Os olhares dizem muito. No cartaz "o alimento é nosso" Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Hoje, dia 16 de outubro, é o dia do Blog Action Day, o tema neste ano é Direitos Humanos.
Hoje também é o Dia Mundial da Alimentação e aconteceu em Porto Alegre a Marcha pela Alimentação Saudável, sem Transgênicos e sem Agrotóxicos. Isso não é considerado um Direito Humano?
Embaixo de uma lona de plástico para exigir terra para plantar Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Cidade e Campo Unidos
A Marcha reuniu A Via Campesina, MST, Movimento dos Atingidos por Barragens, Ambientalistas e inúmeros simpatizantes da luta contra o veneno que está presente nos alimentos que consumimos sem saber.
Chama muita atenção o descaso dos poderes públicos pela Reforma Agrária, milhares de pessoas que poderiam estar produzindo alimentos estão acampados na beira de estradas pedindo apenas o direito de ter um pedaço de terra para produzir.
Homens, mulheres velhos e crianças participaram da Marcha Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Saindo da Usina do Gasômetro a Marcha seguiu até o prédio do Ministério da Fazenda, na Av. Loureiro da Silva, onde já se encontravam inúmeros camponeses já acampados no local para protestarem e insistirem em no seu direito ao trabalho na terra.
Na faixa da AGAPAN: Alimentos Saudáveis Sem Transgênicos - Sem Agrotóxicos Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Logo após a chegada da Marcha ao local, foi chamado para falar um de nossos mais conhecidos e respeitados ambientalistas, o agrônomo Sebastião Pinheiro. Sua alocução foi memorável! Foi ouvido por todos com uma atenção e silêncio próprios a momentos fundamentais. Merece ser reproduzido o seu texto que acaba de ser publicado na EcoAgência:
Estudo para o Dia Mundial da Alimentação
Restaurar a relação de respeito, veneração e amor de antigamente é o principal, antes de garantir o lema e “dar sustentabilidade e segurança nutricional ao sistema” ordenado pela Fundação Rockefeller, mentora da FAO, Banco Mundial e ONU.
Por Sebastião Pinheiro
Ambientalista Sebastião Pinheiro falando aos participantes do Ato Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Em Puebla, México na localidade de San Salvador El Verde está a bela escultura de Cristo crucificado todo feito com plantas (pasta moída de folhas, colmo, sabugo e grãos) do sagrado milho por famílias campesinas, inspiradoras de Octavio Paz (Premio Nobel, Literatura, 1990); Por outro lado, na máxima comemoração do Dia Mundial da Alimentação está a entrega do Premio Norman Borlaug ao vice presidente da Monsanto (Robert Fraley), Syngenta (Mary-Dell Chilton) e o criador da primeira transgênica Round ready (Marc Van Montagu) em Des Moines, Iowa, EEUU.
Não é possível calar diante de mais essa heresia, ainda mais quando lembro a Jacob George Harrar (Presidente da Fundação Rockefeller) y o vice-presidente dos EUA Henry Agard Wallace (dono da Pionneer Hy-Bred) que por suas palavras na Universidade de Chicago: “Se México continuar com este milenar sistema de produção de sementes e, não permitindo a livre comercialização das terras (Art. 27 da Constituição Mexicana), jamais os EUA terá acesso à sua agricultura”.
No crachá: "País Desenvolvido é País SEM VENENO nos Alimentos" Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
"A Cidade e o Campo Unidos", dizia o cartaz Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Não existe mais o mundo feliz e inocente da minha infância e o convite para a comemoração do “Dia mundial da Alimentação” com agricultores e consumidores no espaço urbano me faz pensar na importância daquela alegria; Mas, seria melhor comemorar no campo, pois hoje os agricultores, quando se reúnem não é para o mutirão, nem há cantos de alegria ou fé, menos ainda aquelas comidas gostosas das vovós. Hoje as concentrações são de reivindicações, protestos, denúncias ou exigências de respeito a direitos. As prioridades para as famílias e comunidades são relativas às renegociações de dívidas e financiamentos, pois aqui a agricultura está no mercado como em nenhum país. Lá, eles sabem que é impossível viver sem alimentos; Ou como dizem os britânicos: onde o alimento é caro ou escasso vem a rebelião.
O Banco Mundial, organismos multilaterais e governo também sabem e se especializam em manipular, induzir e enganar para que se façam as coisas no interesse deles. Não há mais alegria mesmo nos dias de muito Sol as crianças são tristes, alérgicas, deprimidas e quando não, medicadas.
Fui ao colégio agrícola e depois à universidade com sacrifício, para aprender, na ânsia de retornar e contribuir na restauração da alegria e felicidade da comunidade, através da educação transformadora quis entender as necessidades camponesas, participar na organização e realização de soluções na construção do bem comum. Era revoltante, não se podia esclarecer, ensinar, nem aprender com o agricultor o caminho de luz e alegria da agricultura com vida. Tudo era escondido por um falso nome, traiçoeiro, enganador. A única liberdade era participar, consentir, convalidar e fazer carreira servil usando o agricultor e comunidade rural como objeto de sua vaidade, no caminho maldito de trevas nos anos de chumbo, a agricultura foi transformada rapidamente em monoculturas através do crédito compulsório subsidiando multinacionais de “Defensivos Agrícolas”, Adubos Solúveis Indispensáveis, Centrais de Atravessadores, preços máximos inflexíveis, extensionistas alienados, Cooperativas-agências bancárias e depósitos de insumos. Tudo com a ordem precípua destruir o poder camponês, sua expulsão da terra e transformação em consumidor de alimentos industrializados. A concentração da propriedade era fundamental para o futuro agronegócios, onde a propaganda e serviços valem seis vezes mais que o valor da produção e não há agricultores, apenas investidores e assalariados rurais.Desde então comecei a lutar contra os “mercadores da morte”, devastação, corrupção e alienação na agricultura, principalmente contra seus agentes nas empresas, consultórios, cátedras, direção e gestão de órgãos governamentais, que nada mais eram que meros cartórios de tráfico de interesses. Fui obrigado à insurgência, rotulado de subversivo, e coisa pior. Lembro do líder agricultor presidente de entidade, de nome Ezídio e pelo sobrenome poderia ser meu parente (Pinheiro) dizer em 1987 ao entrar neste prédio. “Tião, eu jamais pensei que um dia chegaria entrar aqui nesta Delegacia Federal da Agricultura”. Eu senti vergonha e humilhante revolta.
Existe "Segurança Alimentar" para o povo brasileiro? Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Há mais de trinta e cinco anos os agricultores catavam lagartas doentes nas lavouras e moíam com água e usavam o caldo de Baculovírus para combater as lagartas e percevejos. Este uso proliferou de tal forma que o uso de agrotóxicos caiu de 8 aplicações/Ha para meia aplicação por Ha. A economia para a saúde dos agricultores e meio ambiente era incalculável; Eram menos intoxicações no INSS com economia superior a 1 bilhão de dólares. As 1 milhão e 200 mil intoxicações/ano caíram. Matemáticos, antropólogos, psicólogos e militares contratados pela GIFAP e Ajuda Técnica Internacional começaram a manipular e induzir a elite nacional de saber, ciência e tecnologia; Logo a extensão rural passou a desinformar e a mídia a se prostituir.
Foi assim que os mercadores da morte conseguiram que os agricultores abandonassem o Baculovirus e os venenos retornassem. O mesmo aconteceu com o uso de biofertilizantes, a grande TV hábil comprou a receita para destruí-lo. Hoje na Nicarágua mais de 75% dos camponeses fazem o Super Magro enquanto entre nós não chega a 0,01%. No Equador há cooperativas de camponeses que produzem 500.000.000 de litros mensalmente economizando 25 milhões de dólares em venenos e 10 a 20 vezes este valor em saúde, meio ambiente e futuro, no México os valores são bem maiores.
Todos ouviram em silêncio e com muita atenção a fala do conhecido ambientalista Sebastião Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de CarvalhoPinheiro |
Há 29 anos vivemos o escândalo dos moranguinhos com o uso de agrotóxicos proibidos. O desastre foi contornado e um selo de controle de qualidade com Secretaria da Saúde e EMATER, mas o MA tentava impedir, pois o cartório de agrotóxicos era muito poderoso e a amizade com os “mercadores da morte” muito íntima. Durante mais de dez anos toda a produção para as feiras do Pêssego foi controlada. Aquilo não interessava, controle do uso de veneno era subversão ao poder da indústria. Foi eliminado. Hoje se faz análises constatando os mesmos índices de contaminações de 30 anos atrás e se denúncia como novidade, mas ninguém permite que os agricultores sejam treinados como nos EUA, Europa e Ásia para não usar venenos. Lá diminuem o uso, nós aumentamos. Hoje os EUA que têm uma agricultura cinco vezes maior que a nossa são segundo consumidor e logo será o terceiro. E nos ficamos gritando que somos os primeiros sem fazer treinamentos, capacitações ou aplicar a diretiva comunitária da União Européia 91/414 que proíbe o agricultor sem treinamento e capacitação de usar venenos para proteger sua família, produção, ambiente; O pior é que discursamos que estamos em transição, quando na verdade a aguardamos as corporações tomarem o mercado. Temos de comer alimentos contaminados para ter mais doenças e consumir mais remédios e gerar lucros.
E la nave va...
Grandes corporações fizeram o Brasil ser o maior consumidor de venenos agrícolas Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Enquanto isso, Tony Ramos recomenda a carne do Friboy que é vetada no exterior por resíduos de substancias proibidas. O que facilita a Coca-Cola, PepsiCo, Nestlé, Cargill, Conagra e outras marcas de alimentos orgânicos prontas para entrar no mercado e promover a eugenia mercantil através do preço.
Querem ser ouvidos e atendidos. Conseguirão? Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
- É a primeira vez na história da humanidade que uma tecnologia é lançada através da “Teoria dos Jogos”, pois ela não é mais cara, nem é para o mais rico e privilegiado. O transgênico é feito para os pobres como instrumento de eugenia mercantil. De um lado não podem ser mais baratos. Então temos a manipulação da propaganda da contaminação com agrotóxicos, para que os alimentos naturais e sem venenos fiquem muito caro e sejam procurados pelos ricos, obrigando os pobres a comer o lixo transgênico pagando um preço mais alto e eles ganham nos dois lados. Isto é a transição.
Apesar dos protestos, muitos agradeciam os Programas Sociais do governo Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
O agricultor foi expropriado de suas sementes herdadas dos antepassados e comunidade adaptadas durante mais de 8.000 anos. Vieram os híbridos industriais que selecionaram genes de interesse com propaganda p/ poder patenteá-los, vendê-los, e também, adubos, agrotóxicos, máquinas e combustíveis. Mas toda a ciência sabe que os agricultores com os genes dos antepassados e as mesmas técnicas antigas na sua terra podem obter as mesmas margens de lucro que com os híbridos sem a necessidade das inversões e endividamento. Mas isso não interessa a Rockefeller, Rothschield e Bill Gates.
A Estratégia da Fundação Rockefeller por trás da Monsanto foi manipular e induzir a discussão sobre genes como forma de recolher informações e subsídios contrários gratuitamente. Até financiou algumas ONGs e pautou o debate sobre os genes. Limitou o avanço social com as sementes nativas já seqüestradas, que eram adaptadas ao cultivo sem fertilizantes químicos e agrotóxicos.
O gene por si tem importância secundaria para o camponês. Muito mais importante é sua expressão no meio ambiente (temperatura, geléia real). O Papa Bento XVI considerou os transgênicos pecado capital, pois ele sabe que não há no mundo duas propriedades rurais idênticas. É nela onde o gene se expressa. Enquanto os biólogos moleculares das universidades trabalham com os genes e o genoma de interesse das corporações. O agricultor trabalha com genes na sua propriedade única o proteoma de interesse da humanidade. A Biologia molecular das universidades e corporações jamais terá capacidade de fazer proteômica, pois não atua localmente, atua globalmente. Hoje a Bayer, Syngenta e Monsanto investem bilhões de dólares no velho Baculovirus. O pesquisador e professor sabem que o Bacullovirus combate o mosquito da Dengue, mas calam cúmplices dos “mercadores da morte”; Elas já produzem Super Magro com B. subtilis e B. polymyxa que vendem a 80,00 dólares o Litro.
Ambientalistas se manifestam contra o Milho Transgênico Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
O mais corrupto é que a empresa coloca um gene no milho que tem um total de 33.000 genes e fica dona de todo milho. Quando com muita condescendência poderia participar em apenas de 1/33.000avos do valor desse milho. O agricultor é espoliado. O papa Francisco tem um estudo radiográfico do que ocorreu com os agricultores argentinos nestes últimos vinte anos, breve teremos novidades.
A Fundação Rockefeller por trás das empresas de alimentos não queria rotulação dos transgênicos, pois eles seriam mais baratos que os alimentos normais e expulsos do mercado. Manipularam e induziram a polarização entre consumidores e Indústria de Alimentos para que o governo pendesse em seu favor postergando o rótulo. Foram derrotadas? Com o rótulo a decisão fica com a consciência da mãe, pai, consumidor e quantidade de dinheiro que dispõe. Então está claro que a consciência se subordina ao dinheiro: Isso não é democrático. Em uma sociedade onde o rico pode pagar caro o produto sem rótulo e o pobre é obrigado a comer o rotulado com o T é uma sociedade violenta, fascista, desigual. Vamos derrotá-los novamente em suas estratégias sociais.
Foi ocupada a área de estacionamento do Ministério da Fazenda, em Porto Alegre Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho |
Para terminar: Há na Amazônia a “Terra Preta Indígena” criada pela mão humana. Hoje Bill Gates, Grupo Rockefeller, Banca Rothschield têm mais de 2500 biólogos moleculares, antropólogos e agrônomo transformando esse patrimônio da humanidade em insumo biotecnológico para a Revolução Verde na África e Agronegócios no Mundo. É o campo de enfrentamento para o nosso alimento de amanhã. Cantemos e dancemos o kuarup com alegria, a luta pelo renascimento já começou, quando depois da aula sobre Transgênicos no curso de “Agricultura com Vida” uma camponesa gritou: “Viva nosso Cristo Biotecnológico”. Ao que adiciono: ... e Proteômico.
Fonte do pronunciamento de Sebastião Pinheiro: EcoAgência Solidária de Notícias
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