Foram 11 meses de debates acalorados. Há tempos não se via um tema apaixonar tanto moradores e freqüentadores dos bairros Floresta e Independência. De um lado, quem defendia a instalação do novo teatro da Ospa no estacionamento do Shopping Total. Do outro, quem temia pela preservação da Rua Gonçalo de Carvalho, caso a construção fosse erguida.
No dia 9 de junho, finalmente veio o desfecho. Por meio de um ofício endereçado à Procuradora da República Suzete Bragagnolo, a Fundação Pablo Kómlos, responsável pela captação de verbas para a construção do novo teatro, comunicou a desistência do projeto.
A notícia foi comemorada por moradores da Rua Gonçalo de Carvalho, que consideram a vitória um marco na luta por manter a via livre da poluição e da expansão imobiliária na região. Mas, acima de tudo, os meses de manifestações contra a construção do teatro da Ospa e de seu edifício-garagem no bairro mostram o poder de mobilização dos moradores.
- É uma prova de que o caminho da vizinhança é a melhor maneira de encaminhar reivindicações. Outro ponto importante é que trata-se de um resultado independente da ação dos políticos. Muitos de nós julgávamos impossível esta conquista - afirma Marcelo Ruas, presidente da Associação dos Moradores e Amigos do bairro Independência (Amabi).
Conquista para uns, perda para outros. Entidades comerciais lamentaram não mais contar com um empreendimento que poderia tornar a região um pólo cultural.
- A decepção é grande. Estávamos vislumbrando mais empregos e oportunidades para a região enquanto defendíamos esse projeto. Mas já estamos avaliando a possibilidade de novos empreendimentos se instalarem no bairro - diz o presidente da Associação da Cristóvão Colombo, Beto Rigotti.
O atraso na liberação da Licença de Instalação pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente foi o motivo alegado pelo presidente da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Ivo Nesralla, para a desistência do projeto.
- Perdi o tempo hábil para captação de verbas junto Ministério da Cultura - justifica Nesralla.
Segundo a assessoria de imprensa da Ospa, no entanto, outros dois motivos foram preponderantes na decisão: a oposição constante dos moradores da Rua Gonçalo de Carvalho - que recorreram ao Ministério Público - e questões relativas à origem privada do terreno. O segundo item comprova a tese defendida pelos moradores e pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil desde o início. O emprego de dinheiro público em um terreno que não pertence ao Estado dificultaria a captação de verbas por meio da Lei Rouanet.
Após a primeira vitória, a recém-criada Amabi pretende continuar lutando por melhorias para o bairro. Uma delas já foi obtida: a colocação da câmera da vigilância na esquina da Santo Antônio com a Cristóvão Colombo, ponto considerado rota de fuga de assaltantes. Quanto ao novo teatro da Ospa, deverá ser construído na orla do Guaíba, como previa o projeto inicial. Para a Gonçalo de Carvalho, um futuro com menos turbulências está guardado. A rua agora é reconhecida como patrimônio histórico, cultural, ambiental e ecológico da cidade. Se daqui a alguns anos, o túnel verde da via ainda encobrir a caminhada dos filhos e netos do bairro, estes 11 meses certamente serão lembrados.
No dia 9 de junho, finalmente veio o desfecho. Por meio de um ofício endereçado à Procuradora da República Suzete Bragagnolo, a Fundação Pablo Kómlos, responsável pela captação de verbas para a construção do novo teatro, comunicou a desistência do projeto.
A notícia foi comemorada por moradores da Rua Gonçalo de Carvalho, que consideram a vitória um marco na luta por manter a via livre da poluição e da expansão imobiliária na região. Mas, acima de tudo, os meses de manifestações contra a construção do teatro da Ospa e de seu edifício-garagem no bairro mostram o poder de mobilização dos moradores.
- É uma prova de que o caminho da vizinhança é a melhor maneira de encaminhar reivindicações. Outro ponto importante é que trata-se de um resultado independente da ação dos políticos. Muitos de nós julgávamos impossível esta conquista - afirma Marcelo Ruas, presidente da Associação dos Moradores e Amigos do bairro Independência (Amabi).
Conquista para uns, perda para outros. Entidades comerciais lamentaram não mais contar com um empreendimento que poderia tornar a região um pólo cultural.
- A decepção é grande. Estávamos vislumbrando mais empregos e oportunidades para a região enquanto defendíamos esse projeto. Mas já estamos avaliando a possibilidade de novos empreendimentos se instalarem no bairro - diz o presidente da Associação da Cristóvão Colombo, Beto Rigotti.
O atraso na liberação da Licença de Instalação pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente foi o motivo alegado pelo presidente da Fundação Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, Ivo Nesralla, para a desistência do projeto.
- Perdi o tempo hábil para captação de verbas junto Ministério da Cultura - justifica Nesralla.
Segundo a assessoria de imprensa da Ospa, no entanto, outros dois motivos foram preponderantes na decisão: a oposição constante dos moradores da Rua Gonçalo de Carvalho - que recorreram ao Ministério Público - e questões relativas à origem privada do terreno. O segundo item comprova a tese defendida pelos moradores e pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil desde o início. O emprego de dinheiro público em um terreno que não pertence ao Estado dificultaria a captação de verbas por meio da Lei Rouanet.
Após a primeira vitória, a recém-criada Amabi pretende continuar lutando por melhorias para o bairro. Uma delas já foi obtida: a colocação da câmera da vigilância na esquina da Santo Antônio com a Cristóvão Colombo, ponto considerado rota de fuga de assaltantes. Quanto ao novo teatro da Ospa, deverá ser construído na orla do Guaíba, como previa o projeto inicial. Para a Gonçalo de Carvalho, um futuro com menos turbulências está guardado. A rua agora é reconhecida como patrimônio histórico, cultural, ambiental e ecológico da cidade. Se daqui a alguns anos, o túnel verde da via ainda encobrir a caminhada dos filhos e netos do bairro, estes 11 meses certamente serão lembrados.
Onze meses por uma causa
- Setembro de 2005 - Depois de saber dos planos da construção de um edifício-garagem com saída de carros pela rua, o grupo Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho começa suas reuniões
- Novembro de 2005 - É fundada a Associação dos Amigos e Moradores do Bairro Independência, para apoiar a causa
- Dezembro de 2005 - Uma audiência pública para debater o tema reúne centenas de moradores no salão paroquial da Igreja Batista
- Janeiro de 2006 - Morre o cirurgião-dentista Haeni Ficht, fundador da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Independência e principal líder do movimento
- Janeiro de 2006 - Com alterações no projeto, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente emite a licença de instalação para o início das obras, mas o Ministério Público afirma que analisará a validade da licença
- Junho de 2006 - Fundação Pablo Kómlos confirma a desistência da instalação do teatro junto ao Shopping Total
Gabriel Brust - jornal Zero Hora (14/7/2006)