29 agosto 2013

A polêmica abertura da Rua Pinheiro Machado

Em Porto Alegre, o que importa são os carros, não as pessoas?
Já se falava, desde o início das atividades do Shopping Total, que o acesso à rua Pinheiro Machado pela Av. Independência seria reaberto. Isso permitiria que mais carros pudessem ter acesso ao Shopping, vindo pela Av. Independência. O acesso da Independência está bloqueado mais ou menos há 25 anos.

Rua Pinheiro Machado com Av. Independência - Google Street View
Certamente existiam bons motivos para o bloqueio, pois até então o executivo municipal não cogitava a reabertura... Até o terreno da antiga cervejaria ser locado para o Shopping Center.

A antiga Cervejaria Bopp, depois Continental e Brahma, no início do século XX

Moradores da redondeza não acreditavam que a rua fosse realmente reaberta, pois depois da luta pela preservação da Gonçalo de Carvalho, com a vitória pela preservação de seu Túnel Verde, ficaria "muito na vista" mais uma tentativa de favorecer um empreendimento comercial em detrimento dos interesses de moradores.
Mas agora, com a cidade entupida de carros, isso ficou muito mais fácil, foram apresentadas novas justificativas de modo a não ficar tão visível que o objetivo principal é facilitar o acesso ao Shopping Center.

Para onde querem levar mais carros?
 
Lembrando alguns fatos
Em 2010 tomou posse a nova composição da RGP1. O Fórum da Região de Planejamento 1, mais conhecido como RP1, engloba os bairros Marcílio Dias, Floresta, Centro, Auxiliadora, Moinhos de Vento, Independência, Bom Fim, Rio Branco, Mont’Serrat, Bela Vista, Farroupilha, Santana, Petrópolis, Santa Cecília, Jardim Botânico, Praia de Belas, Cidade Baixa, Menino Deus e Azenha.

Os bairros da RP1

A nova composição da RP1 foi escolhida na eleição de outubro do ano anterior e diplomada, assim como as demais 7 regiões, no dia 20 de janeiro de 2010. Foram empossados como conselheiros da RP1 o arquiteto Ibirá Lucas (titular), João Volino Corrêa (presidente da Associação de Moradores da Auxiliadora como 1º suplente) e Cesar Cardia (Movimento Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho e sócio benemérito da AMABI (Associação dos Moradores e Amigos do bairro Independência) como 2º suplente).
Logo nas primeiras reuniões da RP1 apareceram dois representantes de moradores da Rua Pinheiro Machado - Leon Hernandes e Maria Alice Kauer - solicitando apoios contra a abertura da rua onde residiam. Suas justificativas foram acolhidas pela imensa maioria dos delegados e conselheiros da RP1, queriam preservar a qualidade de vida, própria da região, evitando que a pequena rua se transformasse em corredor de veículos que se dirigiam ao Shopping. Existem muitos idosos residindo na rua e ela fora escolhida por essas características que estariam sendo ameaçadas.

Maria Alice e Leon na reunião da RP1 - 25/2/2010

A RP1, assim como as demais RPs, é um Fórum aberto a todos, sejam moradores ou empresários, para que lá levem seus questionamentos ou reclamações que posteriormente os conselheiros as representem junto ao CMDUA (Conselho do Plano Diretor da cidade de Porto Alegre).
O Leon e a Maria Alice disseram que já haviam ido na Comissão de Urbanização, Transportes e Habitação (Cuthab) e haveria mais reuniões na Câmara Municipal, pediram que um dos conselheiros e algum delegado da Região comparecesse para prestar apoio, o que foi feito.
A AMABI também apoiava a não abertura da rua e seu novo presidente, Diônio Kotz, estava presente na reunião na Comissão da Câmara Municipal, mas a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) que desejava a abertura da rua, simplesmente nem compareceu e isso deixou os vereadores extremamente irritados. Outros representantes do executivo que compareceram na reunião pouco ou nada esclareceram sobre os motivos da pretendida reabertura da rua, disseram ser assunto da EPTC, não tinham maiores informações.
"O secretário adjunto da Secretaria Municipal de Obras e Viação (Smov), Adriano Gularte, ressaltou que a EPTC foi a autora da proposta de reabertura da Pinheiro Machado, que teria sido apresentada à comunidade, em 2006, durante o licenciamento ambiental do Shopping Total. Segundo ele, os problemas visariam resolver problemas de circulação viária da região. O engenheiro Breno Ribeiro, da Secretaria de Planejamento do Município (SPM), negou que a medida visasse a beneficiar o Shopping Total." (Veja nesse link)

Antes da reunião do dia 27 jornais já davam a notícia
da abertura da rua. No jornal de bairro "Fala Bom Fim" a notícia aparece
ao lado de propaganda da prefeitura municipal sobre "sustentabilidade".

De lá para cá o assunto foi se arrastando e os jornais recentemente anunciaram a imediata abertura da rua, como algo já definido pela prefeitura municipal. A justificativa era os congestionamentos na Av. Independência e na Rua Ramiro Barcelos, o que é uma realidade. Apenas não foi dito que em reunião (segunda reunião, na primeira a comunidade e imprensa estavam presentes mas a EPTC simplesmente não compareceu), também na RP1, para tratar da inversão de tráfego nas ruas Santo Antônio e Garibaldi por motivo de obras no Túnel da Conceição, a inversão de mão nas duas vias e com a proibição de conversão à esquerda na Garibaldi (a Santo Antônio permitia isso) todos os veículos que pretendiam acessar a Farrapos e Cristóvão Colombo teriam que ir até a Praça Júlio de Castilhos, contornar a Praça, para acessarem a Ramiro Barcelos, rua com trânsito pesado. Disseram que era uma emergência, depois de um ano de obras no Túnel tudo voltaria a ser como antes. Não voltou. A Rua Santo Antônio e a Rua Garibaldi continuaram com o fluxo de trânsito invertido e o problema na Praça Júlio de Castilhos e Ramiro Barcelos só tem piorado com o crescente número de veículos em circulação.

RP1 - "Quem viu a EPTC por aí?" - em 15 de julho de 2010

Se a prefeitura (EPTC) quiser reduzir a quantidade de veículos na Av. Independência em direção a Praça e Ramiro, teria que oferecer uma opção aos que pretendem descer a Ramiro, como era com a Santo Antônio, e isso não ocorrerá com a abertura da Pinheiro Machado, pois a rua tem apenas TRÊS quadras e fatalmente um grande problema ao tentarem acessar a Ramiro Barcelos pela Rua Tiradentes.
Esses argumentos aparentemente não convencem o executivo municipal, nem o abaixo assinados dos moradores com mais de 1.500 assinaturas contra a abertura da Pinheiro Machado que os moradores conseguiram.

Reunião com a comunidade no Colégio Rosário - 27/8/2013

Neste dia 27 de agosto aconteceu uma reunião promovida pela AMABI e prefeitura municipal para tratar do assunto com a comunidade.
Muitos souberam da reunião na véspera ou no próprio dia, com a chuva que caia muitos avisados na última hora nem puderam comparecer. A EPTC apresentou seus argumentos, refutou que fosse mais uma tentativa para beneficiar o Shopping, ouviu opiniões que discordavam ou concordavam com a abertura da rua, mas aparentemente já estava decidido que a rua seria aberta "para desafogar o trânsito", até o presidente da AMABI que já tinha atuado contra a abertura comunicou que mudara de opinião. Em nome dos associados da entidade prestou apoio à EPTC. Eu, como sócio benemérito da AMABI, reafirmei minha posição contrária, pois os argumentos apresentados não eram minimamente convincentes, a abertura da rua - caso realmente desloque os veículos que querem descer a Ramiro para a Pinheiro Machado - causará mais problemas à região, hoje um ponto turístico por causa da Gonçalo de Carvalho, e também para a qualidade de vida das pessoas em detrimento de possíveis benefícios ao trânsito.

A Rua Pinheiro Machado, coincidentemente, vai até a entrada de carros do Shopping.

O vice-prefeito Sebastião Melo, que dirigiu a reunião, foi muito atencioso e político. Todos que o conhecem sabem que ele deve ser o político dessa administração que mais dialoga, quando presidente na Câmara Municipal deve ter sido quem mais promoveu Audiências Públicas com a comunidade, isso até seus adversários políticos reconhecem. Melo realmente poderia ter decidido sem ouvir a comunidade, mas fez a reunião e ouviu também os descontentes. Talvez tenha ficado com dúvidas sobre as soluções que a EPTC promete, quem sabe? Ao fim da reunião disse que a Rua Pinheiro Machado seria reaberta para teste por 90 dias e os resultados seriam avaliados e rediscutidos. O grande problema é que em Porto Alegre o "provisório" quase sempre passa a ser "definitivo".

Av. Independência, em frente ao Complexo Hospitalar da Santa Casa

Bem no momento que atingimos o limite de 400 ppm de CO2 na atmosfera, perdemos mais uma batalha para os carros...
Todos sabem que existe uma demanda reprimida, carros que não circulam por nossas ruas estarem entupidas de veículos. Quanto mais dermos espaços para eles, mais carros entrarão em circulação e isso não desafogará o trânsito caótico, ao contrário, só piorará o quadro.Por isso, muitas cidades estão reduzindo a quantidade de pistas e evitando carros em regiões, especialmente nas regiões centrais.

Cesar Cardia
Integrante do Movimento Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho
Sócio benemérito da AMABI
Associado da AGAPAN
Ex-conselheiro da RGP1
Participante do Fórum de Entidades para a Revisão do Plano Diretor de Porto Alegre

Leia:
400 ppm de CO2 na atmosfera: estamos no limite

19 agosto 2013

Subindo na Chaminé da Usina do Gasômetro - 17 de agosto de 1988

Ambientalistas logo após colocarem a faixa de protesto na chaminé da Usina.
17 de agosto de 1988 - Foto: arquivo AGAPAN.

Tomando a Chaminé da Usina do Gasômetro

Em 17 de agosto de 1988 a chaminé de 124m de altura foi palco de uma inédita manifestação ecológica que visava chamar a atenção da cidade para a votação do Projeto Praia do Guaíba que ocorreria naquele dia na Câmara de Vereadores. Quatro ecologistas da AGAPAN (Gert Schinke, Guilherme Dorneles, Gerson Buss e Sidnei Sommer) escalaram a chaminé e em seu topo colocaram uma faixa de protesto ao pretendido projeto.

A manifestação da chaminé do Gasômetro foi tida como uma das mais bem sucedidas pelo movimento ecológico gaúcho pois trouxe ao centro da agenda política a ocupação da orla do Rio Guaíba, objeto de permanente polêmica, a exemplo da que gerou a Consulta Pública realizada no dia 23 de agosto de 2009, e que evidenciou a vontade da população portoalegrense em não ceder a orla para prédios residenciais, como propunha o projeto urbanístico Pontal do Estaleiro.
A chaminé da Usina com a faixa de protesto.
17 de agosto de 1988 - Foto: arquivo AGAPAN.

Em 1988, o atual prefeito José Fortunati - à esquerda na foto - apoiava
os ambientalistas e tenta defendê-los da investida da Brigada Militar
quando da tomada da Chaminé do Gasômetro. Hoje ele pensa de maneira diferente.
Em 17/08/1988. Foto: arquivo Gert Schinke.

Ainda em 1988, pouco antes da eleição para a Prefeitura de Porto Alegre (era no 15 de novembro e em um só turno), o então Prefeito Alceu Collares inaugurou a Avenida Beira-Rio. Era o primeiro passo de um projeto maior que deveria urbanizar a orla do Guaíba. A avenida foi feita, mas no domingo anterior à inauguração, houve um grande “abraço ao Guaíba” em protesto ao projeto de urbanização da Orla.



Leia no Blog do Emílio Pacheco o texto sobre o "abraço ao Guaíba" de 1988:
Abraço ao Guaíba em 1988

06 agosto 2013

6 de agosto de 1945

A cidade de Hiroshima após o bombardeio
Hiroshima
No dia 6 de agosto de 1945, numa segunda-feira, a cidade japonesa de Hiroshima foi destruída pela bomba atômica “Little Boy”.

Às 8h15min, o avião americano Enola Gay largou a bomba nuclear sobre o centro de Hiroshima. Ela explodiu a cerca de 600 m do solo, com uma explosão de potência equivalente a 15 mil toneladas de TNT, matando um número estimado de 70.000 a 80.000 pessoas instantaneamente. Foi estimado que mais de 90% dos prédios foram danificados ou completamente destruídos.
Morte em Hiroshima - fotógrafo japonês desconhecido
Segundo informações mais recentes de Hiroshima, em 6 de agosto de 2005, o número total de mortos entre as vítimas do bombardeio eram de 242.437. Esse número inclui todas as pessoas que estavam na cidade quando a bomba explodiu, ou que foram mais tarde expostas a cinza nuclear e posteriormente morreram.