23 agosto 2012

Três anos da vitória do NÃO ao Pontal

Arquiteto Nestor Nadruz, um dos coordenadores do Movimento, fazendo campanha
No dia 23 de agosto de 2009 a população de Porto Alegre - após grande mobilização popular - conseguiu o direito de discordar nas urnas de uma alteração na legislação municipal que beneficiaria um empreendimento residencial na Orla do Guaíba.


Vídeo explicando os motivos para votar NÃO

A prefeitura municipal "rebaixou", através de sua própria liderança na Câmara, o "referendo" proposto por ela mesma para uma "consulta pública" - com a não obrigatoriedade de voto - deixando implítito que o veto a residências não impediria de fossem erguidas no local prédios comerciais.
Charge de Santiago no jornal Extra Classe

Mas a população foi às urnas e deixou bem claro que ela é contrária a construções residenciais e comerciais na Orla.


A  vitória do NÃO na RBS TV - programa TeleDomingo

Foi uma grande vitória, mas apenas uma batalha. A luta continua, também contra as construções comerciais na Orla do nosso Guaíba!

Algumas mensagens de apoios recebidas pelo Movimento em Defesa da Orla, naqueles dias tão agitados que antecederam a Consulta Pública:
(Mensagens recebidas por  Zoravia Bettiol, ativa participante do Movimento em Defesa da Orla do Rio Guaíba)

Porto Alegre precisa de civilidade, não de empreendimentos megalômanos. Precisamos de respeito ao meio ambiente e, principalmente, precisamos respeitar as pessoas que vivem e trabalham em nossa cidade. O projeto de reformulação do Pontal do Estaleiro é ousado e tem ares de coisa nova e boa. No entanto, descaracteriza de forma grosseira o perfil da cidade. A orla do Guaíba não merece ser povoada por construções de gosto árido e duvidoso. Sendo rio ou não sendo rio, o Guaíba ainda resiste heroicamente às investidas da urbanidade selvagem e de suas obras de gosto pedestre e padronizado. Precisamos preservar com amor o pouco, bem pouco, que temos.
- Cíntia Moscovich

Na qualidade de escritor, de médico de saúde pública e de cidadão portoalegrense, posiciono-me ao lado daqueles que defendem a preservação ambiental na cidade de Porto Alegre. Nossa capital sempre foi um reduto da consciência ecológica no Brasil, e é importante mantermos fidelidade a uma luta da qual depende o futuro de nossa população.
- Moacyr Scliar


Vamos defender a orla para todos e dizer não à privatização da paisagem.
- Luis Fernando Veríssimo

Um dos excelentes textos do jornalista Juremir Machado da Silva sobre a polêmica do projeto imobiliário Pontal do Estaleiro que fez muita gente entender o que havia "por trás do Pontal:

RECAPITULAÇÕES EM PALOMAS

(No jornal Correio do Povo de 16/3/2009, a coluna do escritor e jornalista Juremir Machado da Silva)
 Reunião num canto da Câmara de Vereadores de Palomas. João da Garupa cochicha com seus coleguinhas:
- Agora vai. Palomas precisa de espigões. Vamos autorizar a construção de um conjunto residencial de luxo na Ponta do Denílson. Coisa de país desenvolvido. Mas primeiro temos de expulsar o pobrerio dali das proximidades.
- Bueno, com qual argumento? – inquieta-se Tinão.
- Ora, com a lei: a beira do rio não é para moradia.
- Entendi, muito boa essa, depois a gente muda a lei.
- Calma, Tinão. Só depois que a área for vendida.
- Genial, João – entusiasma-se Carvãozinho. – Assim quem comprar poderá pagar mais barato e depois ganhar muito. O progresso exige investimentos arriscados e visionários.
- Hummm… Aquela área não foi doada pelo poder público? Tendo perdido a função, não deveria voltar a ser pública?
- Bobagem, Aniceto, um dos nossos interventores, gente boa da redentora, eliminou essa exigência, alegando questão de segurança nacional. Não tem pra ninguém.
- E se tiver muita pressão da opinião pública, João?
- A gente recua e pede ao prefeito para vetar.
- Nossa, tu pensas em tudo, João.
- Mas se o prefeito veta, não acaba tudo?
- A gente sugere que ele recomende um referendo.
- E se ele topa?
- A gente derruba o veto.
- E se, de novo, a opinião pública pressionar?
- A gente confirma o veto, aprova antes outros projetos de clubes de futebol, mistura tudo, confunde um pouco e transforma o referendo em consulta popular.
- Qual a diferença, João? Já não me lembro.
- O voto na consulta popular não é obrigatório.
- Mas que argumento usar para cancelar o referendo?
- O preço. Vamos dizer que sai muito caro.
- Nossa, João, tu pensas em tudo mesmo.
- Eu me inspiro em Carlos Lacerda. Uma vez, quando Getúlio se candidatou à Presidência, em 1950, Lacerda saiu-se com esta: ‘Vargas não deve ser candidato. Se for candidato, não deve ser eleito. Se for eleito, não pode tomar posse. Se tomar posse, não pode governar. Se governar, deve ser pressionado até ser deposto.
- É… Mas ele foi eleito, tomou posse e governou…
- Deu no que deu, não é, Aniceto?
- Que cultura! Que preparação!
- É que eu me preocupo com o futuro de Palomas.
- E o resto da orla, vai continuar igual?
- Não sejas bobo, Aniceto. Onde passa um boi, passa uma boiada. Depois de passar uma cabecinha, vai o resto.
- Hummm… Os ecologistas vão berrar até o fim.
- Deixa que berrem, Carvãozinho, teremos a mídia a nosso favor. A Rede Baita Sol vai fechar com a gente, não é?
- Essa é quente mesmo. Sempre do lado do progresso.
- E se mesmo assim o berreiro for grande demais?
- Ora, Aniceto, nossos visionários vão pressionar o restante da mídia. Todo empresário já foi patrocinador ou será patrocinador um dia. É gente com poder de fogo.
- É, não tem erro, João, é tiro certo.
- Certeiro, Aniceto. Rumo ao futuro grandioso.
- Mas pode demorar. Sabe como é, tudo é lento.
- A gente aprova regime de urgência.
- Agora vai! Precisa mesmo essa consulta popular?
- Vamos ver…

Ambientalistas enfrentam vereadores na Câmara Municipal  – Foto: Elson S. Pedroso/CMPA


No blog Porto Alegre Resiste: Em 23 de agosto de 2009 a cidade disse NÃO