Dia 9 de janeiro de 2006 falecia Haeni Ficht, líder comunitário que deu início ao movimento em defesa da Rua Gonçalo de Carvalho. Haeni foi o inspirador e principal ativista do movimento Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho.
Posteriormente foi um dos fundadores da AMABI e seu primeiro presidente. Haeni era dentista e residia no edifício Ado Malagoli, vizinho ao estacionamento do Shopping Total, onde era subsíndico. Estava entusiasmado, por ser apreciador da boa música, com a construção do Teatro da OSPA junto ao estacionamento do Shopping. Mas até então se desconhecia o projeto do Teatro e ninguém falava da construção de um grande edifício-garagem junto a rua Gonçalo de Carvalho.
Certo dia, lendo o jornal Correio do Povo, viu uma pequena notícia que alterou seu humor. Dizia o jornal que seria construído um edifício-garagem de sete pavimentos, sendo dois deles subterrâneos, junto a Gonçalo de Carvalho. Ele sabia bem que ali era uma pedreira e que para contruir um prédio daquelas proporções iria causar sérios danos não apenas aos prédios vizinhos como, fundamentalmente, à rua e suas belas árvores.
Pegou o jornal e bateu à porta da síndica do prédio, Sinova Telles, grande apreciadora de música erudita. Mostrou o jornal e perguntou se haviam maneiras de conseguir maiores esclarecimentos a respeito. Sinova respondeu prontamente: "vamos falar com a OSPA e solicitar informações". Após uma série de telefonemas conseguiram agendar uma reunião no apartamento da síndica onde participariam moradores do prédio, o superintendente do Shopping, o presidente da Fundação OSPA e o presidente da Associação Cristóvão Colombo, pois não havia Associação na Independência e o Shopping situa-se no bairro Floresta.
Já nesta primeira reunião as posições ficaram claras. Os moradores da rua estavam sós. Não teriam acesso à planta do edifício-garagem, o Shopping cedia o espaço para a construção desde que fosse contruída a garagem com um número igual de vagas perdidas e a Associação Cristóvão Colombo - cujo presidente é suplente de vereador - via com muita simpatia o projeto, pois o Shopping Total é parceiro fiel de suas promoções. A prefeitura já havia aprovado tudo em pouco mais de um mês e apenas faltava UMA licença para terem a autorização de construir tudo.
Nessa reunião o presidente da OSPA teria dito que o responsável pelo projeto logo colocaria as plantas da garagem à disposição dos moradores, algo que não aconteceu... até a data de hoje.
Haeni contou para a Sinova que estava muito desconfiado com o que estava acontecendo. Ora, o projeto de construção da Sala Sinfônica da OSPA era conhecido de todos, mas nunca se havia falado na garagem. Haviam imagens até em 3D do teatro mas não havia nada que sugerisse a contrução do tal edifício com 650 vagas de estacionamento. Ele estaria junto ao túnel verde da Gonçalo?
Tudo foi aprovado silenciosamente em 30 dias assim que assumiu o novo governo.
As instalações da antiga cervejaria Brahma não estavam tombadas como patrimônio cultural de Porto Alegre, a ponto de não poderem existir construções maiores que os prédios históricos da Brahma?
Para uma obra de tal porte não haveria a necessidade legal de consultar a vizinhança?
Os prédios vizinhos, alguns muito antigos, não seriam abalados? Pois as fundações seriam muito profundas e teria que ser usada muita dinamite, pois o local é uma pedreira basáltica. Por que não podiam ver as plantas do edifício-garagem?
Estaria projetado para futuras ampliações até o limite de 14 andares previsto no Plano Diretor da cidade?
O Shopping não era inquilino no local? Poderia repassar parte de seu terreno para a Fundação?
Haveria dinheiro público numa obra grandiosa que após o vencimento do contrato de locação iria passar para o real dono do terreno?
A saida dos carros da garagem seria pela rua Gonçalo de Carvalho?
Mas, sobretudo, porque a pressa na aprovação e o silêncio sobre a construção da garagem?
Qual o verdadeiro impacto ambiental sobre a rua, seus pássaros e árvores, sobre a vizinhança?
O Haeni disse: "aí tem coisa! Vamos ter que tentar mobilizar as pessoas".
Tudo começou assim. Foi uma briga desigual contra gente poderosa. Muitos se juntaram a nós. Outros diziam que era "muito delicado" se colocar contra algo que levava o nome OSPA, grande orgulho dos gaúchos e em especial dos porto-alegrenses.
Foi uma boa luta. A mídia silenciava (RBS) ou nos atacava (Caldas Júnior) e respondíamos com panfletos entregues porta-a-porta. Na prefeitura apenas o secretário Beto Moesch (Meio Ambiente) mostrava uma constrangida simpatia. O Haeni fazia tudo, pagava despesas com panfletos, pesquisava, convidava os vizinhos a participarem, era difícil acompanhar ele.
Certo dia ele descobriu a Alda Py, fundadora e vice-presidente da Associação Moinhos de Vento e moradora da Independência. Ela colocou os jornais de bairro FLORESTA e JÁ em contato com os moradores. Começamos a ter voz na mídia. Mas a poderosa RBS continuava distante e silenciosa. Até entendíamos isso. Afinal o real proprietário do terreno do Shopping era uma empresa do presidente de sua concorrente Caldas Júnior. Quando a RBS nos procurou para ouvir nossa versão dos fatos muita gente começou a ter algumas dúvidas. O Lasier Martins fez um programa "Conversas Cruzadas" na TVCom com o Haeni nos representando. A TVE fez matéria na rua e o Haeni falava por nós. O Haeni era nosso voz e nossa cara quando das entrevistas. O Haeni sempre à frente... Criou a AMABI, entidade jurídica, para poder entrar no Ministério Público a fim de buscarmos a defesa da comunidade.
A briga foi realmente grande e antes de ter seu desfecho vitorioso para a comunidade, perdemos o Haeni.
Nunca tivemos maiores informações sobre sua morte. Foi um grande baque. O Marcelo Ruas, vice-presidente da AMABI, assumiu e continuamos a peleia.
Todos pegaram juntos. A maior parte de maneira anônima. Empregadas domésticas e doutores, operários e professores, moradores do bairro e gente que mora em vilas distantes. Entidades ambientalistas, outras associações de bairro, e apenas UM político teve a coragem de nos apoiar abertamente: a vereadora Sofia Cavedon. Os demais vereadores e deputados silenciaram, afinal quem iria "afrontar" o nome da gloriosa OSPA?
Que pena Haeni que morrestes antes de nossa vitória. Pois se a vitória foi da cidade e da cidadania, neste caso específico a cidade e seus cidadãos tiveram uma cara e um nome: Haeni Ficht.
Posteriormente foi um dos fundadores da AMABI e seu primeiro presidente. Haeni era dentista e residia no edifício Ado Malagoli, vizinho ao estacionamento do Shopping Total, onde era subsíndico. Estava entusiasmado, por ser apreciador da boa música, com a construção do Teatro da OSPA junto ao estacionamento do Shopping. Mas até então se desconhecia o projeto do Teatro e ninguém falava da construção de um grande edifício-garagem junto a rua Gonçalo de Carvalho.
Certo dia, lendo o jornal Correio do Povo, viu uma pequena notícia que alterou seu humor. Dizia o jornal que seria construído um edifício-garagem de sete pavimentos, sendo dois deles subterrâneos, junto a Gonçalo de Carvalho. Ele sabia bem que ali era uma pedreira e que para contruir um prédio daquelas proporções iria causar sérios danos não apenas aos prédios vizinhos como, fundamentalmente, à rua e suas belas árvores.
Pegou o jornal e bateu à porta da síndica do prédio, Sinova Telles, grande apreciadora de música erudita. Mostrou o jornal e perguntou se haviam maneiras de conseguir maiores esclarecimentos a respeito. Sinova respondeu prontamente: "vamos falar com a OSPA e solicitar informações". Após uma série de telefonemas conseguiram agendar uma reunião no apartamento da síndica onde participariam moradores do prédio, o superintendente do Shopping, o presidente da Fundação OSPA e o presidente da Associação Cristóvão Colombo, pois não havia Associação na Independência e o Shopping situa-se no bairro Floresta.
Já nesta primeira reunião as posições ficaram claras. Os moradores da rua estavam sós. Não teriam acesso à planta do edifício-garagem, o Shopping cedia o espaço para a construção desde que fosse contruída a garagem com um número igual de vagas perdidas e a Associação Cristóvão Colombo - cujo presidente é suplente de vereador - via com muita simpatia o projeto, pois o Shopping Total é parceiro fiel de suas promoções. A prefeitura já havia aprovado tudo em pouco mais de um mês e apenas faltava UMA licença para terem a autorização de construir tudo.
Nessa reunião o presidente da OSPA teria dito que o responsável pelo projeto logo colocaria as plantas da garagem à disposição dos moradores, algo que não aconteceu... até a data de hoje.
Haeni contou para a Sinova que estava muito desconfiado com o que estava acontecendo. Ora, o projeto de construção da Sala Sinfônica da OSPA era conhecido de todos, mas nunca se havia falado na garagem. Haviam imagens até em 3D do teatro mas não havia nada que sugerisse a contrução do tal edifício com 650 vagas de estacionamento. Ele estaria junto ao túnel verde da Gonçalo?
Tudo foi aprovado silenciosamente em 30 dias assim que assumiu o novo governo.
As instalações da antiga cervejaria Brahma não estavam tombadas como patrimônio cultural de Porto Alegre, a ponto de não poderem existir construções maiores que os prédios históricos da Brahma?
Para uma obra de tal porte não haveria a necessidade legal de consultar a vizinhança?
Os prédios vizinhos, alguns muito antigos, não seriam abalados? Pois as fundações seriam muito profundas e teria que ser usada muita dinamite, pois o local é uma pedreira basáltica. Por que não podiam ver as plantas do edifício-garagem?
Estaria projetado para futuras ampliações até o limite de 14 andares previsto no Plano Diretor da cidade?
O Shopping não era inquilino no local? Poderia repassar parte de seu terreno para a Fundação?
Haveria dinheiro público numa obra grandiosa que após o vencimento do contrato de locação iria passar para o real dono do terreno?
A saida dos carros da garagem seria pela rua Gonçalo de Carvalho?
Mas, sobretudo, porque a pressa na aprovação e o silêncio sobre a construção da garagem?
Qual o verdadeiro impacto ambiental sobre a rua, seus pássaros e árvores, sobre a vizinhança?
O Haeni disse: "aí tem coisa! Vamos ter que tentar mobilizar as pessoas".
Tudo começou assim. Foi uma briga desigual contra gente poderosa. Muitos se juntaram a nós. Outros diziam que era "muito delicado" se colocar contra algo que levava o nome OSPA, grande orgulho dos gaúchos e em especial dos porto-alegrenses.
Foi uma boa luta. A mídia silenciava (RBS) ou nos atacava (Caldas Júnior) e respondíamos com panfletos entregues porta-a-porta. Na prefeitura apenas o secretário Beto Moesch (Meio Ambiente) mostrava uma constrangida simpatia. O Haeni fazia tudo, pagava despesas com panfletos, pesquisava, convidava os vizinhos a participarem, era difícil acompanhar ele.
Certo dia ele descobriu a Alda Py, fundadora e vice-presidente da Associação Moinhos de Vento e moradora da Independência. Ela colocou os jornais de bairro FLORESTA e JÁ em contato com os moradores. Começamos a ter voz na mídia. Mas a poderosa RBS continuava distante e silenciosa. Até entendíamos isso. Afinal o real proprietário do terreno do Shopping era uma empresa do presidente de sua concorrente Caldas Júnior. Quando a RBS nos procurou para ouvir nossa versão dos fatos muita gente começou a ter algumas dúvidas. O Lasier Martins fez um programa "Conversas Cruzadas" na TVCom com o Haeni nos representando. A TVE fez matéria na rua e o Haeni falava por nós. O Haeni era nosso voz e nossa cara quando das entrevistas. O Haeni sempre à frente... Criou a AMABI, entidade jurídica, para poder entrar no Ministério Público a fim de buscarmos a defesa da comunidade.
A briga foi realmente grande e antes de ter seu desfecho vitorioso para a comunidade, perdemos o Haeni.
Nunca tivemos maiores informações sobre sua morte. Foi um grande baque. O Marcelo Ruas, vice-presidente da AMABI, assumiu e continuamos a peleia.
Todos pegaram juntos. A maior parte de maneira anônima. Empregadas domésticas e doutores, operários e professores, moradores do bairro e gente que mora em vilas distantes. Entidades ambientalistas, outras associações de bairro, e apenas UM político teve a coragem de nos apoiar abertamente: a vereadora Sofia Cavedon. Os demais vereadores e deputados silenciaram, afinal quem iria "afrontar" o nome da gloriosa OSPA?
Que pena Haeni que morrestes antes de nossa vitória. Pois se a vitória foi da cidade e da cidadania, neste caso específico a cidade e seus cidadãos tiveram uma cara e um nome: Haeni Ficht.