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Árvores exóticas e administradores nativos
Por Tiago Holzmann da Silva*
O paisagismo é a disciplina que trata da organização do espaço aberto
constituído por praças, parques, orlas, grandes avenidas. Ao contrário
do que muitos imaginam, o paisagismo não se restringe apenas ao trato da
vegetação, sendo que esta característica o diferencia da simples
jardinagem. O responsável pelo projeto de paisagismo é o arquiteto e
urbanista e sua atribuição permite que projete, além da vegetação,
pavimentos e caminhos, equipamentos, mobiliário urbano, iluminação e
infraestrutura.
Porto Alegre é reconhecida como a capital mais arborizada do Brasil. O
paisagismo de nossa cidade é muito diversificado apresentando um amplo
conjunto de espécies inseridas em nossas ruas, praças e parques. Além
das nativas paineiras, jacarandás, canafístulas, ipês e outras, também
adotamos muitas espécies exóticas como plátano (América do Norte),
cinamomo (Austrália), flamboyant (Madagascar), a washingtonia (México e
Califórnia) palmeira dos canteiros de grandes avenidas como a Osvaldo
Aranha e a Getulio Vargas, e espécies orientais de pequeno porte como a
extremosa e o ligustro.
A tipuana (Tipuana tipu), espécie cortada para a ampliação da via em
frente ao Gasômetro, é uma espécie considerada nativa, de acordo com a
bibliografia técnica, do cone sul da América, presente desde a Argentina
até a Bolívia. A tipuana é uma das espécies mais utilizadas no
paisagismo urbano em todo o mundo devido à características importantes
como sua resistência, rápido crescimento, tronco retilíneo, facilidade
de condução (podas), sombra farta e floração abundante. Em Porto Alegre,
para dar apenas dois exemplos, são as tipuanas que oferecem sombra para
o Bric da Redenção e também que configuram o túnel verde da Rua Gonçalo
de Carvalho, a “rua mais linda do mundo”.
A justificativa de que a tipuana é exótica e, por isto, merece ser
cortada é falsa e está sendo utilizada para desviar o foco principal do
debate. O que os administradores nativos precisam esclarecer é se o
asfalto e os viadutos são uma prioridade sobre os parques e as praças,
uma questão que, desde 1975, já parecia resolvida em Porto Alegre. E se,
após uma discussão pública decente, a conclusão de nossos
administradores nativos for preponderante, que se cortem as exóticas e
também as nativas para que o asfalto e os viadutos possam garantir o
direito de ir e vir dos veículos e o livre trânsito das máquinas. Esta é
a verdadeira questão em discussão: quem tem prioridade os veículos ou
as pessoas?
*Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil / IAB-RS