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Aparelhos para medir o tempo de estacionamento cada vez mais raros na Suiça (RDB) |
Estacionamento quase em extinção nas cidades suíças
Por
Ariane Gigon,
swissinfo.ch
A questão de estacionamento para carros polemiza em todas as cidades suíças. A tendência geral é de restringir cada vez mais o espaço para veículos.
Na Suíça germanófona, o conceito de "local pobre em carros" mostra a direção que o debate está tomando.
Um "sim" nas urnas teria isolado a Basileia (norte) das outras cidades
suíças e manchado levemente a sua imagem ecológica, conquistada dentre
outros através da sua extensa rede de ciclovias. De fato, o plebiscito
questionava o eleitor se a metrópole às margens do rio Reno deveria
aceitar a liberdade total para a construção de garagens subterrâneas em
áreas privadas fora do centro histórico. Mas há dez dias, os eleitores
recusaram claramente essa mudança, por mais de dois terços dos votos.
A
iniciativa popular (projeto legislativo apresentado pelo cidadão e
levado a voto) contradizia os esforços conduzidos em várias partes da
Suíça para reduzir o tráfego motorizado nos centros das cidades, o de
reduzir o número de estacionamentos. "O estacionamento é um dos
principais fatores para controlar os problemas de mobilidade, que ocorre
por todos os lados", ressalta Gianluigi Giacomel, colaborador
científico do Observatório Universitário da Mobilidade (OUM) da
Universidade de Genebra.
"Muitos estudos provaram que a partir
do momento em que você tem um estacionamento no fim do trajeto, aumenta a
tendência de pegar o carro", acrescenta. Resultado: no início dos anos
1990, as cidades suíças começaram a restringir o número de vagas à
disposição - ou transformar as chamadas "zonas brancas", estacionamentos
gratuitos e ilimitados, em zonas pagas e zonas "azuis", estacionamento
com tempo limitado.
Cada vez menos
A tendência de ter cada vez menos vagas de estacionamento aumenta. Na
Suíça germanófona - pelo menos em cidades como Winterthur, Zurique e
Schaffhausen - as regras foram modificadas nesse sentido. Genebra deve
em pouco tempo também finalizar seu novo plano diretor nessa área.
A
Basileia é ainda uma das últimas grandes cidades na Suíça germanófona a
ter inúmeras zonas brancas (12%). Mas a situação vai mudar: uma nova
regulamentação sobre a gestão dos estacionamentos públicos permitirá
eliminar pouco a pouco essas vagas sem restrição, até 2016.
Ponta interditada para o tráfego
Mais espetacular é a decisão de fechar para o tráfego de veículos a
ponte "Mittlere Brücke" (a mais velha sobre o rio Reno entre o lago de
Constança e o mar do Norte, onde o cais está localizado). A única
exceção serão as horas de entregas de mercadorias. "Trata-se de uma
mudança simbólica que modificará o centro da cidade. As bicicletas
poderão atravessar alguns eixos, enquanto que os veículos estarão
impedidos", ressalta Alain Groff, diretor da Secretaria para Mobilidade
do cantão da Basileia.
No setor de estacionamentos, Zurique, a
cidade mais restritiva do país, está avançando para a próxima etapa. Ela
só depende de um recurso legal entregue contra os novos regulamentos
sobre os estacionamentos em áreas privadas seja refutado. Quanto aos
locais públicos do centro da cidade, eles são objeto de um "compromisso
histórico" entre os comerciantes e a municipalidade, com uma certa
compensação pelas vagas perdidas nas infraestruturas subterrâneas.
Genebra poderá se inspirar nessas decisões.
Menos vagas
Zurique parece ser a primeira cidade a ancorar em um texto da lei um
conceito que provoca muita discussão na Suíça germanófona: o do "espaço
pobre em veículos" ("autoarmes Wohnen", em alemão). Mesmo se essa
disposição está inscrita no decreto atualmente suspenso por um recurso
legal, ela já pode ser aplicada. É o que explica Erich Willi, chefe de
projeto no Departamento Municipal de Trabalhos Públicos, órgão
encarregado da estratégia de estacionamentos em Zurique.
Winterthur
adotou um regulamento similar e Berna o autorizou excepcionalmente para
um projeto imobiliário. Nas grandes cidades de língua alemã do país,
quase metade dos lares não dispõem de veículos.
Os pedidos de
isenção tributária continuam a chegar. Para que sejam aceitos, eles
devem ser acompanhados por um conceito de mobilidade. Erich Willi dá o
exemplo de um novo conjunto habitacional, ainda em construção, onde
"bilhetes mensais dos transportes públicos estarão incluídos nos
aluguéis. Essa cooperativa alugará também vagas de estacionamento a
preços elevados, mais caros do que o habitual."
Engajar-se em não ter um carro
Ainda mais extremos: no centro de Zurique, outra cooperativa
habitacional solicitará aos seus locatários a se engajar, no contrato de
aluguel, a não ter veículos. O restaurante previsto no local fará o
mesmo com seus empregados.
Alain Groff defende uma política
decididamente proativa. "Não acredito muito no poder de convencimento
das campanhas de sensibilização. As pessoas são racionais: eles preferem
utilizar os meios de transportes mais vantajosos e práticos. Os suíços
não são forçosamente mais ecológicos do que os outros, mas dispõem de
uma oferta de transportes públicos de boa qualidade. Por todos os lados,
as pessoas reagem às restrições, por exemplo, de vagas em
estacionamento."
O tráfego suplementar induzido pelo aumento do
número de estacionamentos é um fenômeno que não atinge somente os
veículos. "Quanto mais vagas existem para as bicicletas, mais primordial
é a necessidade de encontrar soluções para canalizar o seu número, que
não para de aumentar". Assim as autoridades da Basileia introduziram uma
duração máxima de dez dias para as bicicletas paradas no estacionamento
da principal estação de trem da cidade.