29 outubro 2007

As ruas-túneis de Porto Alegre

Rua Gonçalo de Carvalho, próximo da Rua Santo Antônio - Foto: Cesar Cardia
Este excelente texto de Amilcar Bettega foi publicado no Terra Magazine em 30 de maio de 2007.
Sua postagem aqui no Blog, foi autorizada pelo autor e pelo Terra Magazine.

As ruas-túneis de Porto Alegre
Quarta, 30 de maio de 2007
Amilcar Bettega
E tem dessas ruas, verdadeiros túneis verdes onde a luz do final da tarde se infiltra por entre as folhas e enche o interior do túnel de um amarelo espesso, carregado de inúmeras partículas de composição desconhecida que dão ao ar o aspecto de uma poeira vegetal descendo sem peso dos galhos das árvores.
De repente você vira numa esquina e se vê na extremidade de um desses túneis. Olhá-lo desse ponto é como ver materializada a imagem da paz. As árvores que crescem nas duas calçadas unem suas copas mais ou menos à altura do terceiro andar dos edifícios - também eles alinhados, mas no exterior do túnel -, criando esse espaço particular protegido da luz direta do sol.
Caminhar no interior de um desses túneis é como entrar num cenário de sonho. Alguma coisa ali escapa do real. As cores não são as mesmas com as quais nos deparamos todos os dias. O amarelo - eu insisto, talvez numa tentativa de melhor apreendê-lo - é denso, quase palpável, uma grande massa gasosa que se forma quando a luz incisiva, cristalina, quase branca do sol passa com esforço através da camada verde de folhas e galhos e cipós que pendem preguiçosamente em alguns pontos.
Mesmo se por acaso faz frio, a sensação que essa luz amarelada transmite é de calor, de algo que envelopa por inteiro cada centímetro quadrado de qualquer corpo, vivo ou não, que se encontre mergulhado em seu interior.
Não tenho dúvida de que as percepções igualmente oníricas do espaço e do tempo no interior do túnel decorrem dessa massa de luz amarelada, o elemento principal do túnel, a sua substância. Quanto mais inclinado estiver o sol lá fora, quanto mais a tarde avança, mais denso será o amarelo, tendendo um pouco para o laranja antes de se evaporar nos dois ou três minutos que precedem o abraço repentino da noite.
Mover-se nesse espaço significa encontrar o ritmo exato da respiração do túnel. Estamos ali como que imersos em algo que não é nem líquido nem gás mas um estado intermediário, um estado que exige lentidão de movimentos e certo recolhimento parecido ao que experimentamos percorrendo a nave de uma imponente catedral. A abóboda de galhos e folhas alonga o espaço para o alto sem interrompê-lo de forma brusca, criando uma espécie de teto difuso, descontínuo porque feito pela superposição de folhas e ramos, mas compacto o suficiente para, primeiro, filtrar a luz que vem do exterior e, segundo, para aprisionar o resíduo dessa filtragem, essa espécie de luz-gás que infla o túnel como um balão comprido ou um imenso pulmão ressoando ruídos urbanos.
Tais ruídos também são particulares ali dentro, chegam também eles filtrados, transformados, isolados, e o resultado é como se ouvíssemos de longe, mas muito longe, os sons da cidade se movimentando logo ali fora, no exterior do túnel.
(O canto dos pássaros, se a hora for essa do fim da tarde ou de manhãzinha, mereceria um extenso parágrafo à parte. Estando em uma posição especial, nem no interior nem no exterior, mas na própria "parede" do túnel, os pássaros vão emitir seu canto que será ouvido diferentemente conforme a posição do ouvinte. Para quem está fora do túnel, o canto chega misturado aos sons agudos, francos e múltiplos que a cidade manifesta a cada batimento do seu coração; enquanto que no interior do túnel este mesmo canto reverbera gravemente, destacado de todo e qualquer outro som, fazendo vibrar as folhas das árvores que, por sua vez, emitem um rumor que é mais visto do que ouvido, no reflexo tremido da luz contra as folhas).
Falamos de uma cápsula, se quiserem, mas não uma cápsula estanque. Ao contrário, tudo ali é permeabilidade, tudo está em diálogo contínuo com o que existe à volta. A cidade, assim como a luz, entra no túnel através dos seus poros, a cidade entra na rua, recolhe-se nesse espaço íntimo, quase sagrado. E a percepção que se tem dela ali dentro é, e não poderia ser diferente, mística. Ali tocamos a sua essência, todo o resto ficou lá fora.
Inclusive o tempo.
Porque parece ser impossível contar o tempo no interior do túnel. Impossível se aperceber da sua passagem, mesmo sendo evidente que ele não está paralisado. Apenas, talvez, seu andamento não seja uniforme, isto é, alguns minutos são mais longos do que outros, uns têm mais do que sessenta segundos outros menos, o que resulta numa marcha temporal que se constrói por saltos: frações de tempo quantitativamente iguais se sucedem gerando períodos que são sentidos como muito longos, intercalados por outros muito curtos, fugazes instantes capazes de abarcar toda uma jornada.
*
Pois de repente você vira numa esquina e se vê na extremidade de uma dessas ruas. Ao fundo, ela se espicha, espremida pela fila de árvores que crescem nas calçadas. Do alto pendem os galhos plenos de verde e as cordas de cipó cobertas de folhas.
Os cipós e a abundância verde deixam claro que estamos perto do trópico. E o amarelo, esse, creio estar relacionado a certa "meridionalidade" na proporção exata para produzir efeitos de ótica rara a partir da mera incidência do sol na copa das árvores.
Onde o sul e o trópico flertam. Porto Alegre está justamente aí. Cheia desses túneis verdes, cheia dessas ruas mágicas cobertas por uma abóboda de folhas e ramos de árvores. Podemos encontrá-las facilmente no Bom Fim, na Floresta, mas também no Moinhos de Vento e até em meio à platitude de São Geraldo.
Basta deixar-se levar. Você vai por uma avenida central, barulhenta, movimentada, e de repente, numa esquina, você olha para o lado e lá está. Então não resta mais nada a fazer senão se enfiar por um desses túneis. Sem saber onde nem quando você vai sair.

Amilcar Bettega é escritor, autor de O vôo da trapezista, Deixe o quarto como está e Os lados do círculo (livro vencedor do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira em 2005). Vive em Paris.

Publicação original: Terra Magazine (clique aqui)


24 outubro 2007

Prêmio Von Martius de Sustentabilidade 2007.

Definidos os 10 finalistas para o maior prêmio ambiental do Brasil.
A divulgação dos vencedores nas categorias Natureza, Humanidade e Tecnologia será feita quando da cerimônia de premiação, dia 7 de novembro, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
A Ação de Preservação da Rua Gonçalo de Carvalho, concorreu na categoria Natureza.
Infelizmente, não fomos selecionados entre os finalistas. O que nos levou a participar desta conceituada premiação foi o interesse em divulgar que ações como a nossa para preservar a rua e o Meio Ambiente, feitas por pessoas comuns, devem ser incentivadas.
Convenhamos, ter o que contar para participar de um prêmio dessa qualidade, já é uma vitória!

Nada mudou.
Continuaremos usando nosso blog, enviando e-mails e apoiando todos os que precisam e merecem ser apoiados nessas ações.

Mais informações sobre o Prêmio Von Martius, aqui: http://www.premiovonmartius.com.br/

15 outubro 2007

A indústria da construção e o Meio Ambiente

Quando se fala em proteção ao meio ambiente, pode-se dizer que a construção civil é a mais poluidora das atividades humanas.

Estudos indicam que menos de 20% da população mundial é responsável por mais de 75% da contaminação existente no ambiente natural.

No mundo da construção, grande parte dos responsáveis por este segmento parecem não atentarem de como essa atividade afeta o meio ambiente. Mas alguns arquitetos já começam a defender uma construção sustentável. Pois a indústria da construção utiliza enormes quantidades de recursos naturais (energia, água, materiais e do solo), e produz grandes quantidades de resíduos, muitos deles altamente tóxicos, que via de regra não são reciclados e normalmente não são controlados. São as famosas “sobras de obra”, depositados em aterros.

Segundo dados dos Worldwatch Institute de Washington, cerca da metade das emissões de dióxido de carbono que existem na atmosfera são produzidas diretamente pela construção civil e pela utilização dos prédios. Estima-se que cada metro quadrado de residência é responsável por uma emissão de cerca de 1,9 toneladas de dióxido de carbono durante sua vida útil.

A atual indústria da construção civil é uma grande consumidora de recursos naturais. Os prédios usam cerca de 60% de todos os materiais extraídos do planeta. Além disso, muitos dos materiais usados na construção civil (cerâmica, aço, alumínio, etc.) requerem para sua produção de altos consumos de energia e recursos naturais.

Estima-se que na Inglaterra os resíduos da construção passam de 70 milhões de toneladas anuais. A reciclagem dos resíduos já é prática comum em vários países europeus, mas e no Brasil? E na China, um dos países onde mais se constrói atualmente?

O estudo global dos impactos ambientais que pode provocar uma edificação, requerem uma metodologia rigorosa de análise dos materiais usados, do processo construtivo, do consumo de energia, dos custos da demolição, do destino dos resíduos, etc.

Na Europa já existem experiências em certificação para Edifícios de Alta Qualidade Ambiental. Um dos mais desenvolvidos é o britânico BREEAM, do Building Research Establishment, que avalia a poluição atmosférica, o uso racional dos recursos naturais e as condições internas dos prédios.

Existe uma grande diferença entre os impactos ambientais de um edifício de baixo desempenho, em comparação com o que é possível conseguir com as melhores práticas atuais. Se quisermos cumprir hoje os requisitos de desenvolvimento de uma forma sustentável, temos de assegurar que os novos edifícios possuam as melhores qualidades ambientais.

Esperemos que o Brasil também siga o caminho da Certificação Ambiental.
Ilustração: Jornal Clarin

12 outubro 2007

Nobel da Paz faz "escolha ecológica" e premia Al Gore e IPCC, da ONU

O Prêmio Nobel da Paz deste ano foi entregue a dois representantes da luta contra a mudança climática: o ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) da ONU.

Gore e o presidente do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri, representante da organização criada em 1988 como instrumento para acompanhar o aquecimento global, dividiram o prêmio, anunciado hoje em Oslo.

"A ação é necessária antes que a mudança climática escape ao nosso controle", disse o diretor do Comitê Nobel, Ole Danbolt.

Ele pediu para que todos os políticos do mundo assumam a responsabilidade na luta contra a devastação da Terra e para que respondam à preocupação de todos os cidadãos com o tema.

(Do Terra.)

Ecologista en apuros
El Nobel de la Paz es acusado de no ahorrar energía
LANACION.com | Exterior | Viernes 12 de octubre de 2007

11 outubro 2007

Amigos da Santos Neto no Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental


Amigos e Moradores da rua Santos Neto montaram stand no II Congresso Brasileiro de Jornalismo Ambiental, que se realiza na UFRGS.
Objetiva chamar a atenção da mídia para os problemas que pessoas como eles, enfrentam nos dias de hoje com a perda de qualidade de vida. Um espigão de 17 andares será construido na rua.
No stand também se destacam os Movimentos Porto Alegre Vive e Petrópolis Vive juntamente com a rua Gonçalo de Carvalho, primeira rua tombada como Patrimônio Ecológico de uma cidade.

06 outubro 2007

Caso da rua Santos Neto


Segunda-feira, dia 08 de outubro, às 14 horas, acontecerá uma audiência no Ministério Público, com o Promotor Norberto Avena, sobre o espigão da Rua Santos Neto.

Pedimos a quem tenha interesse e boa vontade que escreva um e-mail demonstrando sua inconformidade com esta construção, incompatível com o entorno.


O e-mail deve ser encaminhado para :

urbanistica@mp.rs.gov.br


Assunto: Inquérito Civil n° 112/2007 - Sr. Promotor Norberto Avena.