26 março 2013

Porto Alegre, 241 anos

O excelente texto da escritora Carol Bensimon merece ser postado no dia do 241º aniversário de Porto Alegre.
Merece uma reflexão.
Que cidade queremos?

Calçamento de pedras da Rua Gonçalo de Carvalho - Foto: Cesar Cardia

Pelas ruas da cidade

A Porto Alegre que completa 241 anos esta semana parece optar por ser uma Capital com cada vez mais carros, menos pedestres e menos contato humano


Carol Bensimon*

Porto Alegre vai assoprar 241 velinhas nesta terça-feira, 26 de março. Eu continuo a amá-la incondicionalmente, o sol furando uma nuvem para alcançar o Guaíba, ruas tranquilas de paralelepípedos, almoço de domingo no Barranco, pinhão no inverno e dias compridos de verão. Mas é verdade que, às vezes, nós quebramos os pratos. Acontece quando minhas expectativas em relação a ela não estão exatamente afinadas com a sua transformação. Eu quero ir a lugares caminhando, mas ela joga as chaves do carro no meu colo. Ela tenta me seduzir com filmes argentinos, pães da Barbarella, um fim de tarde no Iberê, a floração das paineiras, mas não quer nem ouvir falar dos meus argumentos contra a duplicação da Beira-Rio. Um belo dia, eu elogio a arquitetura de um prédio dos anos 1950, e no outro, com uma risada meio sarcástica de filme B, ela encontra uma fresta nos recém colocados tapumes e me mostra uma montanha de entulho. Porto Alegre é assim. Então eu sento na sacada, olho para a figueira centenária que está na minha frente, e respiro fundo.

Há um consenso de que o trânsito em Porto Alegre está cada dia mais complicado. É fácil perceber o fenômeno: nós falamos sobre o assunto em jantares, registramos engarrafamentos no instagram, reclamamos no twitter da falta de táxis, enviamos sms para amigos dizendo o quão atrasados nós estamos por conta de uma tranqueira na Independência. Diante de tal cenário, surge a “iluminada” solução: o alargamento das vias. Para culminar, somos uma das cidades-sede da Copa de 2014, e não queremos fazer feio diante dos olhos do Primeiro Mundo.

Ora, a maioria desses mesmos países diante dos quais nós não queremos “fazer feio” já entendeu há alguns anos que investir na duplicação de ruas, em viadutos e trincheiras não resolve os problemas de mobilidade, comuns a todos os grandes centros urbanos. Não há truque, mágica ou retórica desonesta nessa conclusão; a duplicação de ruas e avenidas cria o que alguns especialistas chamam de demanda induzida. Isso quer dizer que, se a malha viária de uma cidade cresce, mais pessoas vão querer dirigir, e as que já dirigem provavelmente serão levadas a percorrer distâncias maiores. Em muito pouco tempo, as obras, cujo objetivo era o de aliviar o trânsito, são suplantadas pelo aumento da demanda.


Em 2004, nos Estados Unidos, uma análise baseada em dezenas de estudos prévios concluiu que “em média, um aumento viário de 10% leva a um aumento imediato de 4% no número de quilômetros percorridos por um veículo, o qual sobe para 10% – toda a nova capacidade – em poucos anos”. Pesquisas semelhantes foram e estão sendo conduzidas no mundo inteiro. No já distante ano de 1998, o ministro britânico de transportes, Gavin Strang, disse: “Fato é que não podemos resolver os nossos problemas de tráfego através da construção de mais vias”. Surpreendentemente, até a Newsweek – uma revista cujo perfil é muito mais conservador do que liberal – publicou um artigo em 2009 o qual afirmava com pesar: “A demanda dos motoristas tende a superar rapidamente a nova oferta; hoje, os engenheiros reconhecem que construir novas estradas geralmente torna o tráfego pior”. Todas essas citações foram retiradas do mais recente livro do urbanista Jeff Speck, Walkable City: How Downtown Can Save America, One Step at a Time.

No ano passado, eu conheci Los Angeles. Los Angeles é provavelmente a cidade mais planejada e adaptada à supremacia do carro no mundo inteiro. Quer saber o que acontece? As avenidas engarrafam. As freeways engarrafam. E voltar a pé até o hotel, mesmo em uma zona boa como a “Miracle Mile”, faz você ter a sensação de que está prestes a ser atacado a cada esquina porque ninguém mais está fazendo isso.
Mas vamos voltar a Porto Alegre.

Eu não sinto vergonha em admitir que tenho um carro (ok, só um pouco). Talvez eu possa mesmo partir desse fato para recomendar a todos que façam um uso responsável de seus automóveis. Eu saio muito pouco com o meu carro. Tudo que é possível fazer caminhando, eu faço. Se eu percorrer mentalmente o mapa de Porto Alegre agora, eu diria que posso alcançar com minhas próprias pernas, e sem cansar muito, ao menos seis bairros da cidade. Infelizmente, nesses percursos, eu não cruzo com tantas pessoas como eu cruzaria, vamos dizer, em Paris. Isso tem relação com os hábitos arraigados a cada cidade, é claro, mas tais hábitos não surgem sem razão; caminhar ou não caminhar está diretamente ligado a questões de densidade, diversidade, e até mesmo de estética.


Porto Alegre é uma cidade muito espalhada e, a cada ano, ela se expande mais, engolfando cantos rurais e desconhecidos da Zona Sul, dos altos da Protásio Alves, dos arredores do aeroporto. Quanto mais distante do trabalho uma pessoa mora, mais quilômetros ela precisa percorrer, e portanto mais tráfego ela irá gerar. Não precisamos ser urbanistas para entendermos essa parte. Assim, uma baixa densidade (habitantes/quilômetros quadrados) costuma ser problemática porque provavelmente obriga as pessoas a se deslocarem uns bons quilômetros até o local de trabalho, os serviços, o lazer, etc. E a solução para aumentar a densidade urbana, ainda que isso possa nos enganar à primeira vista, não passa pela construção de espigões residenciais. A prova disso é que o Bom Fim, um bairro onde predominam os prédios de poucos andares, é o segundo mais denso de Porto Alegre, perdendo apenas para a Cidade Baixa. Quem conhece o Bom Fim, além disso, consegue entender o quanto uma densidade mais elevada acaba por estimular uma “vida de bairro”. E isso é algo de que todos nós, moradores de outras áreas da cidade, deveríamos sentir inveja.

Uma cidade voltada para o carro, além de não estar livre dos engarrafamentos – mas pelo contrário –, e de obrigar, por essa própria lógica, os deslocamentos excessivos, costuma ser, além de tudo, uma cidade não muito bonita de se olhar. Pense em um viaduto. Pense agora em todo o perímetro urbano que se deteriora instantaneamente quando um viaduto é construído.

Muito me surpreende, portanto, que a prefeitura esteja executando uma obra dessas quase à beira do Guaíba, na avenida Pinheiro Borda, a cerca de 600 metros da Fundação Iberê Camargo. Uma área, enfim, que não precisa de mais carros, mas de gente.

Gostaria de fazer um agradecimento especial aos porto-alegrenses donos de cachorro que levam seus cães para que façam as necessidades fora de casa. Essa gente ocupa a rua, inclusive em horários improváveis.

Não quero agradecer de forma alguma àqueles que frequentam uma academia, mas não saem a pé sequer para comprar o pão de cada dia.

Todos nós nos sentimos atraídos por cidades bonitas. É por isso que Paris, Amsterdã, Veneza, Nova York são alguns dos lugares onde gostaríamos de passar as férias. Mas “férias” é algo que acontece uma ou duas vezes por ano. No resto do tempo, permanecemos trabalhando e tentando nos divertir em nossa própria cidade. Então por que não fazer dela o lugar mais bonito possível?

Não se trata de uma questão fútil. Em A Arquitetura da Felicidade, o filósofo Alain De Botton apresenta uma ideia segundo a qual nossos múltiplos “eus” são evocados de acordo com o que está ao nosso redor. E, se às vezes parecemos distantes do que julgamos ser nosso “eu” verdadeiro, talvez seja porque o lugar onde estamos não o estimule muito. Nas palavras de De Botton: “O nosso acesso a ele [ao “eu”] é, a um grau modesto, determinado pelos lugares onde estamos, pela cor dos tijolos, a altura dos tetos e o traçado das ruas. Num quarto de hotel estrangulado por três vias expressas ou numa área devastada com prédios enormes e mal conservados, nosso otimismo e propósito tendem a se exaurir, como água num vaso furado. Começamos a esquecer que um dia tivemos ambições ou motivos para nos sentir animados e cheios de esperança”.


Um dos bairros mais queridos e valorizados de Porto Alegre é, sem dúvida, o Moinhos de Vento. Por quê? O bairro tem vida diurna e vida noturna. Bancos, consultórios, cafés, restaurantes. Mas há mais do que isso. Trata-se de uma das áreas mais esteticamente agradáveis da cidade. Essa não é apenas uma opinião pessoal. Quantas vezes você já viu o substantivo “charme” ou o adjetivo “charmoso” ser relacionado a esse lugar? Pois bem, o charme do Moinhos de Vento não vem apenas em um cappuccino caro; ele exala de seus casarões antigos, dos jardins do DMAE, da relativa harmonia visual encontrada em ruas como a Dinarte Ribeiro ou a Barão do Santo Ângelo.

Triste pensar, portanto, que, no final do ano passado, um edifício salmão de quatro andares da década de 1950, localizado no encontro da Mostardeiro com a Comendador Caminha, tenha sido demolido repentinamente, causando indignação nas redes sociais. O local agora está cheio de tapumes sem nenhuma identificação. Tenho certeza de que o futuro empreendimento, seja ele o que for, será vendido com o apoio dos atributos do bairro; prevejo o uso excessivo de termos como “beleza”, “charme”, “caráter único” e “encanto” em folders e demais peças promocionais. A ironia é que, ao demolir o pequeno prédio da Comendador Caminha, a construtora em questão esteja ajudando a acabar justamente com as características que tanto valorizam o bairro.

Quando eu estava longe de Porto Alegre, morando em outro continente, a coisa da qual eu mais sentia falta era o verde. Porto Alegre é uma cidade um bocado arborizada. Nossas ruas têm cerca de 1,3 milhão de árvores, quase uma por habitante. A elas, somam-se os bonitos jardins de muitas casas e edifícios, a vegetação ao longo da orla do Guaíba, os parques, as praças. Essa presença incansável da natureza torna as nossas vidas muito melhores ou, como diria talvez Alain De Botton, desperta o nosso “eu” mais belo, entusiasmado e cheio de esperança. Tenho certeza de que somos muitos a reconhecer esse como um dos maiores trunfos de nossa capital, e a prova disso é que nossas árvores estão muito mais protegidas, em termos legais, do que nosso patrimônio histórico. Em outras palavras, é muito mais fácil derrubar uma casa do que um ipê.

Eu, particularmente, gosto até desses parasitas – ou seriam epífitas, eu não sei – cujas flores roxas e rosa aparecem e duram apenas uma questão de dias. Gosto da grama que nasce entre as pedras do calçamento, dos guapuruvus que alcançam uma altura inimaginável, de todas as árvores que florescem e eu nunca sei o nome, de raízes expostas, de calçadas deformadas, das árvores que engoliram lixeiras (há uma na minha rua) ou das que se misturaram aos muros vá saber como. E depois há os pássaros incríveis que vêm cantar perto da janela. As aves de rapina que rondam a cobertura do meu prédio. É por isso que Porto Alegre e eu, nós quebramos os pratos às vezes, mas então voltamos a nos entender. Não sei o que devo esperar, de qualquer maneira, de nossos próximos anos juntas.

Publicado com autorização da autora,  texto no caderno Cultura do jornal Zero Hora 
Imagens: Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho

*Carol Bensimon é uma jovem escritora brasileira.
Publicou contos nas revistas Ficções, Ficção de Polpa e Bravo!, assim como no jornal Zero Hora. 
Seu primeiro livro foi Pó de Parede (Não Editora, 2008), reunindo três novelas. 
Em 2009, depois de receber uma bolsa de estímulo à criação literária da Funarte, escreveu Sinuca embaixo d'água, publicado pela Companhia das Letras. O livro foi um dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Autor Estreante e do Prêmio Jabuti de 2010 na categoria Romance.
Foi uma das autoras incluídas na coletânea Histórias femininas, publicada pela editora Scipione em 2011. O livro reuniu contos de autoras contemporâneas, como Índigo, Cecília Giannetti e Andréa del Fuego.
Bensimon foi selecionado em 2012 como um dos 20 melhores jovens escritores da revista britânica Granta, "que indica os nomes que irão construir o mapa da literatura brasileira". No Brasil a revista é publicada pelo selo Alfaguara, que pertence à editora Objetiva.

(fonte: Wikipédia)

25 março 2013

"How Many Cups for one Cup?"

Friends,
We are very thankful for the messages received, but we need to clarify the situation and make some requests.

Do write anything before checking the facts

Clarifying:
1) The Gonçalo de Carvalho Street, also known as "The Most Beautiful Street in the World," is not threatened by the lumbering. The trees are threatened in another part of town, but we also advocate for urban trees benefit ALL the people, not just the streets where they are planted.

2) The pictures posted on Facebook and the Blogs of people up in the trees are not people of Gonçalo de Carvalho, they are young people who prevented further cuts on February 6th. We do NOT sent them there. It was by their own initiative, when we got the informations of the cuts, we took appropriate action to dialogue with the authorities.

3) NOBODY is injured, there was no conflict and no one was arrested. Police attended only to ensure the physical integrity of young people, nothing more than that.

4) We are not starting a "Green Spring" and we do not want anything other than avoid cutting trees, which benefits only the cars, we wanto the citizens to have a good relationship among each other, we want PEACE.



5) We did not take any legal action against FIFA or against the government. It’s true that we have asked to remove the expression"Green Cup" from the 2014’s World Cup because the actions against the trees do not justify this expression. We only sent e-mails to FIFA, Brazilian’s President Cabinet, Ministry of Sports and Ministry of Environment. Only the office of the president replied so far, saying the matter was transferred to the Ministry of the Environment of Brazil.

Finally:

6) We are not coordinating or directing the group"How Many Cups for one Cup?". We were invited to join and we are working as best as we can. The group "How Many Cups for one Cup?" has no formal coordination , only some members who direct it, with the objective of approving new members and support issues that must be discussed with supporters.

Stay alert, but be careful on spreading things that are not from here, which can be used by the enemies of the trees to try to discredit us.
Hugs


20 março 2013

Copa VERDE em Porto Alegre?

Acreditamos ser necessário, para não passar por propaganda enganosa da FIFA e Governo do Brasil, que se retire a expressão "Copa Verde" em tudo o que se refere a Copa do Mundo de 2014 no Brasil.

No Sul 21:

Após audiência, prefeitura de Porto Alegre diz que vai retomar derrubada de árvores

Rachel Duarte
Após três horas de debate na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, na noite desta segunda-feira (18), a situação sobre o corte de centenas de árvores nativas para ampliação da Avenida Edvaldo Pereira Paiva (Beira-Rio) não se resolveu. O Executivo municipal anunciou a retomada dos cortes, assumindo o compromisso de ampliar as medidas compensatórias, devido à nova pressão contrária da sociedade. O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), que investiga o caso, pediu que fossem aguardados mais alguns dias para a decisão sobre os cortes, o que não teve a concordância do vice-prefeito Sebastião Melo, que representou a prefeitura. Com a decisão, considerada arbitrária por ambientalistas presentes, a promessa é continuar os protestos e impedir o corte nas ruas.
“Existia um acordo de suspendermos o corte até a audiência pública. Isso foi cumprido. Agora a SMOV poderá seguir o trabalho. O Melo disse que a Prefeitura vai continuar”, alegou o secretário municipal do Meio Ambiente, Luiz Fernando Záchia.
Apesar do vice-prefeito Sebastião Melo (PMDB) ter anunciado a retomada dos cortes, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) alega que o diálogo com o poder público segue em aberto. Presente na mesa de debates, a promotora Ana Maria Moreira Marchesan pediu que o município suspendesse o corte das arvores por mais alguns dias. “Tenho certeza de que o Executivo não vai se furtar a discutir este tema com o Ministério Público. Vamos tentar fazer uma mediação, pois o progresso implica opções. Ficou claro que a sociedade está bastante dividida, mas temos uma amarração legal que não pode ser atropelada”, disse.
Os cortes começaram em fevereiro, na Praça Júlio Mesquita, em frente a Usina do Gasômetro, mas foram suspensos após manifestações populares. A pressão resultou em um inquérito no MP-RS e na audiência desta segunda. Na ocasião, os ânimos ficaram alterados devido à grande contrariedade de ambientalistas e outros setores da cidade. Contrapondo os cartazes e palavras de ordem pedindo alternativas para evitar o corte de árvores, um grupo que fazia coro favorável ao projeto da Prefeitura foi acusado de ser constituído de cargos comissionados (CCs) da gestão Fortunati.
Os críticos alegam que a falta de diálogo prévio e deficiências no projeto viário comprometem o desenvolvimento da cidade. O Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS), com o qual o prefeito José Fortunati (PDT) se comprometeu durante a eleição em realizar apenas obras de desenvolvimento sustentável, apresentou alternativas simples para evitar o corte. “Ainda falta um bom projeto”, criticou o presidente do IAB-RS, Tiago da Silva. Segundo ele, “é impossível que em pleno Século 21 uma gestão priorize cortar árvores nativas para colocar asfalto na cidade”.
“Não devemos seguir os projetos de empreiteiras”, alertou IAB-RS
Para o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/RS), Tiago da Silva, “não devemos seguir os projetos doados por empreiteiras, que são as maiores interessadas na realização das obras. Está claro que o projeto está errado. Técnicos já afirmaram que não há necessidade de uma ampliação da via rápida”. Ainda assim, os secretários presentes na audiência e o vice-prefeito de Porto Alegre seguiram irredutíveis.
“Teve claque. Muitos secretários da prefeitura estavam na audiência. Tudo isso demonstra o peso que tem esta obra para a administração”, criticou a vereadora Fernanda Melchionna. Segundo ela, a postura da Prefeitura na audiência foi de seguir irredutível no planejamento que prevê a derrubada de 101 mudas nativas na Edvaldo Pereira Paiva. “Queríamos mais tempo para discutir. O IAB trouxe contribuições ontem, outras sugestões já haviam surgido nos outros debates, como passarelas de pedestres para evitar os cortes. Mas não houve flexibilidade. Infelizmente, uma audiência de ouvidos mortos não resolve muita coisa”, lamentou.
O presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Francisco Milanez, cobrou a realização de estudos alternativos. “Se não há comparação, como dizer que esta é a melhor alternativa? A cidade não existe para atender aos automóveis. Nunca haverá vias suficientes para a quantidade de carros que está sendo vendida. A solução é deixar eles fora do Centro, investir em transporte coletivo e mais lazer”.
O texto completo aqui:  
 http://www.sul21.com.br/jornal/2013/03/apos-audiencia-prefeitura-de-porto-alegre-diz-que-vai-retomar-derrubada-de-arvores/

Fotos da Audiência Pública na Câmara Municipal de Porto Alegre em 18 de março de 2013:

Ativistas e líderes comunitários protestaram contra a ação da prefeitura.
Questionando o conceito de "progresso" defendido pelo executivo municipal.
Movimento "Defenda a Orla" também presente na Audiência.
Cortar árvores para colocar mais carros nas ruas? Não!
Momento que foram apresentadas imagens de sites de todo o mundo sobre o
reconhecimento global das árvores da Rua Gonçalo de Carvalho na Audiência Pública.
O prefeito não teve coragem de aparecer na Audiência. Mandou o vice e secretariado.
Vice-prefeito Sebastião Melo enrolou na Audiência
e depois anunciou a retomada dos cortes de árvores.
Já que o prefeito não compareceu, o recado foi para seu vice, Sebastião Melo.
(Fotos: Câmara Municipal de Porto Alegre e Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho)

17 março 2013

Audiência Pública na Câmara Municipal

Segunda-feira, 18 de março - 19h
Audiência Pública para debater a duplicação da Edvaldo Pereira Paiva e alargamento da Av. João Goulart (Centro Histórico) com a retirada de mais de uma centena de árvores adultas.
A SMAM diz que "compensará" esses cortes com o plantio de 410 mudas de árvores.
Isso não é compensação é MITIGAÇÃO*.
Ainda por cima pretendem plantar apenas 14 mudas no Centro Histórico, as demais serão plantadas em outras regiões mais distantes do local onde já cortaram 14 árvores e pretendem cortar mais 101.

Pretendem poluir ainda mais o ar de nossa cidade com o aumento do trânsito na João Goulart e retirar as árvores que sabidamente filtram a poluição gerada pelos carros, além de muitos outros benefícios ao ambiente.

Confira os locais que receberão os plantios "compensatórios"

- Avenida Oswaldo Aranha – 100 mudas
- Rua da República – 08 mudas
- Parque Farroupilha – 80 mudas
- Rua Lopo Gonçalves – 08 mudas
- Avenida Jerônimo de Ornellas – 10 mudas
- Parque Maurício Sirotsky Sobrinho – 60 mudas
- Avenida Independência - 20 mudas
- Rua Washington Luiz – 10 mudas
- Rua Garibaldi – 05 mudas
- Rua Santo Antônio – 60 mudas
- Viaduto Otávio Rocha – 26 mudas
- Centro Histórico – 14 mudas em substituição a espécies secas


 *Mitigação - s.f. Ato, desenvolvimento ou consequência de mitigar e/ou atenuar; aliviamento: mitigação dos efeitos da fome.
Diminuição do mal; alívio; consolação; lenitivo.
pl. mitigações.
(Etm. do latim: mitigatio.onis)
fonte: Dicionário Online de Português 



Atualização em 18/3/2013 - 10h:

Árvores tombadas e clichês em queda livre
(Juremir Machado da Silva - jornal Correio do Povo - em 18 de março de 2013)

– Os ecochatos tentam frear o progresso.

Ainda é comum se ouvir esse clichê na boca de quem imagina combater todos os lugares-comuns deste mundo.

– Por causa de um coruja não se pode tocar uma obra.

Os “progremalas”, xiitas do lucro a qualquer custo, odeiam ser atrapalhados por considerações ecológicas. Continuam a achar que a natureza é um repositório infinito de bens a serem devastados sem qualquer limite.

– A vanguarda do atraso impede o país de crescer.

Essa afirmação é feita em tom solene e, ao mesmo tempo, jocoso por homens que jamais se questionam diante do espelho. É um pessoal que parou no tempo. Uma turma que ainda pratica o capitalismo do século XIX. Se for para crescer economicamente, pode poluir à vontade. Se for para ganhar muito dinheiro, pode desmatar sem constrangimento. Se for para os carros andarem mais rápido, pode derrubar quanto árvores se fizer necessário. A vida desses amantes da motosserra está cada vez mais difícil. O cerco em torno deles não para de se fechar.

Hoje tem audiência pública na Câmara de Vereadores sobre a derrubada das árvores da avenida Edvaldo Pereira Paiva, em Porto Alegre. Por mais algum centímetros de pista para os bólidos dos nossos apressados motoristas, de acordo com o plano de mobilidade para a Copa do Mundo de 2014, mais de cem árvores devem cair. Elas estão marcadas para morrer. Todas assinalada com um “c”. Os comedores de concreto estão dispostos a tudo pelo “progresso”. O que são cem árvores para eles? Árvores, segundo o prefeito, “que ninguém usa”. O importante é ter asfalto novinho para mostrar na próxima visita da Fifa.

– Florestas, bosques, matas, árvores abatidas – diz um personagem, intérprete de “O pato selvagem”, de Ibsen, no clássico “Árvores abatidas” do genial Thomas Bernhard.

Quando os atuais comedores de concreto eram crianças, implicar com os outros, especialmente com os mais fracos, era normal; molestar meninos e meninas era comum e morria no silêncio dos lares com seus segredos letais; não deixar negros entrarem em clubes social fazia parte dos costumes na maioria das nossas cidades; fumar na cara dos outros era charmoso; destruir a natureza era uma obrigação de homens empreendedores, sérios e comprometidos com o futuro. Agora, isso tudo é chamado por seus nomes: bullying, pedofilia, racismo, tabagismo, burrice antiecológica, etc. Há quem sofra terrivelmente com essa nova realidade limitadora dos seus movimentos.

– O politicamente correto nos deixa de mãos amarradas.

Precisamos de mais asfalto ou de mais árvores? Entre mais asfalto e preservação das árvores, o que deve ser prioridade? Um comedor de concreto supostamente com senso de humor, deixando escapar seu racismo, saiu-se com esta:

– Para que tantas árvores se temos poucos macacos.

13 março 2013

Árvores deixam as cidades mais habitáveis

Verdade, "quando o assunto é ecologia as vitórias são passageiras,
as derrotas são definitivas..." como dizia José Lutzenberger

07 março 2013

Logo após o corte de árvores

Vídeo feito por um ciclista logo após o corte de 14 árvores no entorno go Gasômetro, em 6 de fevereiro de 2013. Com a subida em 4 árvores e chamada da Brigada Militar para proteger a integridade física dos jovens que subiram nas árvores o corte foi suspenso pela prefeitura.







Vídeos do ciclista Dudu Pruvinelli

No Blog do IAB/RS:

Árvores exóticas e administradores nativos

Por Tiago Holzmann da Silva*

O paisagismo é a disciplina que trata da organização do espaço aberto constituído por praças, parques, orlas, grandes avenidas. Ao contrário do que muitos imaginam, o paisagismo não se restringe apenas ao trato da vegetação, sendo que esta característica o diferencia da simples jardinagem. O responsável pelo projeto de paisagismo é o arquiteto e urbanista e sua atribuição permite que projete, além da vegetação, pavimentos e caminhos, equipamentos, mobiliário urbano, iluminação e infraestrutura. 
  
Porto Alegre é reconhecida como a capital mais arborizada do Brasil. O paisagismo de nossa cidade é muito diversificado apresentando um amplo conjunto de espécies inseridas em nossas ruas, praças e parques. Além das nativas paineiras, jacarandás, canafístulas, ipês e outras, também adotamos muitas espécies exóticas como plátano (América do Norte), cinamomo (Austrália), flamboyant (Madagascar), a washingtonia (México e Califórnia) palmeira dos canteiros de grandes avenidas como a Osvaldo Aranha e a Getulio Vargas, e espécies orientais de pequeno porte como a extremosa e o ligustro. 
  
A tipuana (Tipuana tipu), espécie cortada para a ampliação da via em frente ao Gasômetro, é uma espécie considerada nativa, de acordo com a bibliografia técnica, do cone sul da América, presente desde a Argentina até a Bolívia. A tipuana é uma das espécies mais utilizadas no paisagismo urbano em todo o mundo devido à características importantes como sua resistência, rápido crescimento, tronco retilíneo, facilidade de condução (podas), sombra farta e floração abundante. Em Porto Alegre, para dar apenas dois exemplos, são as tipuanas que oferecem sombra para o Bric da Redenção e também que configuram o túnel verde da Rua Gonçalo de Carvalho, a “rua mais linda do mundo”. 
  
A justificativa de que a tipuana é exótica e, por isto, merece ser cortada é falsa e está sendo utilizada para desviar o foco principal do debate. O que os administradores nativos precisam esclarecer é se o asfalto e os viadutos são uma prioridade sobre os parques e as praças, uma questão que, desde 1975, já parecia resolvida em Porto Alegre. E se, após uma discussão pública decente, a conclusão de nossos administradores nativos for preponderante, que se cortem as exóticas e também as nativas para que o asfalto e os viadutos possam garantir o direito de ir e vir dos veículos e o livre trânsito das máquinas. Esta é a verdadeira questão em discussão: quem tem prioridade os veículos ou as pessoas?
*Presidente do Instituto dos Arquitetos do Brasil / IAB-RS