Cerca de 700 pessoas de uma comunidade de catadores de lixo são vizinhos da Câmara Municipal de Porto Alegre, em terrenos ocupados irregularmente do Centro Administrativo Federal. A área denominada Vila Chocolatão é cercada de prédios públicos e está localizada em pleno centro da capital gaúcha. Nesse local, as famílias vivem sob condições de vida precária e insalubre. Além disso, o lugar é considerado uma das mais violentos da cidade. No aglomerado de casebres, os moradores convivem com lixo espalhado, assaltantes e traficantes de drogas.
Há muito tempo espera-se uma solução para essas pessoas que vivem da coleta de papel, no centro da cidade. A prefeitura pretende reassentar a vila em um terreno cedido pela união, na periferia da cidade. Mas fica a pergunta: Eles não irão retornar? Se vivem da coleta no centro da cidade, como poderão, indo residir em local tão distante, continuar com seu trabalho?
Pobreza não é apenas carência material, falta de recursos econômicos, falta de moradia digna, vestuário e alimentação. Pobreza é exclusão social, é carência não penas de bens materiais como também de serviços essenciais à dignidade humana.
A classes média e rica produzem grande quantidade de lixo que é a sobrevivência dessa pobre gente da Vila Chocolatão. Se afastadas de sua fonte de sobrevivência, como poderão tirar seu sustento?
Mas os políticos não enxergam o problema assim, tampouco outros aproveitadores que querem que a comunidade continue nessa miséria degradante, pois isso lhes é muito útil. Utilizam essa pobre gente como massa de manobra para dar alguma visibilidade midiática quando alguns farelos de "bondade" são espalhados pela vila.
Em 20 de abril de 2007 o Movimento Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho mandou algumas sugestões para nossa Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Entre elas estava:
• Não seria possível adaptar a experiência japonesa de recolher o óleo usado nas residências, para uma cooperativa (?) que faz sabão artesanal? Não podemos continuar colocando óleo usado no esgoto!Essa sugestão referia-se ao caso da Vila Chocolatão. Se os moradores fossem deslocados para a periferia da cidade não poderiam continuar a coleta de papel que fazem no centro da cidade e eles já são reconhecidos pelos moradores do centro, conseguiriam exercer a mesma atividade em outro local?
Nossa sugestão era que a prefeitura fornecesse condições técnicas e materiais para que formassem uma cooperativa, em seu novo local de assentamento, para reciclar o óleo de cozinha da região centro. Bastaria que tivessem um local para estocar o óleo recolhido nas residências (depósito do DMLU) e um caminhão da prefeitura que rxrcutasse o transporte desse óleo para os galpões de reciclagem da cooperativa. Seria tão complicado isso?
Mas nossa prefeitura não entendeu assim. Pouco tempo depois alardeou um "sistema de recolhimento de óleo usado", onde cada cidadão levaria o óleo para o DMLU e este entregaria "de graça" para empresas que fariam sua reciclagem. Ou seja, empresas estariam lucrando com o que poderia ser a redenção dos moradores da Vila Chocolatão!
Ainda hoje a Vila Chocolatão espera uma solução, encravada no centro da cidade de Porto Alegre.
Vila Chocolatão no jornal:
CrimePolícia investiga três mortes de crianças
Em menos de dois meses, moradores da Vila Chocolatão, no Centro da Capital, uma das mais carentes da cidade, choraram a morte de três crianças, assassinadas de forma brutal.
O crime mais recente atemorizou mais a comunidade: na segunda-feira, dia em que completaria dois anos, Luís Juliano do Nascimento foi encontrado morto, às margens do Guaíba. Tinha os pés amarrados a uma mochila, onde havia pedaços de concreto. A polícia desencadeou uma caçada ao criminoso. As investigações apontam para um suspeito e não descartam a hipótese de as mortes estarem relacionadas.
- Eram três inocentes, né? A gente está com medo - diz uma moradora, que prefere não ser identificada.
"Com criança é ainda pior"
Cristielen Lublana dos Santos Pereira, dez anos, Eduardo Ávila Pinheiro, 11 anos, e Luís Juliano Nascimento eram todos moradores da Chocolatão. A menina foi achada morta em 1º de junho. Eduardo, no dia 9 de julho, e Luís, na noite de segunda-feira.
Última pessoa a ver Luís, a moradora diz que deu banho nele na sexta-feira, 7 de julho. Ele era criado por Moacir Farias dos Santos, 41 anos, e pela companheira dele, Fabiana Maria Cardoso Ávila, mãe de outras duas crianças, entre elas Eduardo. Questionado sobre o sumiço de Luisinho, Moacir teria dito que ele estava com uma tia. Por isso, a família custou a perceber o desaparecimento.
Precauções contra o medo
Com medo, moradores pretendem colocar homens de plantão na vila.
- Orientamos as mães a levar e buscar os filhos na escola - informou um morador.
Luís será enterrado hoje no Cemitério da Santa Casa.
Saiba mais sobre a Chocolatão
- Atualmente, 200 famílias vivem na Vila Chocolatão. A principal atividade desenvolvida pelos moradores é a de reciclagem de lixo.
- Os primeiros moradores chegaram há 12 anos.
- As famílias serão transferidas para uma área no Bairro Humaitá. Segundo o Departamento Municipal de Habitação, a transferência deve acontecer no primeiro semestre de 2007.
Moradora da vila, que não quis se identificar
"Eram três inocentes, né? A gente está com medo"
Fonte: Diário Gaúcho - Link da notícia: MP/RS