários estados e cidades brasileiros. Em Campinas, a ameaça do racionamento de água, a temperatura de 36,8oC do dia 5 de fevereiro de 2014 e, a umidade relativa do ar, abaixo de 30%, impressionam, pela gravidade e, consequências em nossas vidas.
O que esses fatos tão assustadores têm a ver com a ausência generalizada de árvores nas calçadas de nossa cidade?
É nos passeios das vias campineiras onde mais sentimos os eventos extremos que nos penalizam. Se a Lei de Arborização 11571/03 e a Lei de Calçadas 11418/02 fossem respeitadas, as árvores nos protegeriam, amenizando a aridez viária atual. Trajetos a pé ou em veículos, em ruas sem o sombreamento da vegetação, em qualquer horário do dia, têm representado sofrimento e risco para a coletividade. Esse é um considerável gargalo da infraestrutura urbana por aqui: A ausência de uma rede de serviços ambientais capaz de fornecer qualidade de vida aos munícipes. O calor, a falta de umidade do ar, os raios solares prejudiciais e a poluição estão acentuados onde faltam árvores urbanas.
Alguns plantios têm sido realizados em Campinas, em canteiros centrais e em áreas verdes. Em calçadas, é lastimável o desrespeito do poder público com a população. Árvores de porte alto e copa densa são removidas e, em seu lugar, quando ocorre a reposição, os arbustos como o rededá – Lagerstroemia indica e as arvoretas têm avançado. Os canteiros são tão pequenos ou ausentes nas novas mudas e nas árvores antigas, que é um milagre a sobrevivência desses exemplares.
Na matéria “Vendaval muda paisagem no Cambuí”, do caderno A10 deste jornal, de 21 de janeiro de 2014: os Ficus – Ficus benjamin que caíram pela ventania, tinham suas raízes contidas em pequenos quadrados elevados de concreto; as palmeiras rabo de peixe – Caryota urens, estavam em final de ciclo de vida, bastante debilitadas. O manilhamento, a elevação de construções e de terra sobre o colo (base da árvore) e sobre as raízes, como o caso relatado, as apodrece, afeta e destrói sua estabilidade. Essas têm sido grandes razões para perdas de árvores em Campinas. A falta do uso adequado do conhecimento técnico sobre o tema tem levado à desarborização municipal e à perda dos benefícios que poderíamos usufruir.
O calor que sentimos está muito além do suportável. Faz-se imperioso rearborizarmos e entendermos a importância das árvores para o meio urbano. O asfalto, o cimento, as construções, telhas e os metais de coberturas, são grandes acumuladores e refletores de calor. Árvores grandes e de copa densa, funcionam como grandes bombas de água para o entorno, eficientes refrigeradores, sombreadores, filtros e umidificadores do ar. Essas qualidades das árvores não são lembradas antes de estarmos em catástrofes, como a atual.
Medidas concretas de ação individual, do poder público e empresarial precisam ser tomadas: O plantio e o replantio de árvores de espécies médio e grande portes, com benefícios ambientais; a abertura de canteiros generosos para irrigação e sustentação adequada dos vegetais; a manutenção preventiva dos exemplares, com remoção de ramos secos, doentes e das árvores mortas; o enterramento urgente da rede aérea de energia, em compartilhamento com as outras redes de utilidades (água, gás, esgoto, fibra ótica), instalados no leito carroçável, respeitando as raízes.
Campinas e sua população sofrem pela má condução das decisões com sua arborização viária. Em épocas de calamidade ficam mais evidenciados o despreparo e a falta de condições gerenciais para com o nosso verde. Há diversos anos inúmeros técnicos se manifestam sobre o assunto visando à reversão dessa situação. O aumento significativo de recursos para a manutenção de áreas verdes, ainda não refletiu em passeios arborizados. O calor, a poluição e o desconforto térmico são a realidade nas ruas ou em nossas residências. Árvores em todas as calçadas de Campinas nos protegeriam sempre. Ainda mais, no trágico período que nos assola.
Publicado no jornal Correio Popular de Campinas/SP, em 13/2/2014
(texto recebido via Facebook e autorizada a publicação pelo próprio autor)