29 junho 2013

Um mês da ação que envergonhou Porto Alegre!


Ativistas NÃO SÃO BANDIDOS!
Porque a Brigada Militar os tratou como se fossem?
Apenas querem preservar árvores e deixar uma vida melhor para as próximas gerações!


Vídeo com trechos de telejornais que mostram cenas do corte inicial em 6 de fevereiro, impedido pela subida nas árvores de jovens, audiência pública e a vergonhosa ação da prefeitura e Polícia Militar na madrugada do dia 29 de maio de 2013. Os jovens dormiam, nenhum reagiu, mas foram algemados, presos e expostos como bandidos.

Às 4,20 da madrugada do dia 29 de maio, a Brigada Militar do estado do Rio Grande do Sul com mais de 200 homens de suas tropas de elite, inclusive cavalaria, invade o acampamento dos ativistas em Defesa das Árvores, prendem e algemam 27 jovens ativistas, atiram os pertences dos acampados em um caminhão e a prefeitura municipal de Porto Alegre inicia imediatamente o corte das árvores. Curiosamente a prefeitura não respeita a Lei do Silêncio que TODOS são obrigados a cumprir, mas isso não surpreende ela já não havia apresentado alternativas para uma obra, exigível para o licenciamento ambiental, que com a "desculpa" da Copa do Mundo cortaria mais de uma centena de árvores. As propostas que entidades ambientalistas apresentaram, nem foram consideradas, mesmo tendo CUSTO ZERO para a prefeitura. O que realmente há por trás disso? Apenas teimosia de nosso executivo municipal ou algo que só muito mais adiante teremos uma visão mais clara?

Jovens impedem a continuidade dos cortes em 6 de fevereiro
Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

A obra de alargamento das vias não solucionarão o alardeado engarrafamento (que não existe) de tráfego, mas corta árvores que propiciam melhor qualidade de vida para a cidade. Cada uma das árvores de grande porte cortadas captura carbono de 100 carros ao dia! A prefeitura arranca os "filtros naturais" que combatem a poluição e pretende colocar mais carros nas vias. Isso é realmente "progresso"?

No dia 6 de fevereiro 14 árvores foram cortadas antes da ação dos ativistas
Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

A prefeitura municipal de Porto Alegre havia desistido no dia 29 da Ação Judicial que dera 48h para os ativistas desocuparem o local, então sob que ordens a Brigada Militar atuou? Ordens da prefeitura ou do governo do estado? Até o presente momento o governo do estado silencia, não emitiu nenhuma esclarecimento sobre o ocorrido nem para tentar justificar "operação de guerra" de sua polícia militar. Desde o dia 30 de maio pedimos esclarecimentos ao governo do estado e nenhuma resposta recebemos, talvez por constrangimento.

Protesto contra o corte de árvores no dia 7 de fevereiro, na Praça Júlio Mesquita
Foto: Cesar Cardia/Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho
A ação na madrugada do dia 29 de mais foi mais que uma Operação de Guerra, um planejamento típico de crime, como nos filmes de gangsters.

Jovens acampados e ambientalistas discutem problemas ambientais
e a importância das árvores na captura de carbono, em 20 de abril, no acampamento
das árvores - Foto: Cesar Cardia/Amigos da Gonçalo de Carvalho
Jovens foram levados para sede de batalhão da Brigada Militar
e só foram liberados perto das 9h da manhã do dia 29 de maio
Foto: Cesar Cardia/Amigos da Gonçalo de Carvalho

Nada justifica a maneira como trataram os ativistas, como se fossem perigosos bandidos, eles NÃO SÃO BANDIDOS, são nossos HERÓIS e temos muito ORGULHO deles!

Os jovens detidos, antes de assinarem "termo circunstanciado"
Foto: Cesar Cardia/Amigos da Gonçalo de Carvalho
Depois de liberados foram recolher seus pertences que estavam
amontoados como "lixo" em um caminhão da prefeitura municipal de Porto Alegre,
que por ironia era da Secretaria do Meio Ambiente
Foto: Cesar Cardia/Amigos da Gonçalo de Carvalho

Não nos calarão. Vivemos em um regime democrático e temos o direito de lutar pela vida e pela preservação ambiental. Se a grande mídia silencia ou distorce nossos argumentos, estamos pedindo auxílio na mídia do exterior, mídia alternativa e entidades que defendam a democracia. Exigimos também que seja retirada a expressão "Copa Verde" da Copa do Mundo de Futebol de 2014.

Na manhã do dia 29, mesmo com chuva, a prefeitura retalhava as árvores
depois da prisão dos ativistas - Foto: Cesar Cardia/Amigos da Gonçalo de Carvalho

As futuras gerações é que sofrerão com a irresponsabilidade dos que poderiam fazer algo hoje, mas infelizmente se omitem...

Matéria no Sul 21, em 29 de maio de 2013:

Operação prende manifestantes e começa a derrubar árvores no Gasômetro


Árvores já são derrubadas nas proximidades da Usina do Gasômetro: operação para desmontar o acampamento em que manifestantes resistiam e iniciar o corte teve início na madrugada desta quarta-feira | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Samir Oliveira, Iuri Müller, Ramiro Furquim e Igor Natusch
Atualizado às 14h20min

Na madrugada desta quarta-feira (29), a prefeitura municipal de Porto Alegre e a Brigada Militar do Rio Grande do Sul deram início à operação para derrubar as árvores próximas à Usina do Gasômetro e desmontar o acampamento em que manifestantes resistiam à medida, localizado ao lado da Câmara Municipal. Pelo menos 27 pessoas foram presas e conduzidas para a sede do 9º Batalhão de Polícia da Brigada Militar, localizado em frente ao Mercado Público, no Largo Glênio Peres.
Leia mais:
- Manifestantes marcham contra corte de árvores e prisão de ativistas em Porto Alegre
- Para Sebastião Melo, segurança dos envolvidos determinou horário da operação
- CHARGE: Latuff vê a derrubada das árvores do Gasômetro
- Para comandante, prisão dos acampados em Porto Alegre foi “rápida e cirúrgica”
A operação começou entre as 3h e as 4h desta madrugada. Enquanto a polícia se dirigia ao acampamento, a EPTC realizava a interdição de todas as vias que davam acesso ao trecho onde estavam as mais de 100 árvores a serem cortadas.
Segundo informações da Brigada Militar, 27 manifestantes foram presos
durante a operação | Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Na noite de ontem (29), os manifestantes foram surpreendidos por uma ordem judicial que previa a reintegração de posse do acampamento para reiniciar as obras de duplicação da via – ordem retirada pela própria Prefeitura poucas horas depois. O poder municipal havia alegado que buscaria outra solução para o impasse. No entanto, na madrugada desta quarta-feira, por volta das 3h, a operação teve início na Avenida Beira-Rio e pôs fim à resistência que os acampados mantinham há mais de quarenta dias.
As vereadoras Sofia Cavedon (PT) e Fernanda Melchiona (PSOL), presentes nas últimas marchas sobre o tema, acompanharam a situação dos ativistas, que tiveram que assinar termos circunstanciados no 9º BPM. Eles foram acusados dos crimes de desobediência, desacato e resistência. Segundo o Tenente Claudio Bayerle, do 9° Batalhão da Brigada Militar, três pessoas foram liberadas já no início da manhã por serem menores de idade. Antes do final da manhã, todos os demais foram liberados.
O procurador-geral do Município, João Batista Linck Figueira, afirmou ao Sul21 que as tratativas para reiniciar a obra foram conjuntas: ”A decisão obviamente partiu da prefeitura, mas quem encaminha o momento mais adequado e as questões de segurança é a Brigada Militar”.
A advogada Karen Becker, a primeira a conseguir ingressar dentro do 9º BPM, ainda por volta das 5h30min, afirma que houve truculência no trabalho policial: “Eles foram algemados indevidamente e alguns tiveram lesões. Além disso, alguns pertences do grupo foram quebrados”. Ela conta que os manifestantes presos não puderam recolher seus documentos para comparecer identificados à delegacia.
Ativistas relatam agressões sofridas por policiais militares
Os manifestantes que estavam detidos no 9º Batalhão de Polícia Militar foram liberados por volta das 7h50min e se dirigiram a um caminhão que estava estacionado próximo ao local com todos os pertences e equipamentos recolhidos no acampamento. A todo momento, eles exibiam materiais que foram danificados durante a operação.
“Éramos no máximo 30 pessoas dormindo no acampamento e chegaram mais de 150 policiais do Choque batendo nas pessoas e derrubando as barracas. Tiraram um cachorro que estava no meu colo e me jogaram no chão. Eram três policiais em cima de cada um”, relata a ativista Laís Miranda.
Outro manifestante afirma que a operação foi “extremamente rápida” e que, além das agressões físicas, os policiais insultaram os acampados com xingamentos como “vadia” e “cadela”.
Rodrigo Alberto estava dormindo quando a Brigada Militar chegou e conta que foi arrancado à força de sua barraca. “Eu estava dormindo e me puxaram para fora da barraca e me deram um soco na barriga”, recorda.
De acordo com o relato dos manifestantes, eles foram algemados já no acampamento. Durante cerca de 20 minutos a polícia teria reunido o grupo em um espaço do acampamento e os algemado.
Após o recolhimento dos pertences, os ativistas se dirigiram ao Hospital de Pronto-Socorro (HPS) para realizar o exame de corpo de delito. A maioria deles apresentava arranhões, lesões e escoriações no braço e nos pulsos por conta das algemas. Em seguida, o grupo pretende organizar um protesto em frente à prefeitura da Capital.
Abaixo, veja mais fotos da operação:

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21

25 junho 2013

Análises sobre os protestos

Após o protesto de 20 de junho
Na TVE, análises de Juremir Machado da Silva e Céli Pinto:


O perigo de portar uma bandeira do Brasil:


A cobertura do protesto na TVE (pública) mostra o que outras TVs não mostraram. Violência inicia após manifestantes tentarem protestar em frente de grande grupo de comunicação, a RBS:


Dia 24 de junho
Manifestantes cercados pela Brigada Militar na Av. Borges de Medeiros são atacados pela polícia após tentarem retornar para a Prefeitura Municipal:

21 junho 2013

20 de junho: mais um dia de caos em Porto Alegre

Porto Alegre tem mais um dia de caos em meio a protesto
FELIPE BÄCHTOLD/Folha de São Paulo
20/06/2013 - 23h44
O protesto que se estendeu pela noite desta quinta-feira (20) em Porto Alegre novamente terminou em depredação e em confronto entre policiais e manifestantes.
A passeata começou no início da noite e percorreu de maneira pacífica ruas do centro da capital gaúcha. No entanto, por volta das 20h, a Brigada Militar (a PM gaúcha) tentou impedir os manifestantes de passar pela frente da sede do jornal "Zero Hora".
Bombas de gás lacrimogêneo foram jogadas contra a linha de frente da manifestação, o que precipitou um violento tumulto. A mesma situação já havia ocorrido na última segunda-feira (17), quando o protesto deixou um saldo de dezenas de presos e de depredações pela cidade.
Hoje, revoltados com a atuação da Brigada, parte dos manifestantes começou depredações em série pela região do bairro da Azenha. Uma agência do Itaú foi apedrejada e teve um princípio de incêndio. Pelo menos uma loja de autopeças e uma papelaria foram saqueadas.
Decididos a resistir à ação de dispersão da Brigada, os manifestantes se concentraram na avenida João Pessoa, a mesma onde ocorreu o principal conflito do início da semana.
Um shopping da via teve vidraças estilhaçadas e foi pichado. Uma agência do Banrisul (Banco do Estado do Rio Grande do Sul) atacada na segunda-feira foi novamente depredada hoje. Terminais de autoatendimento ficaram completamente destruídos. Contêineres de lixo e semáforos também foram danificados.
Após o recuo, os manifestantes voltaram a se aglomerar no centro, em frente à prefeitura, onde havia ocorrido a concentração para o ato. No caminho, houve novas ações de vândalos. Pelo menos duas agências bancárias e duas lojas foram atacadas.
No fim da noite, os confrontos entre a cavalaria da Brigada e os manifestantes próximos à prefeitura continuavam. Os participantes do protesto jogam pedras nos policiais, que respondem com bombas de gás lacrimogêneo.
A Tropa de Choque cercou os acessos à praça da Matriz, onde ficam as sedes dos três Poderes do Estado.
FELICIANO
Entre os principais alvos de críticas dos manifestantes no início pacífico da passeata estavam o projeto de "cura gay" e o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP).
Mesmo sob forte chuva e um frio de 12ºC, milhares de pessoas compareceram ao ato. Antes do tumulto, a maioria dos participantes fazia coro por paz. Também criticavam partidos políticos.
Devido às ações violentas de segunda-feira, os porto-alegrenses mudaram suas rotinas e se prepararam para o protesto desta quinta.
Órgãos públicos e o comércio encerraram o expediente mais cedo para evitar a passeata. No bairro boêmio da Cidade Baixa, que teve estabelecimentos atacados no início da semana, a maioria dos bares e restaurantes não abriu as portas.
Alguns estabelecimentos da cidade montaram uma espécie de guarda conjunta para vigiar propriedades e evitar depredações e saques.
PELO PAÍS
As manifestações realizadas nesta quinta-feira levaram cerca de 1 milhão de pessoas às ruas em 25 capitais do país. Em ao menos 13 delas foram registrados confrontos. O Rio de Janeiro foi a capital com maior número de pessoas, 300.000.
Em nove das capitais com confronto, houve também ataques ou tentativas de destruição de prédios públicos, como sedes de prefeituras e de governo e prédios da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Justiça.
Os protestos contra o aumento das tarifas do transporte público começaram no início do mês e foram ganhando força em todo o país, sendo registrados vários casos de confrontos e vandalismo. Com isso, 14 capitais e diversas outras cidades anunciaram entre ontem e hoje a redução das passagens.
Em Brasília, um grupo de manifestantes forçou a barreira policial montada na entrada do Congresso Nacional, iniciando um confronto com a Polícia Militar, que revidou com bombas de gás lacrimogêneo.
No Rio, o protesto ficou tenso no início da noite. O problema ocorreu com chegada dos manifestantes em frente à prefeitura, no centro da cidade, ponto final da passeata.
Por volta das 18h50, morteiros foram disparados pelos manifestantes. Em resposta, a polícia disparou bombas de efeito moral. A cavalaria da PM avançou para dispersar pessoas que tentavam invadir a sede da administração municipal.


Noite com chuva, vento, frio e muita confusão em Porto Alegre.
Mesmo assim cerca de 20 mil pessoas saíram às ruas para protestar.
Ambientalistas também protestaram contra o corte de árvores que a prefeitura está fazendo,
com a "desculpa" da Copa do Mundo de 2014. - Foto: Cesar Cardia

19 junho 2013

17 de junho: muita gente no protesto em Porto Alegre


O início do conflito, quando os manifestantes se dirigiam para protestar na frente do grupo de comunicação RBS.
A ótima e isenta matéria do Sul 21 sobre o protesto em Porto Alegre:
Protesto em Porto Alegre tem multidão nas ruas e forte confronto com a polícia
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Iuri Müller, Samir Oliveira, Igor Natusch, Débora Fogliatto, Ramiro Furquim
Nesta segunda-feira (17), Porto Alegre viu passar pelas suas ruas uma das maiores manifestações dos últimos tempos. Estima-se que mais de dez mil pessoas foram às ruas para protestar contra o possível aumento da tarifa de ônibus, as restrições sociais geradas por megaeventos esportivos e contra a violência que marcou outras marchas em distintas capitais do Brasil. No entanto, quando adentrou a noite, o protesto se modificou tanto que mais parecia outra manifestação – outra vez, houve diversos confrontos com a Brigada Militar, ataques a prédios públicos e discrepâncias entre os próprios manifestantes.
A partir das 18 horas, centenas de pessoas se concentraram na Praça Montevidéu, em frente à Prefeitura Municipal. Diferentemente de outros dias, nesta segunda-feira os próprios cartazes mostravam que a caminhada seria distinta. As mensagens lembravam novas reivindicações, como a crítica aos episódios recentes de corrupção e a impunidade histórica que acreditam pairar sobre a classe política.  Um cartaz dizia “Não à PEC-37”, adesivos lembravam a CPI da Telefonia e uma faixa deixava uma pergunta retórica no ar: “1964, é você?”. Nos cânticos e nas mensagens, estava clara a referência – e a solidariedade – com os atos que tinham início, quase na mesma hora, em outras cidades do Brasil como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Aqui ou ali, os militantes que se concentravam logo seriam milhares e, depois, dezenas de milhares.
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Para Marcelo, ativista que rumou à Praça Montevidéu no início da noite, “o movimento quer é mudanças profundas”. Ele dizia que o aumento nas tarifas do transporte público foi “apenas a gota d’água” de uma série de episódios de descaso com a população brasileira. As bandeiras nacionais, aliás, estiveram presentes durante o trajeto como nunca: assim como o hino do Rio Grande do Sul foi cantado com força em alguns momentos. Ana, outra militante que se juntava ao movimento, afirmou que a população estava encontrando “formas de mostrar um descontentamento coletivo”. A aglomeração multitudinária de pessoas em distintos lugares do Brasil mostraria, mais do que nada, “a insatisfação geral com todos os problemas que o país enfrenta há muito tempo”.
Os manifestantes deixaram as proximidades do Largo Glênio Peres e passaram a caminhar pelas ruas de Porto Alegre por volta das 19 horas. Com o rosto tapado, um manifestante lembra que não costuma sair assim nos atos, mas que achou necessário por conta das detenções recentes. Assim como ele, houve quem dissesse estar “marcado” pela Brigada Militar e buscaram formas de evitar outra detenção. Quando a passeata entrou na Avenida Salgado Filho, o grupo já era formado por milhares, e não parava de crescer. A manifestação era inteiramente pacífica e emocionava a muitos dos que viam de fora. A extensão do ato, no entanto, só foi compreendida na Avenida João Pessoa, quando todos passavam por uma mesma e visível rua: a multidão era maior do que na quinta-feira passada (13), e ultrapassava o número de dez mil pessoas.
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Porto Alegre viveu uma só marcha, mas houve momentos tão distintos que mais pareceram duas
Em muitas janelas, panos, bandeiras e toalhas brancas mostravam aos manifestantes que ali havia apoio – da mesma forma que pessoas abanavam dos prédios, aplaudiam nos carros e nas calçadas. Em um dos edifícios, uma faixa anunciava que os moradores haviam liberado a internet sem fio para os manifestantes, repetindo algo que aconteceu também na Turquia. O grito mais ouvido enquanto a marcha passava pela Avenida João Pessoa era: “o povo acordou!”. Para Gilberto, que não compartilhava da mesma faixa etária que a maioria dos presentes, o protesto foi um dos maiores das últimas décadas. “Acho que desde a época da ditadura, quando as pessoas também enchiam as ruas, eu não via uma passeata tão grande”, disse. Mesmo quando a marcha passou pelo mesmo cenário em que, no último protesto, houve confronto aberto entre manifestantes e a polícia militar, a caminhada parecia pacífica.
Foi no instante em que a manifestação optou por dobrar em direção à Avenida Ipiranga, no entanto, que as situações se transformaram. A parte dianteira do grupo se aproximava da sede do Grupo RBS, na esquina com a Avenida Érico Veríssimo, quando se ouviram os primeiros disparos e bombas da noite. A Brigada Militar havia entrado em confronto com os manifestantes pela primeira vez, conflito que se repetiria em vários momentos e lugares no decorrer da manifestação. A imensa maioria dos manifestantes parou de caminhar imediatamente. No outro lado da avenida, uma concessionária de motos foi atacada e houve quem corresse para dentro do local. Minutos depois, bombas e rojões atravessavam o Arroio Dilúvio: o cenário havia mudado completamente, e o enfrentamento permaneceria vigente por mais de uma hora nas proximidades entre a Ipiranga e a Azenha.
Manifestantes que encabeçavam a marcha recuaram com o passar do tempo, muitos buscando água para aliviar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo que foram jogadas aos montes. Enquanto recuavam, alguns gritavam “sem violência!” e “a luta não se reprime, protesto não é crime!”. A reportagem do Sul21 presenciou casos em que os ativistas tiveram que ser levados para casas próximas a fim de receber auxílio, e até ambulâncias do Samu tiveram que resgatar pessoas na multidão. Na medida em que a onda de gás lacrimogêneo – constantemente alimentada por novas bombas – crescia pela região, os manifestantes recuavam pela Avenida João Pessoa. Por trás da cortina branca de fumaça, a batalha entre alguns ativistas e a polícia se mantinha com força: balas de borracha eram disparadas sem parar, e as pessoas que corriam tentavam entender a dimensão do conflito.
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Protesto termina em confronto aberto e perseguição pelas ruas do Centro
Quando a permanência na Avenida João Pessoa se tornou inviável em função do gás e dos tiros, a marcha se dirigiu para a Cidade Baixa e, consequentemente, se fragmentou. Neste momento, havia o temor de que a polícia bloqueasse os acessos e cercasse os manifestantes, como no protesto da última quinta-feira. De tempos em tempos, mais pessoas deixavam o principal foco de confronto e caminhavam para o Largo Zumbi dos Palmares, junto à Perimetral. Um grupo de manifestantes permanecia resistindo às investidas da Brigada Militar, que buscava desocupar a via, mas em algum momento foi necessário correr em retirada. No caminho, contêineres de lixos foram queimados, outros vidros racharam e um ônibus foi incendiado. Uma longa e dispersa perseguição teve início.
Entre os militantes que já haviam alcançado a Cidade Baixa, difundiu-se a ideia de retornar à Avenida João Pessoa. O grupo permaneceu parado na Perimetral durante cerca de dez minutos, e em seguida praticamente todos aderiram ao chamado de voltar. Enquanto isso, outra parte do grupo retornava pela Rua Lima e Silva e teve de se refugiar em bares para evitar os efeitos da perseguição. A Brigada Militar, pouco a pouco, tentava diminuir o espaço e estar a poucos metros da manifestação. A violência observada nas vias já mencionadas deixou consequências: 38 manifestantes foram detidos e cinco ficaram feridos.
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Parte da multidão voltou a se concentrar e, por volta das 23 horas, cruzou a Avenida Borges de Medeiros, por baixo do viaduto. Houve quem derrubasse as luminárias que contornam a passagem, impondo riscos aos demais manifestantes: as esferas caíram sobre a multidão que caminhava logo abaixo. Naquele local, um carro de uma empresa de segurança ficou trancado em meio aos ativistas e o motorista foi ameaçado pelos manifestantes. Numa ação perigosa, o veículo abandonou o local em marcha ré e por pouco não atropelou com gravidade um ciclista. Pouco antes, ainda na Perimetral, a motorista de um táxi que rompeu o bloqueio do protesto viveu momentos de terror psicológico. Foi cercada por um reduzido grupo que a insultou e tentou furar os pneus do carro.
No final da noite, quase início da madrugada, o palco dos confrontos foi o Centro de Porto Alegre. A cavalaria da Brigada Militar, com sabres em punho, passou correndo pela Duque de Caxias, enquanto manifestantes tentavam alcançar o Palácio Piratini e a Assembleia Legislativa. Prédios da Praça da Matriz, como o Theatro São Pedro e o Palácio da Justiça, tiveram os vidros quebrados, mas o grupo não chegou aos locais pretendidos. A partir daí, a polícia bloqueou ruas centrais e abordou manifestantes que passavam com mochilas, ao passo em que os bombeiros circulavam para apagar o fogo de contêineres. Durante parte da noite, Porto Alegre teve o serviço de ônibus suspenso em função dos acontecimentos.
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
Tarso Genro: “temos que transformar o momento em algo favorável”
Em entrevista coletiva concedida no final da noite de segunda-feira (17), o governador gaúcho Tarso Genro disse respeitar as manifestações ocorridas em Porto Alegre e em outras cidades do Brasil, as quais atribui a um sentimento de insatisfação popular com as instituições políticas. “É preciso analisar bem a situação, chamar as pessoas para que continuem se manifestando, mas faço um apelo ao movimento para evitar atos violencia”, afirmou o governador, acrescentando que “ainda está monitorando” os acontecimentos. “É um momento que requer muita ponderação”, descreveu Tarso.
Segundo ele, os acontecimentos violentos na noite de Porto Alegre são obra “de uma parte restrita” dos manifestantes, que acaba prejudicando a compreensão do restante da população quanto aos objetivos do movimento. Tarso afirma que a BM interveio quando “as depredações se dirigiam para ameaça de integridade física” e que a barreira policial foi necessária para evitar que o confronto “descambasse para violência generalizada”.
De acordo com ele, a orientação era para que a Brigada Militar “usasse de toda ponderação” quanto aos protestos. “O que chegou a mim é que foi cumprido. Mas se constatarmos que houve ato inadequado, vamos responsabilizar”, garantiu. “Temos a Corregedoria, a própria estrutura de segurança pública, e faremos uso dessas estruturas para apurar excessos”.
Ainda segundo Tarso, é possível “transformar o momento desfavorável em algo favorável”, a partir de uma mudança política nacional. “Temos que aproveitar esse acontecimento para uma profunda reforma das instituições e dos partidos políticos”, defendeu. “Há depredações em toda parte (do Brasil). Esperamos que os parlamentos dê respostas a essa juventude, promovendo a reforma de um sistema que está marginalizando milhares e milhares”, concluiu.
Veja mais fotos do ato desta segunda-feira:
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21
| Foto: Ramiro Furquim/Sul21

Fonte: http://www.sul21.com.br/jornal/2013/06/protesto-em-porto-alegre-tem-multidao-nas-ruas-e-forte-confronto-com-a-policia/



Mais fotos da manifestação:

Povo se reunindo em frente da prefeitura - Foto: Cesar Cardia
Bandeiras de partidos eram vaiadas - Foto: Cesar Cardia

Não era apenas um protesto de jovens - Foto: Cesar Cardia

"Uma cidade para pessoas, não para carros"- Foto: Cesar Cardia

Cavalaria e Tropa de Choque sempre acompanhando a Marcha - Foto: Cesar Cardia

Inicia a Marcha, tomando a Av. Borges de Medeiros - Foto: Cesar Cardia

Muitos aplausos e acenos vinham dos prédios - Foto: Cesar Cardia

"Não existe escudo grande o suficiente para cobrir a VERGONHA de
machucar inocente", está escrito no cartaz - Foto: Cesar Cardia

Na concentração do Ato de Protesto no dia 17 de junho em Porto Alegre, manifestantes cantam o Hino Rio-grandense em frente da prefeitura municipal. (vídeo feito por ZH).


16 junho 2013

Negados pedidos da AGAPAN e do Município de Porto Alegre

Algumas das árvores "sobreviventes" - Foto: Cesar Cardia
Negados pedidos da AGAPAN e do Município no processo do corte das árvores na Capital

Em decisão unânime, a 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJRS) negou provimento ao recurso interposto pela Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN), que pretendia ser parte assistente na Ação Civil Pública movida pelo Ministério Público contra o Município de Porto Alegre, na qual questiona o corte de árvores para a realização das obras de duplicação da Avenida Edvaldo Pereira Paira, a Beira-Rio.

Os magistrados entenderam que o pedido de ingresso no processo deve ser feito ao Juízo de 1° Grau, demonstrando seu interesse de nele atuar como assistente ou litisconsorte de uma das partes.

Na mesma sessão, realizada na tarde desta quinta-feira (13/6), os magistrados da 22ª Câmara Cível também negaram o recurso interposto pelo Município de Porto Alegre, questionando decisão do Desembargador Carlos Eduardo Zietlow Duro, de 19/4.

Eduardo Finardi Rodrigues, membro do Conselho Superior e ex-presidente
da AGAPAN - Foto: Cesar Cardia


Caso
A AGAPAN questionava a decisão da 22ª Câmara Cível do TJRS, que revogou a suspensão do corte de vegetais na Avenida Beira Rio, na Capital, autorizando o corte imediato. Afirmou que não foi apreciada a questão relativa à supremacia do desenvolvimento econômico e social em detrimento da “proteção ao meio ambiente” e requereu o esclarecimento dos votos que embasaram a decisão.

O relator, Desembargador Carlos Eduardo Zietlow Duro, entendeu que os embargos declaratórios não merecem conhecimento. Verifica-se que não há qualquer prova sobre o deferimento do pedido de ingresso na lide da ora embargante, AGAPAN, como assistente litisconsorcial na Ação Civil Pública ajuizada, o que exige prévia observância às regras procedimentais previstas nos artigos 54 e 51 do CPC.

Os Desembargadores Maria Isabel de Azevedo Souza e Eduardo Kraemer acompanharam o voto do relator.

Recurso intempestivo
Os magistrados da 22ª Câmara Cível negaram provimento ao agravo interposto pelo Município de Porto Alegre.

O recurso foi considerado intempestivo pelo relator, por entender que ingressou fora do prazo recursal. O Desembargador Duro destacou que o Município tomou ciência da decisão antes da juntada do mandado. Dessa forma, havendo ciência inequívoca da decisão ora agravada em 19/4, iniciou-se o prazo recursal em 22/4 (segunda-feira), sendo protocolado o recurso em 14/05, um dia após o decurso do prazo recursal, quando já esgotado.

O voto foi acompanhado pelos Desembargadores Maria Isabel de Azevedo Souza e Eduardo Kraemer.


Texto: Janine Souza
Assessora-Coordenadora de Imprensa: Adriana Arend
imprensa@tj.rs.gov.br
Publicação em 13/06/2013 16:40
Fonte: http://www.tjrs.jus.br/site/imprensa/noticias/?idNoticia=212916

Manhã do dia 29 de maio - prefeitura municipal retalha mais de 50 árvores
depois da ação da Brigada Militar durante a madrugada, que invadiu e prendeu
ativistas que estavam acampados em defesa das árvores - Foto: Cesar Cardia

13 junho 2013

Hoje, mais um julgamento no Tribunal de Justiça!

Árvores marcadas para morrer no entorno do Gasômetro
Dia 13/6, às 14h, teremos julgamento na Justiça do Agravo Interno do Município para cortar as 8 árvores sobreviventes e do recurso de agravo da Agapan. Será no mesmo local onde foi julgado o outro recurso - 22ª Câmara Cível do TJ - que infelizmente permitiu os cortes efetuados pela prefeitura municipal na calada da noite do dia 29 de maio.

08 junho 2013

Árvores da Rua Gonçalo de Carvalho em publicação da ONU

O Secretariado da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), das Nações Unidas, em Montreal, Canadá, é uma das Convenções que surgiu durante a Rio 92 e trabalha para que os países implementem medidas de conservação e uso sustentável da biodiversidade, bem como a repartição justa e equitativa dos recursos provenientes desses recursos naturais.
Dentro da CDB existe um programa de trabalho que se chama “Autoridades Locais e Biodiversidade”, o qual se encarrega da implementação da CDB a nível de cidades. Em julho de 2012 fomos contatados por e-mail, comunicando que seria colocado um destaque para a Rua Gonçalo de Carvalho em uma publicação que objetiva analisar os impactos da urbanização sobre a biodiversidade. O título da publicação é “Cities and Biodiversity Outlook” (CBO), na ocasião elogiaram a luta pela preservação das árvores e solicitaram imagens sobre a Gonçalo de Carvalho e suas árvores.
Em outubro de 2012 o trabalho foi finalizado, mas apenas agora estamos tratando dessa importante publicação, apesar de vivermos em nossa cidade um verdadeiro clima de terror pelos cortes de árvores efetuados na região do Gasômetro (Centro Histórico) e outros já programados por nosso executivo municipal.

Na página 24 da publicação Cities and Bioversity Outlook,
o exemplo das árvores e dos que lutaram por sua preservação.
Devem ficar muito surpresos ao tomarem conhecimento do ocorrido neste ano
com as árvores de Porto Alegre, especialmente no dia 29 de maio.

Este é o texto publicado no "Cities and Biodiversity Outlook” (CBO):
Figure 2.3. Rua Gonçalo de Carvalho in Porto Algre, Brazil, is a stunning example of a natural urban ecolink. When this tree-lined street was  threatened by development, local residents and environmental groups mobilized to protect it. In June 2012, Porto Alegre passed a law protecting this and more than 70 other “green tunnels” in the city. Although the trees occasionally cause power outages when it rains (because electrical wires pass through the canopy), residents value the many benefits they provide. In addition to serving as an ecolink, the trees help reduce the urban heat island effect, improve air quality, minimize the impact of rain and flooding, and increase property values.

Cities and Biodiversity Outlook- Action and Policy
Author(s): Elmqist, T.
In: UN Secretariat of the Convention of Biological Diversity
Year: 2012
Type: Policy brief or report
Theme affiliation: Urban social-ecological systems.
Link to centre authors: Elmqvist, Thomas.
Full reference: Elmqvist, T. 2012. Cities and Biodiversity Outlook- Action and Policy. UN Secretariat of the Convention of Biological Diversity, Montreal, CAN, 66pp


Página do Convention on Biological Diversity: http://www.cbd.int/
Página deste Blog que fala do contato mantido em julho de 2012: http://goncalodecarvalho.blogspot.com.br/2012/07/secretariado-da-convencao-sobre.html